Quatro meses de 2012 tiram 50% do valor do Banif
As acções do banco madeirense estão ao nível mais baixo de sempre. O Banif vale agora menos de 100 milhões de euros em bolsa. Quando pára de cair?
Os títulos do banco fundado por Horácio Roque fecharam hoje a negociar nos 0,17 euros, uma cotação para a qual caíram na sexta-feira.
Ainda assim, as acções do banco chegaram hoje a descer aos 0,16 euros, um preço a que nunca tinham transaccionado desde, pelo menos 1993, ano a partir do qual a agência Bloomberg tem dados (o banco foi admitido a cotação oficial no ano anterior).
Cada acção do Banif valia, no final de 2011, 0,34 euros. Uma cotação que agora se reduziu a metade e que conduziu a capitalização em bolsa da instituição para 96,90 milhões de euros.
Até quando vai durar esta descida? “Antes de haver um anúncio efeito do que vai acontecer para se capitalizar, e de que forma, o banco deverá continuar sob pressão. É uma questão de ‘timing’ do anúncio”, na opinião do gestor de activos do Banco Carregosa, Rui Bárbara.
À semelhança dos congéneres, o banco liderado por Jorge Tomé desde Março tem de cumprir as exigências impostas pela troika no âmbito do programa de assistência económica e financeira a Portugal. No final de 2012, o banco tem de apresentar um “core tire one” de 10%. Este rácio é aquele que estabelece qual o mínimo de capital que uma entidade bancária deve ter, tendo em conta os riscos da sua actividade principal. O Banif SA, a unidade bancária da “holding”, fechou 2011 com este rácio nos 10,1%. Contudo, a “holding” também terá de alcançar este nível.
Aumento de capital privado “pouco provável”, entrada directa do Estado muito provável
Em Março, na última nota de “research” para o banco madeirense intitulada “A virar a página?”, o BPI Equity Research escrevia que um aumento de capital, seja por meios públicos ou recorrendo aos privados, “não deveria ser descartado”.
Para Rui Bárbara, do Carregosa, um recurso ao dinheiro de accionistas privados, como aconteceu no BES, é “pouco provável”, dada a fragilidade das relações entre os principais accionistas, nomeadamente, da família de Horácio Roque.
O CEO Jorge Tomé já anunciou que a capitalização deverá passar pela linha de capitalização do Estado. O objectivo será concretizar essa operação através de “CoCos”, títulos convertíveis de capital contingente, ou seja, a conversão daquele capital depende de um acontecimento específico. Contudo, os pormenores dessa entrada ainda não estão definidos.
“Acho que existe uma elevada probabilidade de não ser tudo feito com CoCos”, comentou Rui Bárbara ao Negócios, dizendo que há espaço para se efectuar uma injecção directa do Estado. “Em último caso, se tiver de ser”, o Estado poderá passar a ser accionista, tinha já admitido também o CEO Jorge Tomé.
É precisamente esta incerteza que estará a penalizar o Banif na bolsa, de acordo com Rui Bárbara. Ou seja, além de se saber se o Estado vai mesmo passar a accionista, também é preciso saber se o aumento de capital público será “cosmético ou forte”. “Se for uma injecção de capital credível, aí, muito possivelmente, o preço de mercado talvez venha a parar de cair”, considera o gestor de activos do Carregosa.
Os analistas do BPI Equity Research, Carlos Peixoto e Gonçalo Guarda Garcia, escreviam, em Março, que há vários desafios para a acção. O ambiente macroeconómico, o facto de não conseguir aceder aos mercados de financiamento e a necessidade de desalavancar o balanço são alguns exemplos, também partilhados com a restante banca. Os especialistas atribuem um preço-alvo de 0,30 euros ao Banif, o que, em relação a hoje, possibilitaria uma subida de 76%. A recomendação para a acção é de “reduzir”.
(Notícia actualizada às 17h38 com cotação de fecho)
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