Credores da falida Inapa vão recuperar 42 milhões mas perdem 61 milhões

Descontados os custos da massa insolvente, custos processuais e remuneração do gestor judicial, os credores do antigo colosso português vão recuperar menos de 40% de um total de créditos de 103,2 milhões de euros.
Inapa
Pedro Ferreira
Rui Neves 13:30

Era domingo. Na noite de 21 de julho de 2024, a Inapa, um dos maiores e mais internacionalizados grupos portugueses, com cerca de 1.400 trabalhadores e uma faturação da ordem dos 1.000 milhões de euros, anunciava que iria avançar com um processo de insolvência.

Em causa estava uma "carência de tesouraria de curto prazo" por parte da sua subsidiária alemã, a Inapa Deutschland, no montante de 12 milhões de euros, o que levou a administração do grupo português, então liderada por Frederico Lupi, a pedir um empréstimo de curto prazo aos seus três maiores acionistas – a estatal Parpública (44,89%), a Nova Expressão (10%) e o Novo Banco (6,55%).

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Com o apoio do Ministério das Finanças, a Parpública decidiu chumbar este financiamento. A Inapa entrava em colapso. É que, não obstante as sociedades que integravam o perímetro da IPG fossem independentes do ponto de vista financeiro, acabaram por revelar uma certa dependência entre elas, porquanto no seio do grupo ocorria a prestação de garantias cruzadas a financiamentos e eram consagradas cláusulas "cross-default" nos contratos de financiamento de sociedades do grupo celebrados com as instituições financeiras. 

O grupo não resistiu ao efeito dominó da sua subsidiária alemã, apresentando-se à insolvência com uma dívida de 208,5 milhões de euros, dos quais 69,9 milhões à Inapa France, 22 milhões a entidades sediadas na Alemanha e oito milhões à Inapa España, surgindo também credores bancários como o Novo Banco, o BCP ou a CGD.

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Três meses depois, o administrador de insolvência, Bruno Costa Pereira, com a anuência dos credores, firmava a venda da Inapa France à Japan Pulp and Paper (JPP) por 25 milhões de euros, com o grupo japonês a assumir ainda dívidas de 48 milhões da empresa; e a venda da francesa Inapa Packaging SAS à gaulesa Next Pack por 20 milhões de euros, numa transação que envolveu também a passagem de dívidas de 8,2 milhões de euros.

O grupo japonês ficou, ainda, por um euro, com o Inapa Shared Center, o centro de serviços partilhados localizado em Lisboa.

Já em abril deste ano, os credores da Inapa Portugal aprovaram a venda dos ativos da empresa à Black and Blue Investimentos, “holding” familiar de Carlos Martins, tendo o “chairman” da Martifer ficado também com os da Inapa – Comunicação Visual, assim como de 100% do capital da Inapa Packaging, por um total de 600 mil euros.

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Entretanto, na sequência dos rateios propostos pelo administrador de insolvência, os credores da falida Inapa deverão receber cerca de 42 milhões de euros, confirmou Bruno Costa Pereira ao Negócios.

É o que sobra da venda dos restantes ativos da empresa, após terem sido descontadas todas as despesas da massa insolvente e uma provisão de dois milhões de euros para assegurar os custos até final do processo.

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Relativamente aos maiores credores, regista-se que a empresa de titularização de crédito Hefesto, que comprou ao BCP a dívida da Inapa, vai receber 21,2 milhões de euros de um crédito que totalizava 58,8 milhões de euros.

Já o Novo Banco, que viu ser-lhe reconhecidos créditos de 13,5 milhões de euros, vai recuperar 10,1 milhões, enquanto a Caixa Geral de Depósitos (CGD) irá receber aproximadamente 2,4 milhões face a créditos de 8,3 milhões de euros.

Haverá ainda o rateio final, após o tribunal elaborar a contas de custos, mas, grosso modo, os credores da Inapa vão recuperar menos de 40% de um total de créditos reconhecidos da 103,2 milhões de euros.

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