Governo e ANA "surpresos" com saída da Ryanair dos Açores
O Ministério das Infraestruturas e a ANA negam que as taxas sejam justificação para a saída da Ryanair dos Açores, até porque estas se mantiveram inalteradas em 2025 e não vão subir no próximo ano.
O Governo e a ANA Aeroportos manifestaram-se "surpresos" com a intenção da Ryanair em abandonar os Açores, admitindo que a companhia irlandesa "low-cost" não está a ser consistente com as últimas conversas que teve com as duas partes. Esta manhã, a companhia liderada por Michael O'Leary acusa a ANA de fazer "monopólio" e critica a "inação" do Governo português.
Agora, e em resposta às críticas da empresa, que admite cancelar todos os voos com origem ou destino para os Açores a partir de 29 de março do próximo ano, o Governo expressa "surpresa face às afirmações transmitidas pela companhia aérea" e vem esclarecer que a "taxa de rota aplicada aos Açores é a mais baixa da Europa e que a taxa de terminal se situa entre as mais reduzidas".
O Ministério das Infraestruturas, liderado por Miguel Pinto Luz, adianta ainda que as taxas de navegação aérea, cobradas pela NAV, são calculadas tendo em conta um mecanismo comum a todos os Estados-membros. "Note-se ainda que a taxa de terminal tem registado uma trajetória descendente desde 2023, passando de aproximadamente 180 euros para os atuais 163 euros", explica a tutela em comunicado.
Também a concessária dos aeroportos, onde se inclui o de Ponta Delgada, diz que a declaração da Ryanair é surpreendente, uma vez que "as recentes conversas com a companhia irlandesa são orientadas no sentido de aumentar, e não reduzir, a sua oferta de voos para Ponta Delgada".
Em setembro, o presidente da Ryanair dizia em entrevista ao Negócios que o objetivo da companhia era reabrir a base em Ponta Delgada, tanto que o pedido tinha sido enviado no início do ano ao Governo, embora até à data em questão não tenha obtido resposta.
Sobre as taxas da ANA, o Governo e a gestora dos aeroportos nacionais recordam que estas são "as mais baixas da rede" e que se mantiveram inalteradas este ano, além de não ter sido proposto qualquer aumento para o próximo ano. "A proposta de taxas reguladas para 2026 não prevê qualquer aumento face a 2025, mantendo-se nos 8,14 euros por passageiro desde 2024, o que coloca Portugal entre os países com taxas aeroportuárias mais competitivas da Europa", reitera a tutela, com a ANA a sustentar que as taxas "não podem justificar a mudança de posição da companhia".
O Ministério das Infraestruturas recorda ainda que "a Ryanair sempre contou com apoio e valorização por parte do país à sua operação nos Açores, o que se refletiu em dezenas de milhões de euros em incentivos ao tráfego atribuídos ao longo dos últimos anos através de diversos programas", em linha com o empenho em manter a conectividade aérea à região autónoma.
As duas entidades mostram-se "em colaboração estreita" com o Executivo açoriano e as entidades do turismo "para assegurar a melhor conectividade aérea de e para os Açores", com todos os operadores, incluindo a Ryanair. A ANA lembra ainda que as "rotas operadas pela Ryanair [de Ponta Delgada a Lisboa e Porto] são também operadas pela SATA e pela TAP".
Já o Governo adianta que os Açores se continuam a afirmar "como um destino de excelência", tanto que 2025 está a ser considerado "um ano de ouro com as receitas do turismo a crescer 10% no primeiro semestre, face ao período homólogo e com um um aumento consistente do número de passageiros, refletindo a competitividade e atratividade da região".
Assim, "o conteúdo do comunicado da Ryanair não pode ser considerado condicente com o crescimento do turismo, com as taxas praticadas ou com os apoios atribuídos a esta companhia ao longo dos últimos anos", considera o Ministério das Infraestruturas no mesmo comunicado. Já a ANA admite manter-se aberto ao diálogo com a companhia irlandesa para identificar a mudança de posicionamento.
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