Serviço de Utilização Comum dos Hospitais ocultou passivo de 45,5 milhões

Segundo um relatório do Tribunal de Contas, divulgado esta terça-feira, as contas de 2013 e 2014 do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH) revelaram um passivo oculto de 45,5 milhões de euros. Tribunal recomenda saneamento das contas.
Filomena Lança 12 de Janeiro de 2016 às 13:09

No final de 2014 o Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH) tinha capitais próprios negativos de cerca de 36,3 milhões, ou seja, estava em falência técnica, afirma o Tribunal de Contas (TdC) num relatório divulgado esta terça-feira, 12 de Janeiro. Esta situação, contudo, "não foi evidenciada na contabilidade nem nas demonstrações financeiras do SUCH que, para além de não apresentarem de forma verdadeira e apropriada, em todos os aspectos materialmente relevantes, a posição financeira e patrimonial do SUCH, transmitiam informação errada à tutela, às instituições de crédito e aos demais 'stakeholders'".

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Depois de o TdC ter recomendado ao conselho de administração do SUCH, bem como ao Ministério da Saúde, que as contas de 2013 e 2014 fossem corrigidas, estas "revelaram um passivo que estava oculto de cerca de 45,5 milhões" de euros.

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O SUCH presta serviços aos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, os quais são seus associados. Em 2013, diz o TdC, a dívida bancária dos Agrupamentos Complementares de Empresas constituídos pelo SUCH atingiu 42,3 milhões de euros, "em resultado da falência da estratégia concebida e executada pelo SUCH".

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E, nesse mesmo ano, "os centros hospitalares de Lisboa pagaram 100% da dívida bancária do Somos Compras, ACE [detido em 91% pelo SUCH], no montante de 19,3 milhões de euros, apesar de deterem apenas uma participação de 9%", um pagamento que, frisa o TdC, "só foi possível porque os centros hospitalares foram financiados para o efeito, através de verbas do orçamento do SNS".

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Na prática, tratou-se de uma espécie de "empréstimo de longo prazo", com os centros hospitalares de Lisboa a negociarem o direito de regresso sobre o SUCH num período de dez anos. E isto, lê-se no relatório, "em condições que implicaram um perdão de dívida ao SUCH na ordem dos 3,7 milhões de euros". Ao mesmo tempo, a dívida bancária pôde ser renegociada em mais 15 anos.

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16,5 milhões de excedentes devem reverter para cuidados de saúde à população

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Contudo, o "acordo global" celebrado entre os agrupamentos e os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) "não foi objectivo nem transparente, uma vez que o montante oposto no acordo não corresponde ao montante devido pela SPMS, EPE, aos Agrupamentos pela utilização de bens, serviços e pessoas, que nunca foi determinado", vêm agora dizer os auditores do TdC. E a SPMS "dispõe de 16,5 milhões de euros de excedentes de caixa, acumulados em apenas três anos, que provêm de contratos programa celebrados com a Administração Central do Sistema de Saúde em condições que importará aclarar, dado estar-se em presença de recursos financeiros cuja finalidade se deve dirigir à prestação de cuidados de saúde à população".

 

E uma das recomendações finais do TdC vai precisamente para os ministérios das Finanças e da Saúde no sentido de que a tutela assegure que "os excedentes de caixa da SPMS, EPE, com origem no orçamento do Serviço Nacional de Saúde, são utilizados na sua actividade operacional, designadamente de apoio instrumental à prestação de cuidados de saúde às populações e não no serviço de dívida bancária transmitida pelos Agrupamentos Complementares de Empresas".

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Ao conselho de administração do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais, o Tribunal recomenda a "elaboração e execução de um plano de saneamento financeiro".

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