Depois da Fitch, também a S&P corta perspetiva para Portugal

A agência de notação financeira pronunciou-se sobre a qualidade da dívida da República, cortando o outlook de positivo para estável, tal como a Fitch tinha feito há uma semana O rating de Portugal mantém-se dois níveis acima de lixo.
Miguel Baltazar/Negócios
Carla Pedro 24 de Abril de 2020 às 21:23

A Standard & Poor’s anunciou esta sexta-feira à noite o corte da perspetiva (outlook) para a evolução da dívida de longo prazo de Portugal, de positiva para estável.

 

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Não se esperava hoje uma decisão da S&P para Portugal, tendo a agência decidido pronunciar-se fora da data calendarizada – tal como fez a Fitch há uma semana.

A agência tinha decidido, no passado dia 14 de março, manter a classificação e a perspetiva da República, e a próxima avaliação estava agendada para 11 de setembro.

 

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Os relatórios sobre os ratings e perspectivas para as dívidas soberanas podem não ser publicados, uma vez que o calendário de eventuais revisões das notações soberanas é apenas indicativo. E também pode acontecer o que se viu hoje: se considerarem necessário, tendo em conta circunstâncias novas, as agências podem pronunciar-se fora das datas calendarizadas.

O corte da perspetiva significa que, em princípio, não estará para breve uma nova subida da classificação soberana.

Em relação ao rating, este foi reiterado em BBB, que corresponde a dois níveis acima de "lixo" – ou ao penúltimo nível da categoria de investimento de qualidade.

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Foi em em março de 2019 que a S&P elevou a notação da dívida portuguesa para BBB (mesmo nível que a Fitch), tendo depois a 13 de setembro melhorado o "outlook" para positivo.

Entretanto, no mês passado reafirmou as avaliações, tendo sublinhado que a perspetiva positiva refletia a sua visão de que a capacidade de Portugal assumir o seu alto 'stock' de compromissos externos continuava a aumentar, apesar da incerteza dos mercados financeiros globais.

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Nessa altura, a Standard & Poor’s disse preferir esperar por dados mais concretos sobre o impacto económico da covid-19 antes de tomar qualquer decisão em relação à classificação e perspetiva da evolução da dívida portuguesa.

Agora, no relatório desta sexta-feira, a agência refere que "as autoridades de saúde de Portugal conseguiram um sucesso precoce na estabilização das taxas de infeção e de mortalidade perante a pandemia, mas que a recessão global – severa e sincronizada – irá pesar na economia portuguesa, de pequena dimensão e aberta".

 

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"Estimamos que o défice público deste ano aumente para cerca de 5% do PIB, em contraste com o excedente orçamental registado no ano passado. Neste cenário, no final de 2020 a dívida pública deverá subir para pouco menos de 125% do PIB, para então depois começar de novo a encolher", sublinha.

Quanto ao PIB, projeta que registe uma contração de 7,7% este ano, tendo em conta o cenário de que o confinamento durará oito semanas e que as atuais restrições serão flexibilizadas muito gradualmente. Antes, a agência tinha como cenário um "lockdown" de seis semanas".

 

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"Além disso, partimos do princípio de que algumas medidas de distanciamento social se manterão em vigor durante pelo menos um ano, ou até haver uma vacina – o que talvez venha a acontecer em meados de 2021".

 

"Neste cenário, a economia portuguesa a economia portuguesa irá provavelmente permanecer, até 2022, mais pequena do que no ano passado".

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Apesar do corte, agência acredita que Portugal sobreviverá à recessão mundial

 

A S&P refere que a perspetiva estável reflete a sua convicção de que "o compromisso das autoridades portuguesas para com políticas pró-crescimento e as finanças públicas prudentes irão sobreviver a uma recessão global de um ano".

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No seu relatório, a agência refere também quais são os gatilhos que poderão levar a um corte da classificação da República: "se o contexto económico mundial se deteriorar muito para lá das nossas atuais expectativas, as consequências nas finanças públicas de Portugal deixarão de ser conciliáveis com o atual rating, tendo em conta outras vulnerabilidades do crédito – incluindo a enorme dívida externa do país".

"O rating que atribuímos a Portugal também pode sofrer uma pressão negativa se setores dependentes do exterior, como o turismo, sofrerem uma permanente perda de rentabilidade, levando as contas correntes do país a registar um défice mais profundo do que aquele que atualmente projetamos", acrescenta.

 

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Quanto aos gatilhos positivos, a S&P destaca que "se Portugal registar uma recuperação económica nos próximos três anos, levando a uma significativa melhoria das finanças públicas, o rating poderá melhorar".

 

Por outro lado, também poderá haver uma subida da notação se houver uma melhoria da avaliação das instituições portuguesas ou da posição do país face ao exterior, incluindo das suas necessidades de financiamento externo no curto prazo.

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Não foi apenas o ‘outlook’ de Portugal que foi revisto em baixa nesta sexta-feira. Havia quem receasse que a S&P decidisse hoje cortar o rating de Itália para "lixo", mas acabou por surpreender ao manter a classificação no penúltimo grau do patamar de investimento de qualidade. No entanto, desceu a perspetiva para negativa, o que significa que poderá cortar o rating se a economia transalpina continuar a ser fustigada pelos efeitos da covid-19, que castigou fortemente o país.

 

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A S&P disse que poderá baixar a notação de Itália se a proporção da dívida pública no PIB não entrar numa trajetória descendente claramente discernível nos próximos três anos ou se houver uma marcada deterioração das condições de financiamento que abale a sustentabilidade das suas finanças públicas.

 

Entre quem receava um corte de Itália para o patamar de investimento de categoria especulativa estava o Banco Central Europeu, sublinha a Zero Hedge.

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Com efeito, os ratings têm sido uma preocupação crescente nos mercados, num momento em que os "lockdowns" – mais de meio mundo está confinado em casa – abrem caminho à maior recessão das últimas décadas. Já a prever que algumas notações soberanas ou corporativas possam regressar ao patamar de investimento especulativo, o BCE anunciou na quarta-feira que irá aceitar "junk bonds" como garantia nas operações de financiamento do Eurosistema.

Também a Fitch optou por rever em baixa a perspetiva da Grécia na quinta-feira à noite, de positiva para estável, mantendo o rating em BB, que corresponde ao segundo nível de "lixo". A S&P tomou a mesma decisão hoje para o 'outlook' da dívida soberana helénica, reafirmando a notação do país em BB- (terceiro nível da categoria de investimento especulativo).

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Quando vai haver mais análises este ano?

Moody’s

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Baa3 com "outlook" positivo

• 17 de julho

S&P

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BBB com outlook estável

• 11 de setembro

DBRS

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BBB Alto com "outlook" estável

• 18 de setembro

Fitch

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BBB com "outlook" estável

• 22 de maio (poderá ou não pronunciar-se, já que o fez inesperadamente a 17 de abril)

• 20 de novembro

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(notícia atualizada às 22:36)

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