“Portugal será, no essencial, o que é e o que quiser ser. O sucesso que Portugal tem, a estabilidade dos seus fundamentos”, afirmou Paulo Portas, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, acrescentando que “tomara que muitos países tenham o sucesso que Portugal tem e a previsibilidade que Portugal tem.” Destacou também, na conferência “Portugal Investment by Global Citizens”, organizada pelo Bison Bank, com o Jornal de Negócios como media partner, a transformação notável do país. “Portugal teve uma crise financeira duríssima ligada à nossa dívida pública em 2011. Foi a terceira vez, desde o 25 de abril, que se chamou o FMI. Lembram-se de quando a dívida pública representava 137% do PIB? Não foi no século passado. Foi apenas na década passada”, frisou Paulo Portas.
Segundo projeções do FMI, “em 2030, Portugal terá 77% do seu PIB em dívida pública”, enquanto os Estados Unidos atingirão 143%, a França 116% e a Itália manterá os 138%. “No próximo ano, Portugal terá uma dívida pública, pela primeira vez, inferior à média das dívidas públicas da Zona Euro. Em si mesmo, é um facto histórico.”
O analista identificou fatores de estabilidade que diferenciam Portugal. “Somos o Estado-nação de fronteiras estáveis mais antigo da Europa, a par da Dinamarca. Sem divisões tribais relevantes. Sem questões linguísticas relevantes. Sem questões étnicas relevantes. Sem questões separatistas relevantes. Comparem-se com os outros 27.”
Outra vantagem crucial identificada por Paulo Portas foi que “há poucos, muito poucos países na Europa que conheçam, que tenham uma rede de relações e conhecimento de África, da América Latina e da Ásia. Isto continuará a existir. A capacidade de relação de Portugal com o mundo é excecional dentro da Europa.”
Os quatro desafios estruturais
Paulo Portas alertou para problemas que “só podem ser resolvidos com compromisso entre quem pode governar hoje e quem pode governar amanhã”, exigindo “constância”, porque “nenhum dos problemas se resolve à meia-noite”.
Na demografia “temos 47 anos de idade mediana como povo. Somos o terceiro país a envelhecer mais na Europa, depois da Itália e da Bulgária.” Sobre imigração, foi claro: “Não acreditem em quem vos diz que a imigração resolve tudo. E não acreditem em quem vos diz que sem a imigração conseguimos resolver o défice demográfico. Temos uma opção entre imigração regulada e não regulada. Pessoalmente, prefiro imigração regulada.”
Na produtividade “temos um duplo défice. Portugal tem 75% da produtividade por hora trabalhada da União Europeia. A União Europeia tem 80% da produtividade dos Estados Unidos. Se não tivermos ganhos significativos em produtividade, os salários médios e líquidos não devem subir.”
Na inovação “precisamos de uma década de investimento, do setor privado e do setor público, em investigação e desenvolvimento. A Europa saiu do pódio da inovação em 2016, quando a China ultrapassou a Europa. Os Estados Unidos investem 3,6% do PIB, o Japão 3,4%, a China 2,6%. Estamos no meio da tabela.”
Na água “se tivesse de imaginar um problema para Portugal nos próximos 20 anos, seria a dificuldade de acesso à água. Temos uma percentagem significativa do nosso território em seca. Temos de atacar a deterioração das infraestruturas e encontrar uma regra consensual para o reequilíbrio entre quem tem mais e quem tem menos água.”
“Se pudermos ser uma sociedade não só em crescimento, mas mais jovem, mais produtiva, mais inovadora, tenho a certeza de que chegaremos às ambições que outros tiveram e não conseguiram realizar”, concluiu Paulo Portas.