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Adolfo Mesquita Nunes: A formação da opinião está a ser comandada por algoritmos

O livro "Algoritmocracia", o advogado aborda o tema de como a inteligência artificial (IA) está a transformar as democracias.

Adolfo Mesquita Nunes é autor do livro 'Algoritmocracia',
Adolfo Mesquita Nunes é autor do livro "Algoritmocracia",
09:45

O advogado Adolfo Mesquita Nunes afirma, em entrevista à Lusa, que o processo de formação de opinião já não está a ser mediado por jornais, televisão ou amigos, mas por algoritmos, ou seja, tornou-se mais passivo.

O livro "Algoritmocracia", onde aborda o tema de como a inteligência artificial (IA) está a transformar as democracias, surgiu da constatação da situação política atual, diz o autor.

"A política está bastante mais polarizada, mais radicalizada, mais binária, maniqueísta, em que o espaço da moderação se está a encolher e que os populistas estão a ganhar muita força eleitoral, quando não mesmo a ganhar eleições", afirma.

Nesse contexto, investigou por que é que isto está a acontecer um pouco por toda a Europa, incluindo no seu espaço político, da direita e centro-direita, e chegou à conclusão de que o ecossistema algorítmico ajuda a explicar muito desse diagnóstico: "o livro resulta dessa reflexão".

"É importante percebermos que temos qualquer coisa de novo entre mãos e refletirmos sobre isso", uma vez que "a porta de entrada no mundo", o processo de formação de opinião sobre as coisas é "já mais passivo que ativo", afirma Adolfo Mesquita Nunes.

Antes, "comprávamos um jornal, víamos um telejornal, procurávamos informação. Hoje elas chegam-nos todos os dias, mesmo em conteúdos que não são informativos", em vídeos, paródias ou artigos, entre outros, explica.

A forma como esses artigos e vídeos nos chegam não é aleatória: "está programada através de algoritmos que definem para cada um de nós que vídeos vamos ver, que vídeos não vamos ver", por que ordem e a que horas e esse é um ponto de partida "importante para esta reflexão", adverte o advogado.

"É percebermos que há qualquer estrutura que não conhecemos, que nós nunca pedimos, que nós não sabemos quem controla, que nós nunca definimos, que nós nunca personalizamos e que nos diz exatamente que vídeos é que vamos ver, que artigos é que vamos ler, quando e onde", constata o sócio da área de Direito Público na sociedade de advogados Pérez-Llorca.

"Isto significa que estamos a ter um processo de formação da nossa opinião que está a ser mediada não por jornais, televisão, professores, ou amigos, mas por algoritmos", aponta.

Antes, "podíamos criticar os professores, os jornalistas, escolher outro jornal, podíamos procurar contrapor com as escolhas editoriais que estavam a ser feitas", mas agora nada disto acontece, afirma, para concluir que hoje já não há forma de o fazer.

"Se quisermos contrapor o algoritmo, não temos como, se quisermos saber como é que ele funciona, não temos como, se quisermos saber por que é que ele nos deu um vídeo e não outro, não temos como", adverte.

Por exemplo, "se nos dissessem que o governo todos os dias escolhia as notícias que líamos e (...) que não líamos, os vídeos que víamos e os que não víamos (...) e se coubesse ao governo escolher a informação que não nos chegava ao telemóvel, íamos achar que era uma autocracia", diz.

"Pois bem, é isso que acontece: não é o governo, mas são os algoritmos", remata Adolfo Mesquita Nunes.

"Há uma estrutura algorítmica que é determinante para aquilo que nós vemos e, portanto, também para o nosso processo de formação de opinião", afirma, explicando que os estudos mostram que a natureza humana é muito sensível a determinado tipo de conteúdos.

É este processo que, segundo Mesquita Nunes, "vai lentamente formando a nossa opinião, condicionando-nos e empurrando-nos para determinadas ideias. Não há ninguém por detrás - e é importante dizer isto - não há propriamente uma estrutura que quer que o Adolfo pense A e que o António pense B", ressalta.

Os algoritmos não pretendem convencer de nada, apenas querem ganhar a atenção pois quanto mais tempo 'online', mais dinheiro.

Estes "também são planeados e pensados por cientistas que conhecem bem o funcionamento do cérebro" e os humanos são "especialmente ativados e atraídos por aquilo que choca", que não compreendem, que mete medo, indigna ou faz sentir ressentimento, explica.

"Isto não significa que não estejam em nós, independentemente dos algoritmos, as emoções, os preconceitos, as perceções", mas "não há dúvida nenhuma de que os algoritmos permitem intensificar tudo isto, até de forma desproporcional", enfatiza o ex-secretário de Estado.

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