Como o ouro perdeu 60 dólares em poucos minutos
Os bons números do emprego nos EUA desencadearam um selloff do ouro e da prata, com a maior convicção de que a Fed poderá começar a retirar estímulos. Os feriados na Ásia não ajudaram, mas foi nesse lado do Atlântico que se protagonizou um “crash” inesperado.
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Os preços do ouro e da prata caíram na sessão de ontem, começando com um "flash crash" na Ásia e recuperando depois fôlego durante a negociação na Europa e nos EUA mas sem conseguirem chegar a terreno positivo. O metal amarelo iniciou o dia a afundar 4% nos mercados asiáticos, perdendo 60 dólares em apenas alguns minutos e arrastando a prata para uma perda de 7%. Ao final da tarde, o ouro a pronto cedia 1,79% para 1.731,11 dólares por onça em Londres, depois de ter tocado em mínimos de março. Já no mercado nova-iorquino, os futuros do ouro recuavam 1,76% para 1.729,10 dólares. A prata, por seu lado, seguia a afundar 3,83% em Londres para 23,40 dólares por onça, depois de ter chegado a tocar nos 22,5 dólares, valor mais baixo em mais de oito meses. A contribuir para este movimento de queda estiveram vários fatores, como a valorização do dólar, que torna menos atrativos os ativos denominados na nota verde, e os bons dados do emprego anunciados na sexta-feira nos Estados Unidos – que levam a que se intensifique a perspetiva de que a Reserva Federal norte-americana poderá em breve começar a retirar gradualmente [o chamado "tapering"] os seus estímulos monetários, que passam pela compra de dívida, e a subir mais cedo do que o esperado os juros diretores, atualmente em mínimos históricos. Como o ouro não remunera juros, isso retira-lhe atratividade. O "crash" do ouro levou o metal a quebrar um nível de suporte técnico na Ásia, o que desencadeou o "stop loss" – quando um investidor aposta num ativo, define um limiar que, se for quebrado, aciona ordens de venda. A prata, conhecida como "irmã do ouro", habitualmente acompanha a tendência do metal amarelo e foi isso que sucedeu ontem. Também o facto de ser feriado no Japão e em Singapura contribuiu para a volatilidade na Ásia, devido ao menor volume de negociação. A recuperação, durante a tarde, face aos baixos valores da manhã deveu-se ao facto de os "caçadores de pechinchas" terem aproveitado os baixos preços para entrarem no mercado", comentou à Bloomberg um "trader" da Heraeus Metals Germany, Falkmar Butgereit. "Estas quedas foram sustentadas pelos receios de que a Fed anuncie em breve uma redução na compra de ativos", frisou por seu lado Henrique Tomé, analista da XTB, sublinhando que esta queda tão acentuada foi justificada com uma liquidação forçada de grande posição de futuros. "A imprensa afirma que 24 mil contratos futuros sobre ouro foram vendidos durante a madrugada. No entanto, parte das quedas foram recuperadas quase na totalidade", notou. Mas se o movimento de queda retomar e se a marca dos 1.750 dólares for quebrada, "o movimento de baixa poderá prolongar-se novamente", advertiu. Ricardo Evangelista, analista sénior da ActivTrades, referiu também o facto de o ouro ter caído devido à publicação do relatório do emprego dos EUA, "que revelou números mais positivos do que o esperado, tornando mais provável a antecipação do calendário da redução gradual do atual programa de compra de ativos por parte da Fed". "Esta dinâmica catapultou o dólar para novos máximos de vários meses e penalizou o ouro, pela correlação invertida já conhecida entre os dois ativos", apontou. "Com isto, o metal precioso caiu abaixo da sua linha de tendência de alta do mercado, agravando o efeito das perdas, já que muitos investidores definiram as suas ordens ‘stop’ naquele nível", explicou o analista da ActivTrades. Mas rapidamente o ouro poderá voltar a brilhar, considera David Meger, diretor de negociação de metais na High Ridge Futures. Para isso, disse à Reuters, basta que os próximos relatórios do emprego nos EUA não sejam tão bons ou que se renove o espetro de que a subida da inflação não seja transitória para que haja uma maior procura por ativos mais seguros.
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