pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Notícias em Destaque

Sozinhos na multidão

Em análise, os resultados de um estudo etnográfico verdadeiramente fascinante.

20 de Janeiro de 2011 às 14:21

Para a investigadora do MIT que, há três décadas, estuda as interacções entre tecnologia e humanos, o optimismo que se vivia na década de 80 transformou-se agora em preocupação. No seu último livro, que fecha uma trilogia, e com base em centenas de entrevistas, Sherry Turkle assume a sua ambivalência no que respeita aos excessos da utilização da tecnologia que, como escreve “se insinua, cada vez mais, como a arquitecta da nossa intimidade”. Em análise, os resultados de um estudo etnográfico verdadeiramente fascinante.

“A tecnologia é sedutora quando oferece algo que vai ao encontro das vulnerabilidades humanas. E, na verdade, todos somos vulneráveis. Sentimo-nos sozinhos mas temerosos da nossa intimidade… A nossa vida, em constante conectividade, permite-nos esconder uns dos outros, mesmo que estejamos amarrados uns aos outros. Preferimos enviar mensagens do que conversar”.

Esta é um excerto, traduzido livremente, da primeira página do livro Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other, que marca uma trilogia iniciada há quase 30 anos. Sherry Turkle, a autora, psicóloga clínica de formação, desde a década de 70 que, no MIT, estuda a forma como os humanos interagem com os computadores e com a inteligência artificial. A fundadora e directora da iniciativa do MIT denominada Technology and Self, retrata a viagem que iniciou há três décadas, com pleno optimismo e que culmina agora com uma preocupação legítima: cada vez esperamos e exigimos mais da tecnologia e, em simultâneo, somos cada vez menos exigentes no que respeita aos nossos relacionamentos. Este terceiro livro resulta de um estudo etnográfico, feito ao longo de 15 anos e com base em largas centenas de entrevistas e experiências com crianças, jovens e adultos. E vale a pena seguir a viagem de Turkle e perceber por que motivo o seu optimismo, patente na década de 80, se transformou agora em preocupação.

O primeiro livro de Sherry Turkle, sobre “computadores e pessoas” foi publicado em 1984 e intitulava-se The Second Self, no qual a autora encarava já a tecnologia não somente como uma ferramenta, mas como parte das nossas vidas sociais e psicológicas. Ao longo de anos de investigação, Turkle foi alterando o seu enfoque, substituindo o relacionamento “um-para-um” existente entre os computadores e os indivíduos pelo papel que os primeiros tinham em moldar os relacionamentos entre as pessoas. E é assim que surge, em 1995, o livro Life on the Screen que se debruçava sobre “as novas oportunidades de explorar as identidades online”. Nessa altura, Turtle era admiradora confessa dos espaços fornecidos pelos ambientes online, especialmente aos jovens, que serviam de terreno para experimentação de outras identidades e, segundo acreditava, ajudaria no processo de se definir aquela que seria a mais verdadeira. E, por fim e 15 anos mais tarde, surge o seu terceiro trabalho, no qual é expressa uma preocupação crescente de que os computadores, em vez de se tornarem catalisadores para se repensar a identidade, surgem antes como os responsáveis por abalar, de forma significativa, a nossa capacidade de nos relacionarmos, com significado, uns com os outros.

A literatura sobre as relações existentes entre os humanos e a tecnologia tem sido fértil nos últimos anos. Mas a forma como Turkle retrata o nosso relacionamento com as tecnologias é fascinante e, espera-se, irá gerar não só controvérsia no meio digital, como, e segundo as expectativas da autora, obrigar a um debate conjunto e a uma reflexão pessoal: afinal, e como afirma “estamos a utilizar objectos inanimados para nos convencermos que, mesmo sós, estamos juntos e, quando estamos com outras pessoas, somos os primeiros a colocarmo-nos em situações nas quais nos sentimos sós – e constantemente dependentes dos nossos dispositivos móveis”.

Clique aqui para ler o resto do artigo

Ver comentários
Publicidade
C•Studio