Microsoft corta serviços ao exército israelita após denúncias de vigilância a palestinianos

A decisão da Microsoft surge após pressões internas e denúncias de que a sua tecnologia estaria a apoiar operações militares em Gaza e na Cisjordânia.
Matthias Balk/AP
João Silva Jesus 12:57

A Microsoft anunciou a suspensão de alguns serviços fornecidos ao Ministério da Defesa de Israel, após uma investigação jornalística ter revelado que as suas tecnologias estavam a ser utilizadas para vigiar milhões de palestinianos em Gaza e na Cisjordânia. A decisão marca a primeira vez que uma grande tecnológica norte-americana corta o acesso a serviços do exército israelita desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023.

, a empresa confirmou que encontrou “provas que suportam elementos” da , pela publicação israelita-palestiniana +972 Magazine e pelo portal hebraico Local Call. Os relatórios apontavam que a Unidade 8200, divisão de elite responsável pela inteligência de sinais em Israel, utilizava a plataforma Azure para armazenar e processar dados de chamadas telefónicas obtidas através de programas de vigilância em larga escala.

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Segundo o The Guardian, este sistema permitia à Unidade 8200 recolher, reproduzir e analisar milhões de chamadas de palestinianos por dia. Fontes internas da unidade chegaram a descrever a capacidade do sistema com a expressão “um milhão de chamadas por hora”. A infraestrutura estava alojada em servidores da Microsoft nos Países Baixos e na Irlanda, num repositório que chegou a acumular cerca de 8 mil terabytes de dados. Após a divulgação das denúncias em agosto, Israel terá rapidamente transferido parte da informação para a Amazon Web Services, indicaram fontes citadas pelo jornal britânico.

, presidente da Microsoft, afirmou que a empresa decidiu “cessar e desativar um conjunto de serviços”, incluindo armazenamento em nuvem e tecnologias de inteligência artificial, com base em dois princípios: “não fornecer tecnologia que facilite vigilância em massa de civis” e “respeitar os direitos de privacidade dos clientes”. , Smith sublinhou que a Microsoft aplica estas regras “em todos os países do mundo” há mais de duas décadas.

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A decisão surge também sob forte pressão interna. Grupos de funcionários e ex-funcionários da Microsoft, reunidos sob o movimento “No Azure for Apartheid”, vinham denunciando a colaboração com o exército israelita, tendo chegado a interromper eventos da empresa. Alguns destes .

Para Hossam Nasr, ativista do grupo, citado tanto pelo Financial Times como pela Al Jazeera, esta medida representa “uma vitória sem precedentes”, mas limitada: “A esmagadora maioria do contrato da Microsoft com o exército israelita permanece intacta.” O ativista ainda referiu que a Microsoft continua a ser “o pilar tecnológico para um exército que está a conduzir ”, acusações recusadas por Israel, que voltou a sublinhar que as ofensivas são direcionadas ao Hamas. A Microsoft não se pronunciou sobre a acusação.

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Segundo o The Guardian, a decisão encerra abruptamente um projeto de três anos que teve origem em 2021, após um encontro entre Satya Nadella, presidente executivo da Microsoft, e Yossi Sariel, então comandante da Unidade 8200. Com acesso praticamente ilimitado ao poder computacional da , a unidade construiu um sistema que não só monitorizava comunicações civis, como também apoiava operações militares, incluindo a preparação de bombardeamentos em Gaza.

As revelações intensificaram o escrutínio sobre a dependência das forças armadas israelitas de empresas tecnológicas norte-americanas. Segundo o mesmo jornal, o programa de vigilância da Unidade 8200 foi usado para apoiar ataques aéreos que, segundo dados citados pela investigação, já provocaram mais de 65 mil mortes na Faixa de Gaza, maioritariamente civis, além de terem gerado uma grave crise humanitária.

Apesar do corte, a Microsoft mantém outras áreas de colaboração com Israel. Brad Smith esclareceu que a decisão “não impacta” o trabalho da empresa para garantir a cibersegurança de Israel e de outros países do Médio Oriente.

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