Reconexão de linhas elétricas à rede por ordem da REE pode estar na origem do apagão
Responsável pela investigação internacional ao apagão de 28 de abril em Portugal e Espanha, a ENTSO-E - rede europeia que coordena os operadores de transporte de eletricidade, incluindo a REN e a Red Eléctrica Española – revelou no seu mais recente relatório sobre o evento que a REE levou a cabo uma religação interna de linhas elétricas à rede nacional nas regiões já identificadas como estando na origem dos problemas de tensão (o chamado “ponto zero”).
Isto terá acontecido muito pouco antes do colapso do sistema elétrico ibérico, o que pode ter contribuído para agravar a situação de sobretensão que já afetava as redes naquele momento, avança o El Economista esta quarta-feira.
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Em Portugal, tanto a E-Redes como a REN já apresentaram à ERSE os seus relatórios finais sobre o apagão, não sendo conhecidas ainda as conclusões apresentadas pelos operadores das redes de distribuição e de transporte de eletricidade. Em Espanha, a REE ter-se-à oposto a que a sua congénere portuguesa revelasse já as informações de que dispõe, sabe o Negócios.
De acordo com a ENTSO-E, que lançou entretanto um site dedicado apenas ao dados já conhecidos sobre o apagão, todas as informações publicadas até o momento baseiam-se nas conclusões preliminares do painel de peritos internacionais criado para a investigação.
“Descobertas preliminares indicam que, durante a meia hora anterior ao apagão, dois períodos de oscilações (de potência e frequência) foram observados na Área Síncrona da Europa Continental”, refere a rede de operadores. A primeira ocorreu entre as 11h03 e as 11h07 (hora portuguesa), tratando-se de uma “oscilação local, afetando principalmente os sistemas elétricos espanhol e português”.
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Depois disso, a segunda oscilação teve início às 11h16 e estendeu-se até às 11h22. “Tratou-se de uma oscilação entre zonas, e foi efetivamente mitigada por medidas de compensação, que reduziram os fluxos de energia entre França e Espanha, incluindo a religação interna de linhas de energia no sul da Espanha”, explica a ENTSO-E. Ao que o Negócios pode apurar, tratam-se de linhas internas nas regiões de Sevilha, Granada e Badajoz, que tinham sido desconectadas previamente da rede devido a uma menor exigência do lado do consumo.
Nesse momento, a interligação entre Espanha e França passou por uma mudança no modo de operação, passando de um sistema de corrente contínua para um modo de operação fixo, exportando 1.000 MW. Aqui, o operador do sistema superou as flutuações iniciais, mas ficou sem margem para novas ações e sem o apoio que o sistema europeu poderia fornecer devido à falta de energia síncrona para equilibrá-lo, se necessário, escreve o El Economista.
“Após a segunda oscilação, a tensão permaneceu na faixa de 390–420 kV, antes de aumentar novamente, mas ainda dentro da faixa de tensão operacional na rede de transmissão. Naquele momento, as trocas internacionais programadas da Espanha – todas na direção da exportação – eram de 1.000 MW para a França, 2.000 MW para Portugal e 800 MW para o Marrocos”, refere a análise preliminar.
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De seguida, às 11h33 “foram observados disparos de geração no sul de Espanha, totalizando uma estimativa inicial de 2.200 MW. Não foram observados disparos de geração em Portugal e França nesse período. Como resultado desses eventos, observou-se um aumento de tensão em Espanha, levando a um aumento semelhante também em Portugal, e a frequência diminuiu”, continua a cronologia. O que se seguiu foi o colapso das redes e um apagão que durou mais de 12 horas nos dois países.
Agora, seis semanas após o início da investigação, a ENTSO-E revelou que, mesmo antes do apagão, a REE decidiu reconectar linhas à rede no sul da Espanha , o epicentro do apagão. Essas conexões, segundo especialistas ouvidos pelo El Economista, podem ter provocado aumentos de tensão acima das faixas esperadas e disparado os primeiros surtos nas proteções das centrais de produção renovável.
O relatório final da ENTSO-E sobre o apagão só deverá ficar pronto em setembro de 2026, mas a ministra do Ambiente e Energia, Graça Carvalho, já pediu à ENTSO-E que apresse o processo e tenha as conclusões prontas em seis meses.
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