Imigração, NATO, Sócrates e Moura Guedes: tudo o que foi dito no debate entre Cotrim de Figueiredo e André Ventura
Candidatos do espaço da direita estiveram frente-a-fente.
O debate à direita começou civilizado, mas à medida que foi progredindo as diferenças entre João Cotrim de Figueiredo e André Ventura foram-se tornando claras. Os dois candidatos, cujas sondagens indicam que têm feito uma campanha em crescendo, começaram por debater questões como a transparência dos candidatos presidenciais, a Lei da Nacionalidade e a posição de Portugal na Europa e na NATO. Com o passar dos minutos e o aquecer dos ânimos, foram recuperando o passado e trocando acusações de "hipocrisia" e "mentiras" de parte a parte, onde nem os nomes de José Sócrates (em quem Ventura negou ter votado) e Manuela Moura Guedes (que Cotrim negou ter despedido da TVI) faltaram.
Os debatentes começaram por comentar a lista de clientes divulgada por Marques Mendes e o desafio feito por este a que os adversários fizessem o mesmo. Ventura começou por afirmar que a transparência "é bem vinda". Disse depois que "não tem nenhuma sociedade" e trabalhou como "colaborador" no passado, acrescentando que as suas ligações "são públicas", e manetve que Marques Mendes é o candidato presidencial "mais condicionado" em relação aos interesses "do sistema" e o "menos transparente".
O candidato apoiado pela Iniciativa Liberal também disse não ter "nada a esconder" e que os seus dados "são públicos, é ir ver" e voltou a instar a importância de Marques Mendes a revelar nomes para quem o social-democrata prestou consultoria, a bem "do esclarecimento dos eleitores".
Questrionados pela moderadora Clara de Sousa sobre se estariam dipostos a suspender os mandatos que atualmente exercem, Cotrim de Figueiredo disse que o faria "com certeza", apesar desse enquadramento não existir no Parlamento Europeu. Ventura afirmou que já pediu a suspensão.
Sobre o chumbo à lei da nacionalidade, o liberal defendeu que uma alteração "é necessária" e referiu dados recentes da AIMA para afirmar que "não sabemos quantas pessoas estão em Portugal". Ainda assim, voltou a criticar a possibilidade de um "braço-de-ferro" com o TC, afirmando que não insistiria em alterações ao código penal.
O candidato do Chega disse que "não vai abdicar" de que quem cometa crimes seja expulso do território nacional. "Vamos insistir no básico, quem vem para Portugal tem de cumprir as nossas regras", disse, criticando ainda o que descreveu como as mudanças de posição de Cotrim ao longo dos anos. Cotrim de Figueiredo acusou o adversário de "descontextualizar" as suas afirmações, e disse que se corre o risco de "não termos lei da nacionalidade" se as posições dos partidos não mudarem.
O debate passou pela política externa e pela nova estratégia de segurança dos EUA. Apoiante de Donald Trump, Ventura não respondeu às preocupações sobre a interferência americana na Europa, dizendo apenas que é preciso "ver o óbvio" e que "a Europa está a ficar inundada de pedidos de asilo". Cotrim questionou o adversário sobre se defende o projeto europeu, e lembrou que Trump "acusa a Europa de coisas bastante graves" e "nota-se" defende "a desintegração" da União Europeia.
Ambos os candidatos afirmaram defender a necessidade de mudança da União Europeia, mas divergiram sobre o conteúdo dessas reformas. "O João defende o acordo com o Merocsul que vai tirar trabalho aos nossos trabalhadores. Defender a Ucrânia isso eu também defendo, agora não quero é mandar os nossos jovens para lá", afirmou Ventura.
Cotrim lembrou que é a própria CAP que defende a entrada em vigor do Mercosul e que Portugal "tem muito a ganhar com isso". E rebateu as afirmações do candidato do Chega sobre a Ucrânia. "Mas há alguém que queira mandar os nosso jovens para a Ucrânia?" sublinhou, afirmando apenas que defende "as obrigações" de Portugal dentro da NATO, acusando o grupo parlamentar europeu do Chega de votar ao lado de Putin.
Ventura recuperou depois as afirmações passadas do oponente, que chegou a afirmar querer afastar-se cedo da política, classificando-o como o candidato "das elites" que "foi viver uma reforma dourada para a Europa" e agora regressa "porque o seu ego é maior".
"Não fui eu que passei de inspetor tributário a dar conselhos a milionários sobre como fugir aos impostos", retorquiu Cotrim de Figueiredo: "Elitismo do meu lado não". A fechar, e olhando diretamente para as câmaras, o liberal apelou ao voto dos apoiantes do Chega e dos "que reconhecem os problemas do sistema", classificando Ventura como "um dos piores que o sistema produziu".
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