As bolsas da velha Europa estão famintas por um novo envelope
A cimeira europeia que hoje começa poderá ser fundamental para o futuro a curto prazo das praças do "velho continente". Os analistas alertam para a necessidade da aprovação do Plano de Recuperação e para a importância de uma mensagem de coesão dos Estados-membros.
As bolsas da Europa abriram a sessão desta sexta-feira de forma contida, com os investidores a ansiar por um novo envelope vindo de Bruxelas. De acordo com os analistas, é fundamental que o Conselho Europeu mostre, de uma vez por todas, uma mão firme na resposta a esta crise pandémica e reestruture a coesão e cooperação no seio de uma União Europeia dividida, que tem tardado em agir.
Desde que França e Alemanha se uniram em defesa de um Plano de Recuperação conjunto, a 18 de maio, o Stoxx 600 - índice que reúne as 600 maiores cotadas da Europa - valorizou cerca de 9%. Se nos focarmos no reduzido Stoxx 50, que agrupa as 50 maiores, essa subida é mais expressiva: 16%.
Esta reação das praças europeias reflete a importância que este pacote de ajuda conjunta, agora de 750 mil milhões de euros, tem para o futuro da negociação. Tem sido com base nele, mesmo que ainda por aprovar, que alguns bancos de investimento como o Barclays, o Morgan Stanley ou o Goldman Sachs têm aconselhado os investidores a virarem-se para ações europeis, em vez das norte-americanas.
"A aprovação do plano iria ser muito bem recebida pelos mercados financeiros, que já têm respondido de forma bastante positiva desde a divulgação de um possível acordo", de acordo com uma nota divulgada pelo ING, assinada pelos economistas Bert Colijn e Carsten Brzeski.
Mário Martins, analista da ActivTrades, diz ao Negócios que "se não se chegar a um acordo em relação ao fundo de recuperaçãono Conselho Europeu, tal terá uma influência negativa no mercado acionista", mas acrescenta que "nada na União Europeia é definitivo, por isso, mesmo que não haja um acordo hoje, as negociações irão continuar nos bastidores para se encontrar um ponto de consenso entre os Estados-membros".
Estes dois dias de negociações em Bruxelas - que podem estender-se para três - serão importantes para o futuro das bolsas na Europa, que têm estado aquém dos pares norte-americanos.
O índice de referência para o "velho continente" continua com um saldo negativo de 11% no ano. Já o norte-americano S&P 500, depois de ter conseguido virar para positivo, segue agora com uma desvalorização de 3% no ano. A situação é particularmente distinta se olharmos para o tecnológico Nasdaq Composite, que não só acumula um ganho superior a 10% em 2020, como renovou máximos históricos recentemente.
Depois de o Banco Central Europeu (BCE), na reunião de política monetária de ontem, ter optado por "esperar para ver", ao não aumentar o seu Programa de Compra de Emergência Pandémica (PEPP), as agulhas estão todas viradas para a atuação do Conselho Europeu. Ontem, a presidente do BCE, Christine Lagarde, voltou a reforçar a importância de uma cooperação entre os líderes europeus para a saúde dos mercados financeiros.
Taxas de juro pendentes de uma decisãoO impacto daquilo que for decidido na cimeira europeia nestes dias será ainda mais evidenciado no desempenho dos juros da dívida dos países da região. Neste campo, assume particular preocupação o desempenho das taxas de juro dos países da chamada periferia, onde se inclui Portugal, mas também Itália ou Espanha.
Hoje, as taxas permanecem praticamente inalteradas, a aguardarem por decisões concretas para assumirem uma tendência. O "spread" - a diferença - entre os juros de Itália e Alemanha, um fator chave para medir o "stress" do mercado de dívida europeu está atualmente nos 165 pontos base, longe dos máximos de março, nos 278 pontos base. Desde o dia 18 de maio, quando França e Alemanha se uniram publicamente por um acordo, o "spread" encolheu 50 pontos base.
Esta redução foi precipitada pelos esforços que o BCE tem feito para injetar liquidez na economia da região. Mas, tendo em conta a atual pausa do banco central no reforços dos estímulos - que talvez só apareçam na reunião de setembro ou outubro, segundo os analistas - é imperativo que os apoios do Conselho Europeu sejam aprovados, como nos mostra uma outra nota do ING.
"Em caso de um acordo rápido, podemos verificar o 'spread' entre os juros a dez anos de Alemanha e Itália atingir os 150 pontos base no verão", dizem os analistas Francesco Pesole e Antoine Bouvet, acrescentando que "o impacto combinado das compras do BCE e o suporte financeiro do Conselho Europeu" vai apelar à compra dos juros dos países periféricos, por parte dos investidores.
Mais lidas