Ações nacionais: A bolsa de Lisboa vale a pena?
Nos últimos anos, o desempenho da bolsa nacional foi claramente negativo. Aliás, o índice PSI-20 fixou no dia 27 de junho, um novo mínimo desde março de 1996, já lá vão mais de 20 anos.
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Durante este longo período, o primeiro grande abalo surgiu no início do milénio devido ao rebentamento da bolha tecnológica. Contudo, essa foi uma crise transversal a todas as bolsas mundiais e acabou por ser dissipada, com a praça lisboeta a atingir, em meados de 2007, valores próximos do máximo histórico de março de 2000.
O segundo terramoto surgiu em 2007/2008, com a crise do "subprime" nos Estados Unidos a dar origem à crise financeira de 2008. E, desta vez, as consequências para a economia nacional foram mais nefastas e duradouras, já que, em 2011, Portugal foi obrigado a pedir ajuda externa para evitar a bancarrota. A este cenário, juntou-se, em 2014, o desmoronamento do BES e da Portugal Telecom, dois títulos emblemáticos da bolsa nacional.
PSI20: quem o viu e quem o vê
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Um exemplo elucidativo da lenta destruição de que a bolsa de Lisboa tem sido alvo nos últimos anos é o PSI-20, que é a sua principal referência. Se olharmos para a composição deste índice em meados de 2000, verificamos que 6 das 10 empresas com maior peso já desapareceram da bolsa (BES, Telecel, Cimpor, Brisa e Modelo Continente) ou foram "desmanteladas" (Pharol: ex-Portugal Telecom). E, apesar de atualmente estarem cotadas outras também importantes, caso da Galp Energia, CTT e REN, a comparação é desfavorável.
Além disso, o atual PSI-20, cuja última revisão ocorreu em março, há apenas 3 meses, é constituído somente por 18 títulos, sendo que um deles nem sequer é uma ação (unidades de participação do Montepio), e não por 20 empresas como era suposto. De facto, as outras não cumprem os requisitos necessários para o integrar, nomeadamente quanto à capitalização bolsista (valor global da empresa em bolsa), volume de transação e free-float (percentagem de ações disponíveis para negociação em bolsa).
Em busca da confiança perdida
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O resgate a que Portugal foi sujeito em 2011 e o escândalo do BES em 2014, que ajudou a arrastar para a "lama" também a Portugal Telecom, minaram a confiança dos investidores no mercado nacional. E, quando falamos de mercados financeiros, a confiança é fundamental, sobretudo numa bolsa tão periférica como a de Lisboa.
Desde sempre se notou que a entrada/saída de investidores estrangeiros da praça nacional tem um papel muito importante na evolução das cotações. Com efeito, a reduzida dimensão do mercado e, consequentemente a sua baixa liquidez, leva a que quando há investidores de maior dimensão a entrar ou sair do mercado, isso tenha um impacte relevante na subida ou descida do mercado na sua globalidade. Logo, para uma subida mais sustentada e duradoura da bolsa de Lisboa é importante que a economia nacional retome o caminho do crescimento económico e que a sua imagem seja melhorada. Só assim será restaurada a confiança dos investidores que permitirá que voltem a investir em força no mercado nacional.
Seletividade é fundamental
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Perante este cenário, ser seletivo na escolha das empresas onde investir é ainda mais importante. Apesar das quedas recorrentes dos últimos anos, houve empresas nacionais que deram um bom rendimento aos seus acionistas. Um caso paradigmático é o da Corticeira Amorim que, desde junho de 2007 a junho de 2016 (período em que esteve várias vezes com conselho de compra), deu um retorno acumulado (incluindo reinvestimento dos dividendos) de 467,1% contra uma variação negativa de -53,2% do PSI-20 no mesmo período.
Mas há outros exemplos de empresas que ofereceram um rendimento positivo neste período de 9 anos. São os casos, entre outras, da Jerónimo Martins (+291,9%), da Galp Energia (+56,7%) ou da EDP (+13,2%). Logo, mesmo em mercados deprimidos, é possível encontrar bons investimentos embora se deva ter cuidados redobrados.
7 ações de compra
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Apesar das quedas dos últimos anos, a bolsa de Lisboa está corretamente avaliada. Porém, há empresas que, sobretudo devido à desvalorização que sofreram, estão baratas e constituem uma boa oportunidade de investimento numa ótica de longo prazo (mínimo de 5 anos), como aliás, deve ser feito qualquer investimento em bolsa.
Das 27 ações nacionais que a PROTESTE INVESTE segue diariamente, 7 têm conselho de compra, embora com níveis de risco diferentes. Os CTT e a REN são as menos arriscadas (risco 2) e as únicas que integram a carteira de ações PROTESTE INVESTE. Com um nível de risco intermédio (3), aconselhamos a compra da EDP, da Galp, da Novabase e da Sonae. Por fim, recomendamos ainda a Impresa mas apenas para quem aceitar um nível de risco superior (4). As cotações são do dia 7 de julho.
De realçar ainda que a escolha dos títulos a adquirir deve ser sempre feita no âmbito mais alargado de uma carteira de ações diversificada por vários setores de atividade e mercados geográficos. Logo, a não ser que tenha uma carteira com dezenas de empresas diferentes (o que não aconselhamos porque é muito difícil de gerir), não deverá comprar em simultâneo estas 7 ações, já que isso lhe daria uma exposição demasiado elevada ao mercado nacional que, atualmente, só representa 5 a 10% das nossas carteiras de fundos de investimento.
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Outra alternativa para estar exposto ao mercado bolsista nacional é adquirir o fundo de investimento BPI Portugal, que atualmente é o único dedicado à bolsa de Lisboa que merece conselho de compra.
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As 7 ações
• CTT
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Setor Serviços postais
Cotação 6,81 EUR
Risco 2
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Apesar do declínio estrutural do seu negócio tradicional, o correio, os CTT são uma empresa muito sólida financeiramente e que goza de boas perspetivas de crescimento na área dos serviços financeiros, onde lançou recentemente o Banco Postal. A empresa deverá beneficiar também da melhoria da sua eficiência e distribui um dos dividendos mais atrativos da bolsa de Lisboa. Aproveite a queda da cotação para comprar este título cujo risco é diminuto.
• EDP
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Setor Energia e serviços públicos
Cotação 2,75 EUR
Risco 3
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Comprar
A maior elétrica nacional é uma empresa que combina um perfil de risco moderado com boas perspetivas de crescimento, sobretudo na área das energias renováveis. O grupo beneficia de uma boa diversificação geográfica e apresenta uma boa estabilidade dos resultados, já que a maioria da sua atividade está regulada ou protegida por contratos de longo prazo. Apesar de ter uma dívida relativamente alta, a empresa gera liquidez que lhe permite distribuir bons dividendos.
• GALP ENERGIA
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Setor Petrolífera
Cotação 12,10 EUR
Risco 3
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Comprar
A Galp é uma das petrolíferas com maior potencial de crescimento, prevendo que a sua produção suba 25 a 30% ao ano até 2020. Se nos últimos tempos, o facto de ainda ter uma maior exposição ao segmento da Refinação & Distribuição foi uma vantagem, devido à queda do preço do petróleo, o elevado potencial de crescimento na Exploração & Produção, sobretudo devido à presença no Brasil, permitir-lhe estar bem colocada para beneficiar da recuperação do preço do ouro negro.
• IMPRESA
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Setor Media
Cotação 0,22 EUR
Risco 4
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Comprar
A Impresa, dona da SIC e de vários jornais e revistas, é um título muito cíclico pois opera num setor dependente dos ciclos económicos. Como a conjuntura atual é desfavorável e o setor vive uma mudança estrutural do papel para o digital, que penaliza as receitas, os resultados do grupo ressentem-se. Mas, a queda da cotação parece-nos exagerada e se aceitar o risco elevado do título, a Impresa pode ser uma opção de investimento interessante numa perspetiva de longo prazo, apesar de não fazer parte do PSI-20.
• REN
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Setor Energia e serviços públicos
Cotação 2,58 EUR
Risco 2
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A REN, que gere a rede de transporte e armazenamento de gás e eletricidade em Portugal, é um título que tem um risco inferior à média devido ao caráter regulado da sua atividade. Apesar das últimas alterações regulatórias (descida das taxas de remuneração dos ativos, imposto extraordinário sobre o setor) serem negativas, os resultados do grupo apresentam uma boa regularidade, o que permite ao título distribuir dividendos elevados. Em bolsa, a sua volatilidade também é muito inferior à da praça nacional.
• NOVABASE
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Setor Tecnológica
Cotação 2,00 EUR
Risco 3
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A Novabase é a maior empresa tecnológica nacional e dedica-se sobretudo à consultoria informática. Contudo, é a aposta na internacionalização que tem permitido à empresa aumentar a faturação e melhorar a rentabilidade. Tendo em conta que esta aposta estratégica é para manter, as perspetivas futuras são animadoras. Aproveite o facto de a cotação se encontrar a níveis historicamente baixos para adicionar o título à sua carteira de ações. Esta ação não está incluída no índice PSI20.
• SONAE
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Setor Distribuição
Cotação 0,64 EUR
Risco 3
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Comprar
Apesar do setor da distribuição ser defensivo, a Sonae tem sido afetada pela fraca conjuntura económica nacional e pelo ambiente de forte agressividade comercial, sobretudo no segmento do retalho alimentar. Além disso, o seu lucro é influenciado por operações não recorrentes, (reavaliações de ativos, evolução da cotação da NOS), o que lhe confere maior imprevisibilidade. Contudo, dada a forte queda da cotação no último ano, a Sonae é uma boa oportunidade de investimento.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.
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