A Porsche Automobil Holding SE, controlada pelos bilionários da família Porsche-Piëch e acionista de referência da Porsche AG e da Volkswagen AG, vai criar um fundo para investir em empresas do setor da defesa, segundo a Bloomberg.

A holding anunciou esta quarta-feira que a nova plataforma, desenvolvida com parceiros ainda não identificados, terá como alvo startups militares, deixando de exigir que os projetos tenham também aplicações civis.

“O nosso objetivo é aumentar o envolvimento nos setores da defesa e em áreas relacionadas, mantendo o foco na mobilidade e na tecnologia industrial”, afirmou o presidente Hans Dieter Pötsch, citado pela Bloomberg.

A iniciativa surge num contexto de aumento dos orçamentos militares na Europa. Em março, a Porsche SE já tinha indicado estar a avaliar um terceiro investimento âncora a longo prazo no setor da defesa ou em infraestruturas, separado das suas participações na Volkswagen e na Porsche.

De forma independente ao novo fundo, a empresa afirmou estar a analisar investimentos em sistemas de vigilância e reconhecimento por satélite, sistemas de sensores, cibersegurança, logística e abastecimento.

A ligação do grupo ao setor militar é antiga. A Volkswagen mantém uma joint venture com a Rheinmetall AG para fabricar veículos militares e, no ano passado, a Porsche SE investiu dezenas de milhões de euros na fabricante de drones Quantum Systems, de Munique.

Historicamente, o fundador Ferdinand Porsche participou no desenvolvimento de tanques para a Alemanha nazi e concebeu o Volkswagen Beetle, usado como base para veículos militares durante a Segunda Guerra Mundial. A marca também produziu o Volkswagen Type 181 para o Exército da Alemanha Ocidental, mais tarde vendido no Reino Unido e nos EUA.

Paralelamente, a Porsche SE reduziu a previsão de lucro ajustado após impostos para pelo menos 1,6 mil milhões de euros, face aos 2,4 mil milhões anteriormente estimados, devido à quebra nas receitas da Porsche AG e da Volkswagen AG.

O novo investimento na área da defesa surge num momento de reestruturação interna no grupo. Em fevereiro, a Porsche AG anunciou um plano para cortar 1.900 postos de trabalho na Alemanha, cerca de 4,5% da sua força laboral global, devido à quebra nas vendas e à transição difícil para veículos elétricos. A medida, que afeta duas unidades perto de Estugarda, insere-se no contexto de um setor automóvel europeu em crise, pressionado pela concorrência chinesa e pelo aumento dos custos de produção.