Crise em França "pode ter um impacto positivo na economia portuguesa"

No primeiro semestre deste ano, Portugal exportou 7,7 mil milhões de euros em bens e serviços para França, segundo dados do Banco de Portugal (BdP). Em comparação com o ano passado, as exportações portuguesas para o mercado francês cresceram, muito ligeiramente, 0,3%. No entanto, a mais recente crise política em França, o crescimento anémico da sua economia e o forte desequilíbrio das contas públicas, arrisca penalizar o impacto direto de França na economia portuguesa. No entanto, para Hermano Rodrigues, diretor da consultora EY-Parthenon, o impacto será "moderado".

"Se efetivamente esta crise, diria, financeira, não escalar de uma forma significativa na Europa, penso que os impactos na economia portuguesa não são muito significativos. É verdade que a França é o terceiro principal país de destino das exportações portuguesas, mas a uma distância muito significativa de Espanha e da Alemanha. Representa qualquer coisa em torno dos 9%. E, portanto, a realidade atual penso que, neste momento, não é extremamente perigosa para a economia portuguesa e os indicadores vão mostrando que a economia portuguesa está relativamente resiliente em relação ao mercado francês", defende em entrevista ao Negócios no NOW.

Automóvel, mobiliário, têxtil e produtos agrícolas são dos setores mais expostos ao mercado francês. Contudo, as sucessivas crises políticas gaulesas abalam, mas não assustam o tecido empresarial português. Por outro lado, França tem reforçado a sua posição na economia portuguesa com a abertura de mais empresas em Portugal (ou entrada no capital de empresas nacionais) e a contratação de mais trabalhadores. Mais de uma em cada dez multinacionais no país são de origem francesa e os gauleses são responsáveis por empregar diretamente mais de 120 mil trabalhadores em Portugal.

Para Hermano Rodrigues a crise francesa pode ser uma oportunidade para Portugal. "Esta realidade de crise potencial ou crise mais ou menos evidente no mercado francês pode até ter um impacto positivo na economia portuguesa, porque o facto do posicionamento competitivo francês não ser brilhante já desde longa data, e estar agora mais pressionado até pelo custo do endividamento, pode deslocalizar investimento da economia francesa para outras economias. E penso que aí, nesse processo, Portugal pode estar numa boa posição para conseguir, de facto, atrair e captar novo investimento francês para Portugal", refere.