Preços da habitação: "É difícil imaginar que haja uma grande alteração da tendência"
O diretor da Confidencial Imobiliário alerta que as cidades periféricas vão ser "o motor da valorização" das casas, numa altura em que os preços elevados já se sentem além de Lisboa e Porto.
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Que os preços da habitação não param de crescer já não é novidade, mas o diretor da Confidencial Imobiliário - empresa especializada em recolha, tratamento e divulgação de informação relativa ao mercado imobiliário - assegura que a tendência veio para ficar, pelo menos a curto prazo.
Os dados do Instituto Nacional de Estatística mostram um aumento anual de 19% nos preços do segundo trimestre, e o índice da Confidencial Imobiliário já mostra uma subida de 23% em setembro. "Os dados para o terceiro trimestre são de aceleração e realmente o que nós já publicámos foi uma variação anual recorde nos últimos 40 anos", diz Ricardo Guimarães, em entrevista no programa do Negócios no canal NOW.
Guimarães frisa que "nunca houve uma evolução como esta que agora se observa", sendo que "num futuro próximo é um pouco difícil imaginar que haja uma grande alteração da tendência". Pelo menos se os fatores que sustentam este resultado não se alterarem: grande pressão de procura, auxiliada pela descida das taxas de juro, aliada à falta de oferta e elevados custos de construção.
Tendo em conta este contexto, diretor da Confidencial Imobiliário considera "quase impossível a promoção imobiliária lançar para o mercado o que se entende por habitação acessível".
Os dados do INE mostram que não é só em Lisboa e no Porto que a pressão dos preços se faz sentir: em 47 concelhos o valor mediano por metro quadrado já supera a fasquia dos dois mil euros - em junho de 2024 eram apenas 33. Tendo em conta uma habitação com 100 metros quadrados, a média em Portugal, o valor a pagar supera já os 200 mil euros em concelhos como Montijo, Barreiro, Seixal e Setúbal.
Ricardo Guimarães explica que desde a pandemia que "os motores da valorização [das casas] são precisamente essas cidades periféricas e progressivamente as cidades de segunda e de terceira linha em temas geográficos" e que "essa tendência vai-se manter".
O diretor da Confidencial Imobiliário diz que há formas de baixar o preço da construção e "mexer em muitos fatores que estão na base dos custos" - além do IVA, deve-se apostar na simplificação administrativa, aumentar a bolsa da oferta de solos, reduzir taxas urbanísticas -, mas alerta que "o imobiliário tem sido uma grande fonte de receita fiscal".
"Também há aqui algum paradoxo entre uma grande tensão do ponto de vista do acesso à habitação e o impacto social que o aumento dos preços tem, e uma total incapacidade de perceber que o Estado central e as autarquias têm sido grandes beneficiárias do aumento da receita que o imobiliário tem gerado. Portanto, esta escalada dos preços também tem-se traduzido numa escalada da coleta e os sinais de abandonamento desse efeito de pressão não são muito fortes", comenta.
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