OPEP+ adia decisão para esta sexta-feira. Perspetiva de abertura gradual das torneiras faz petróleo disparar
A OPEP+ decidiu adiar para amanhã uma decisão sobre o rumo a dar à sua política de produção. Mas as fontes que falaram com os meios de comunicação internacionais dizem que a ideia é manter uma estratégia conservadora, não inundando o mercado com petróleo. Ou seja, continuar a abrir as torneiras de forma muito gradual. Os investidores gostaram e os preços reforçaram o movimento de subida.
Os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e os seus aliados (o chamado grupo OPEP+) estiveram hoje reunidos durante a tarde mas decidiram adiar qualquer decisão para sexta-feira, uma vez que os termos do acordo de produção não estão ainda todos acertados. E isto porque os Emirados Árabes Unidos não parecem concordar com tudo o que está em cima da mesa.
Ao que se sabe, tudo aponta para que a OPEP+ se decida por prosseguir com o movimento de abertura progressiva das suas torneiras. Depois de colocarem no mercado mais 2,1 milhões de barris por dia nos primeiros sete meses do ano, algumas fontes disseram à Reuters e à Bloomberg que agora a decisão será aumentar as suas exportações em mais dois milhões de barris diários entre agosto e dezembro.
Os preços do crude reagiram em forte alta a estas indicações, a negociarem em máximos de outubro de 2018, à espera que a entrada de mais ouro negro continue a ser gradual - sendo assim facilmente absorvida numa altura em que a procura continua a aumentar num contexto de retoma económica.
O West Texas Intermediate (WTI), "benchmark" para os Estados Unidos, para entrega em agosto segue a somar 2,74% para 75,48 dólares por barril. Já o contrato de julho do Brent do Mar do Norte, crude negociado em Londres e referência para as importações europeias, avança 1,88% para 76,02 dólares. Quando começaram a circular rumores sobre os volumes de produção, o preço chegou a disparar mais de 3% em Nova Iorque e mais de 2% em Londres.
O facto de o aumento de produção definido para agosto poder ser de 400.000 barris diários, quando se antecipava que ascendesse a meio milhão de barris por dia, ajudou à subida das cotações. Segundo o acordo que estará em cima da mesa, todos os meses - desde agosto até ao final do ano - passarão a entrar mais 400.000 barris por dia, o que totaliza os dois milhões.
Há pois bastante margem para o mercado petrolífero absorver uma maior produção – e dois milhões de barris por dia adicionais até dezembro não suprem as necessidades de consumo previstas. Segundo a OPEP, a oferta mundial de crude no quarto trimestre ficará 2,2 milhões de barris por dia abaixo da procura.
A precaução da OPEP+ em não inundar o mercado deve-se ao ressurgimento de novos casos de covid-19 em muitas regiões, nomeadamente na Ásia e Europa. E há também o factor Irão a ter em conta, já que um restabelecimento do acordo nuclear levaria ao levantamento das sanções de que Teerão é alvo, entrando mais ouro negro no mercado.
A expectativa geral de reforço do consumo este ano e a queda consecutiva dos stocks de crude em países como os EUA e a China, com as refinarias a trabalharem a todo o vapor, têm sido motores de sustentação das cotações e a provável decisão da OPEP+ alivia os receios de pressões inflacionistas – porque se os grandes países produtores não escoarem mais, os preços podem escalar.
Recorde-se que em maio do ano passado, em resposta à forte queda da procura decorrente dos confinamentos por força da pandemia, a OPEP+ acordou reduzir a oferta em 9,7 milhões de barris por dia. A ideia seria ir levantando este esforço de corte da produção de forma faseada até ao final de abril de 2022. Neste momento, o corte está em 5,8 milhões de barris diários – já contabilizando o crude que entretanto foi reentrando no mercado em finais de 2020 e nestes primeiros sete meses de 2021.
Um painel da OPEP+ referiu na terça-feira, citado pela Reuters, que estima um crescimento de 6 milhões de barris por dia na procura este ano. Mas vê riscos de excesso de oferta em 2022 devido a "grandes incertezas", nomeadamente uma retoma global desequilibrada e a possibilidade de a variante delta do coronavírus continuar a aumentar o número de infeções.
Por isso mesmo, uma fonte do cartel dizia ontem à agência britânica que o acordo de corte da oferta poderá ir além de abril de 2022 – para que não entrem até essa data no mercado os quase seis milhões de barris que os membros da OPEP+ mantêm no subsolo. Só que, de acordo com fontes da OPEP+ à Reuters, os Emirados Árabes Unidos não se mostraram satisfeitos com a possibilidade de este acordo vigorar até ao final do próximo ano, tendo bloqueado uma decisão para hoje.
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