Fitch avalia Portugal. E é desta que pode vir um “upgrade”
A agência de notação financeira deverá elevar o rating da dívida soberana portuguesa, consideram os especialistas ouvidos pelo Negócios. Trata-se da primeira avaliação desta entidade depois das legislativas de 18 de maio.
A Fitch poderá melhorar o rating da dívida soberana de Portugal nesta sexta-feira. Depois de optar pelo “status quo” na avaliação de março, deverá ser agora que a agência de notação financeira se decide por um “upgrade”, consideram os especialistas ouvidos pelo Negócios.
Em setembro de 2024, a Fitch manteve o rating da República em A- e elevou o “outlook” (perspetiva para a evolução da qualidade da dívida) de estável para positivo, sinalizando assim que poderia melhorar a notação soberana nos seis a 24 meses seguintes. Não o fez na primeira avaliação deste ano, a 14 de março, mas isso pode acontecer já hoje. Se assim for, será a quarta melhoria da nota de Portugal este ano, depois de a DBRS o ter feito a 17 de janeiro e a Standard & Poor’s a 28 de fevereiro e novamente a 29 de agosto.
“Considero que vai haver, decididamente, um ‘upgrade’ de Portugal, pois a Fitch já lhe atribui um ‘outlook’ positivo desde o ano passado — além de que está atrás das notações dadas pela S&P e pela DBRS”, diz ao Negócios o analista-chefe do Danske Bank, Jens Peter Sørensen. No entanto, “é provável que a reação do mercado seja modesta, dado que a dívida pública de Portugal está a negociar mais em linha com os países que têm uma classificação AA [que é superior], como a Finlândia, exceto na parte mais longa da curva de rendimento”, acrescenta.
Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, tem o mesmo entendimento. “O enquadramento é favorável para Portugal: após a Standard & Poor’s ter elevado a notação para A+, no fim de agosto, o nível mais elevado desde 2009, a expectativa é que a Fitch siga o mesmo caminho, revendo em alta a classificação. Os excedentes orçamentais dos últimos anos, a tendência de descida do rácio da dívida pública, que deverá cair para menos de 90% do PIB em 2026, e a compressão dos ‘spreads’ da dívida soberana portuguesa para mínimos de 2008, perto de 40 pontos-base face à Alemanha, sustentam este cenário de melhoria de rating”, explica ao Negócios.
“A pressão para uma subida resulta ainda do facto de a S&P se ter adiantado às restantes agências, deixando a Fitch e a Moody’s dois níveis abaixo, o que justifica um ajustamento para não acentuar demasiado a divergência”, aponta Paulo Monteiro Rosa.
Portugal está no cobiçado clube do A junto das principais agências. Já França, que nesta sexta-feira é também avaliada pela Fitch, está três níveis acima na notação, mas tem vivido um enquadramento mais negativo, sobretudo devido à instabilidade política no país, o que pode ficar hoje ainda mais visível.
Esta sexta-feira “poderá espelhar uma realidade a que a Europa não estava habituada: Portugal reforçado pela credibilidade orçamental e França fragilizada pela incerteza política e pela rigidez das suas finanças públicas”, refere o economista do Banco Carregosa, lembrando que a despesa pública francesa é, em grande medida, rígida. “Pensões, saúde, educação e salários da função pública constituem compromissos permanentes, difíceis de cortar sem gerar forte contestação social. Foi precisamente uma tentativa de consolidação orçamental através de cortes de despesa que precipitou a queda do Governo Bayrou”, sublinha.
Por outro lado, “recorrer a aumentos de impostos para reduzir o défice deixou há muito de ser uma solução viável. A economia francesa parece situar-se já na parte descendente da Curva de Laffer, onde qualquer subida adicional dos impostos não só gera menor receita arrecadada, como também penaliza a atividade económica”, frisa Paulo Rosa. “Para Lisboa, uma revisão positiva consolidaria o estatuto de economia menos arriscada da periferia europeia. Para Paris, um eventual sinal negativo poderá reavivar dúvidas sobre a estabilidade da Zona Euro e obrigar o BCE a preparar-se para intervir, caso os riscos de contágio se materializem”, considera o economista.
Já Henrique Valente, analista da ActivTrades Europe, aponta para um “status quo” em ambos os casos. “A Fitch deverá manter os ratings de França e Portugal, por razões distintas”, diz. “No caso de França, a notação em AA- com ‘outlook’ negativo já reflete a fragilidade das contas públicas, o défice persistente e o crescimento fraco. Apesar destes sinais, agravados pela instabilidade política e pela queda do Governo francês, um corte adicional neste momento poderia ter impacto reflexivamente e de forma negativa na segunda maior economia da Zona Euro”, considera.
Assim, Henrique Valente é da opinião de que a agência “optará provavelmente por ganhar tempo, mantendo o ‘outlook’ negativo como sinal de alerta, sem precipitar uma revisão em baixa, num momento em que os juros da dívida já se encontram no nível mais alto desde 2012”.
Portugal apresenta um quadro diferente. “As contas externas equilibradas, dívida em trajetória descendente e crescimento acima da média europeia sustentam a avaliação atual em A- com ‘outlook’ positivo, confirmada pela Fitch em março. A agência deverá, assim, preservar a margem para um eventual ‘upgrade’ futuro, ainda que condicionado pelo contexto externo”, sublinha o analista da ActivTrades Europe.
A Fitch atribui a França uma classificação de AA- (o quarto melhor nível da escala) e de A- (sétimo nível) a Portugal. Se, como se antecipa, a agência cortar – em um grau – o rating gaulês e subir o português, a nota de ambos ficará separada por apenas um nível.
O rating da dívida pública portuguesa está então no sétimo nível de qualidade junto da Moody’s (A3) e da Fitch (A-). Já a Standard & Poor’s reviu em alta a classificação da República nas duas rondas deste ano, colocando-a agora no quinto lugar da escala (A+) – que é o mesmo atribuído pela DBRS, quando elevou para A (alto) em janeiro passado. Nesta segunda ronda de avaliações de Portugal, por parte das agências de rating, falta ainda a decisão da Moody’s a 14 de novembro.
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