"Há risco de um aperto desordenado nas condições financeiras", avisa o FMI
A volatilidde nos mercados financeiros é "extrema" e os investidores poderão continuar a alimentar o "sell-off" se a inflação não aliviar. O cenário é desenhado no Relatório de Estabilidade Financeira Global divulgado esta terça-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que alerta para o risco de um aperto "desordenado" nas condições financeiras que acentue o problema.
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"Os riscos de estabilidade financeira global aumentaram desde oRelatório de Estabilidade Financeira Global de abril de 2022 e o equilíbrio de riscos está inclinado no sentido negativo. Face à inflação mais elevada em décadas e à incerteza extraordinária sobre as perspectivas, os mercados têm sido extremamente voláteis", começa por explicar o relatório.
Apesar de algum alívio sentido a meio do ano, os preços de ativos de risco, como as ações e a dívida privada caíram acentuadamente, com os investidores a recuarem agressivamente no apetite pelo risco em setembro. "Uma deterioração na liquidez do mercado parece ter amplificado os movimentos de preços", diz o FMI.
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Indicadores de risco sistémico aumentam
É neste cenário de aperto contínuo das condições financeiras - nalgumas geografias mesmo em níveis nunca vistos - que a instituição de Bretton Woods vê riscos. "Com a deterioração das condições nas últimas semanas, os principais indicadores de risco sistémico, como custos de financiamento em dólares e 'spreads' de crédito da contraparte, aumentaram", alerta.
"Existe o risco de um aperto desordenado nas condições financeiras que podem interagir com vulnerabilidades preexistentes. Os investidores podem reavaliar ainda mais as perspetivas se as pressões inflacionárias não diminuírem tão rapidamente quanto o previsto atualmente ou se a desaceleração económica se intensificar", conclui.
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O FMI sublinha o papel dos bancos centrais no controlo da inflação e em travar uma mudança nas expectativas de inflação que prejudicasse a credibilidade. Admite, contudo, que a elevada incerteza dificulta dos decisores em darem orientações explícitas e precisas sobre o caminho futuro da política monetária.
"Garantir a transmissão efetiva da política monetária é crucial durante a normalização da política monetária", diz, elogiando o Instrumento de Proteção da Transmissão (IPT) desenhado pelo Banco Central Europeu (BCE). "É um passo bem-vindo para enfrentar os riscos de fragmentação da Zona Euro".
Contágio do imobiliário na China preocupa
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Já nos mercados emergentes há ainda preocupações acrescidas. Juros a subirem, fundamentos menos sólidos e grandes saídas de capital aumentaram de forma expressiva os custos de financiamento. O impacto foi especialmente severo para as economias mais vulneráveis, com 20 países em "default" ou a negociarem em níveis considerados problemáticos.
"A menos que as condições do mercado melhorem, existe o risco de mais defaults soberanos nos mercados fronteiriços", alerta. O FMI recomenda que estes países considerem intervenções cambiais direcionadas em conjunto com medidas de fluxo de capital ou outras ações para ajudar a suavizar os ajustamentos na taxa de câmbio, reduzir riscos de estabilidade e manter uma transmissão adequada da política monetária.
Especificamente sobre a China, onde a desaceleração do mercado imobiliário tem vindo a aprofundar-se devido à queda nas vendas de casas durante os confinamentos, o FMI acrescenta que as pressões foram "exacerbadas" gerando "maior risco de repercussões nos setores bancário, empresarial e da administração pública local".
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