Portugal paga mais por 1.131 milhões de euros em nova dívida a 10 e 17 anos
O Tesouro pagou um juro mais elevado para colocar 1.131 milhões de euros em nova dívida, a 10 e a 17 anos. Tanto no caso das obrigações do Tesouro (OT) que vencem em 2035 como na linha de títulos que atingem a maturidade em 2041, a taxa de colocação subiu face aos últimos leilões comparáveis, numa altura de stress no mercado obrigacionista europeu devido à crise política em França e em que está à espera da decisão do Banco Central Europeu (BCE) sobre as taxas de referência na Zona Euro que será conhecida esta quinta-feira.
No prazo "benchmark", a emissão desta quarta-feira foi de 621 milhões de euros, tendo a taxa de juro ficado em 3,059%. A última vez que o país esteve no mercado para colocar dívida a 10 anos (a maturidade benchmark) foi a 11 de junho, tendo na altura colocado 677 milhões de euros, a uma taxa de juro de 3,003%.
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Já no prazo mais longo, o país colocou 510 milhões de euros, a uma taxa de juro de 3,637%. Também neste caso representa um agravamento dado que, a 12 de fevereiro, captou 489 milhões de euros, tendo a taxa de juro sido fixada em 3,342%. Em mercado secundário, a "yield" das obrigações portuguesas a 10 anos segue a aliviar 0,4 pontos-base para 3,071%, enquanto o juro dos títulos a 30 anos recua 1,4 pontos para 3,963%.
A procura manteve-se robusta, mas também cedeu face a anteriores operações. A 10 anos, superou a oferta em 1,57 vezes (o que compara com 1,79 vezes em junho) e a 17 anos em 1,74 vezes (face a 1,9 vezes em fevereiro). A diminuição do apetite dos investidores poderá ter justificado o facto de a operação se ficar pelos 1.131 milhões de euros quando o montante indicativo previa que pudesse ir até aos 1.250 milhões de euros.
“A subida das taxas de juro em ambos os leilões sugere que o mercado antecipa a possibilidade de o BCE reverter parte da sua política monetária atual para lidar com potenciais pressões inflacionistas no médio prazo”, considera Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa. “Entre os fatores de risco que podem influenciar os mercados nos próximos meses contam-se a incerteza política em França e os novos equilíbrios comerciais e tarifários a nível europeu, que ainda poderão não estar totalmente refletidos nos preços da dívida”.
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Ao longo dos últimos meses, os cortes de juro do BCE têm ajudado a aliviar os custos de financiamento dos países da Zona Euro, tendo entretanto a autoridade monetária liderada por Christine Lagarde entrado em modo de pausa. Contudo, estão a crescer os receios de que a inflação obrigue o banco central a mudar de estratégia.
Além disso, os últimos dias têm sido marcados por preocupações no mercado de dívida em torno da queda do Governo em França. Esta terça-feira, o Presidente francês, Emmanuel Macron, nomeou Sébastien Lecornu, ex-ministro da defesa do Executivo de François Bayrou, como novo primeiro-ministro. Após a nomeação, que chega num contexto de um Parlamento fraturado e de desafios no equilíbrio das finanças públicas do país, os juros de França agravam-se, em contraciclo com o resto da Europa.
No caso específico de Portugal, as subidas de rating têm contado para a confiança dos investidores. Este leilão é, aliás, o primeiro desde a revisão em alta da notação financeira nacional pela Standard and Poor's, que passou a classificação para A+ com perspetiva estável.
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“O rating da República Portuguesa foi recentemente revisto em alta pela S&P, de A para A+, com perspetiva estável, refletindo a resiliência da economia, uma trajetória de crescimento moderado e a redução gradual da vulnerabilidade externa”, aponta Filipe Silva, acrescentando: “A evolução da dívida soberana portuguesa ao longo de 2025 tem evidenciado a estabilidade macroeconómica do país. A curva de rendimentos deixou de apresentar inversão nos prazos mais curtos e voltou a apresentar uma inclinação positiva, típica de mercados em que os investidores exigem prémio adicional para financiamentos de prazo mais longo”.
(Notícia atualizada)
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