“Estaleiros eram um ativo tóxico, hoje são muito apetecíveis. Vamos ao novo concurso para ganhar”, diz a Lisnave
Nascida de um MBO no ano 2000, tendo sido adquirida ao grupo José de Mello por dois dólares pela Navivessel, que ainda é controlada (72,8%) pelas famílias de José Rodrigues e Nélson Rodrigues, a Lisnave renasceu, mas ainda demorou a entrar em terreno positivo.
“Só saiu do vermelho em 2003”, recordou Luís Braga, diretor comercial da Lisnave, esta quarta-feira, 24 de setembro, na Porto Maritime Week, organizada pelo Transportes & Negócios.
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Desde então, a atual concessionária dos estaleiros navais da Mitrena, em Setúbal, só registou prejuízos em 2019, tendo obtido um resultado positivo “recorde” de 15,9 milhões de euros em 2023, realçou o mesmo gestor.
Entretanto, como o prazo de concessão dos estaleiros expira no dia 31 de julho de 2027, a Lisnave apresentou em dezembro de 2022 ao Governo um pedido de extensão do prazo, “desejavelmente 50 anos, mas nunca inferior a 30 anos”, o período que entendia necessário para amortizar o investimento de 200 milhões de euros que queria realizar nos primeiros 10 anos da prorrogação.
Mas o Ministério da Economia, que tem ainda a tutela dos estaleiros, pediu um parecer ao conselho consultivo da Procuradoria-Geral da República (PGR), cuja resposta, dada em julho de 2023, foi negativo, pelo que o Governo decidiu lançar um concurso internacional para a nova concessão.
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Um concurso que está não só a atrair a atenção de grupos portugueses, mas também internacionais, designadamente da Turquia e da China. Ainda recentemente, o Negócios noticiou que grupos turcos com atividades ligadas à construção naval, mas também à metalomecânica pesada e à indústria de defesa, já visitaram o local e querem conhecer e estudar o modelo e as regras da concessão.
Também um grupo chinês ligado a parques eólicos já se estará a posicionar para esta concessão, assim como a Martifer, que, sabe o Negócios, já fez chegar formalmente o seu interesse nesta matéria ao Governo.
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O grupo de Oliveira de Frades, que neste momento não tem mãos a medir para as encomendas nos estaleiros navais de Viana do Castelo, assumiu já, através de fonte oficial, que “tem interesse em avaliar essa oportunidade, quando for lançado o concurso da concessão e o caderno de encargos”.
Também Mário Ferreira, dono da Douro Azul e o maior acionista da TVI/CNN Portugal, já assumiu publicamente estar interessado em entrar numa solução para recuperar os estaleiros navais de Setúbal para a construção de navios fluviais, oceânicos e de uso militar.
Confrontado com os múltiplos interessados na nova concessão, Luís Braga disparou, com alguma ironia à mistura: “Uns estaleiros que eram considerados um ativo tóxico, hoje são muito apetecíveis.”
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“Vai haver novo concurso e nós vamos estar lá para concorrer. E esperamos ganhar”, afirmou o diretor comercial da Lisnave, que não acredita que o concurso seja lançado no prazo previsto – “não será em 2027. Não haverá tempo para preparar tudo até ao final da concessão”, considerou.
Luís Braga confirmou, por outro lado, que a intenção da empresa é expandir a sua atividade para a construção naval, uma vez que o contrato de concessão atual não o permite.
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“A Lisnave não constrói porque não pode – o contrato não o permite. Quando o estaleiro foi construído foi para reparação e construção, mas a construção tornou-se inviável devido à concorrência do Oriente”, explicou.
No entanto, num novo contrato de concessão, “a construção fará parte do nosso leque de atividades”, rematou.
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