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Juros elevados despertam fantasmas do passado

A maior falência de um banco nos EUA desde o Lehman gerou o pânico entre depositantes e investidores. Ao “sell-off” nas ações e procura histórica por refúgio na dívida deverá seguir-se um ajustamento às taxas de juro, incluindo uma pausa no ciclo de subidas da Fed.

SVB Sillicon Valley Bank
SVB Sillicon Valley Bank Reuters
13 de Março de 2023 às 23:30
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A queda repentina de um banco sem capacidade de se financiar. O pânico nas bolsas globais. Reguladores e governantes a garantirem que há solidez. Os colapsos do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank representam a maior falência na banca desde o traumático Lehman Brothers, fazendo despertar fantasmas.

"A queda do SVB apenas destapou um dos problemas gerados com a subida repentina das taxas de juro, seja por parte da Reserva Federal dos EUA (Fed) ou do Banco Central Europeu (BCE); com a devida ressalva, o problema não está na ação dos bancos centrais, mas na gestão incompetente das administrações dos bancos, que não souberam acautelar uma realidade que já era expectável desde há um ano", diz Mário Martins, analista da ActivTrades.

O "crash" do SVB resultou de retiradas massivas de fundos por parte dos clientes. Com a subida dos juros diretores por parte da Fed, os investidores começaram a mostrar menos apetite pelo risco, o que penalizou as startups tecnológicas – as grandes clientes do SVB. Para recuperar parte desses fundos perdidos, o banco vendeu uma carteira grandemente composta por obrigações do Tesouro (OT) dos EUA com prejuízo. Por isso, para tentar captar mais capital, a casa-mãe, o SVB Financial Group, anunciou na quinta-feira, uma operação de venda de ações para angariar 2,25 mil milhões.

No prospeto dizia que assumiu uma perda de 1,8 mil milhões na venda da carteira. Quando os clientes o souberam, acorreram a levantar dinheiro. Foi  uma verdadeira sangria nos depósitos. A operação de captação de capital fracassou, as ações mergulharam 60% num dia e foram suspensas de negociação. O colapso levou a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) a anunciar ainda na sexta-feira que o SVB tinha fechado portas. No domingo, as autoridades norte-americanas alegaram risco sistémico para encerrar também o Signature Bank.

"Era de esperar que os juros subissem e, como tal, as obrigações iriam perder valor, o que obrigaria a uma gestão de risco muito mais prudente no sentido de manter os níveis de liquidez num patamar ainda mais cauteloso - o que não aconteceu. No setor em geral este é um tema que poderá ocorrer em mais instituições, norte-americanas e europeias", sublinha Mário Martins, acrescentando que "a regulação virá de novo à tona, mas provavelmente mais focada nos bancos de menor dimensão, uma vez que os bancos com riscos sistémicos têm um cinto mais apertado".

Foi exatamente essa – de mais regulação – a promessa do presidente dos EUA, Joe Biden. E assegurou: "o sistema financeiro nos EUA é forte, está seguro e os depósitos estão salvaguardados". As palavras tanto da administração como do banco central poderão estar a conter o contágio, mas ainda não foram suficientes para estancar a sangria em bolsa.

As perdas de cerca de 7% da banca europeia não são comparáveis aos tombos em Wall Street: o First Republic Bank, congénere californiano do SVB chegou a afundar mais de 65%, enquanto a Key, a Comercia ou a Zions perderam entre 20% e 30%. Nesse sentido, os investidores estão a procurar refúgio na dívida, com uma procura histórica especialmente pelas alemãs Bunds e pelas norte-americanas Treasuries.

"Este evento tem o potencial de desestabilizar parte do mercado financeiro e espoletar mais ‘sell-offs’ – justificados ou não. Isto explica porque é que a Fed agiu tão prontamente no fim de semana, nos termos da exceção de risco sistémico, garantindo todos os depósitos dos bancos", diz Greg Hirt, "chief investment officer" global de multi-ativos da AllianzGI. "A Fed respondeu, mas pode ter de enfrentar uma estrada acidentada no caminho das taxas de juro".

O mercado de futuros aponta para que a autoridade monetária liderada por Jerome Powell adote uma postura mais conservadora, com algumas casas de investimento a preverem mesmo que a Fed pause o ciclo devido à incerteza. "Tendo em conta a recente pressão no sistema bancário, já não esperamos que a Fed opte por uma subida das taxas de juro na reunião de 22 de março", referem os analistas do Goldman Sachs.

Já no caso da Zona Euro, a expectativa é diferente. O mercado ainda espera que o BCE suba os juros na próxima reunião, já na quinta-feira, mas, o colapso poderá ter impacto em decisões futuras. Aliás, uma fonte não identificada dentro do BCE garantiu à Reuters que a autoridade liderada por Christine Lagarde vê um risco limitado do evento.

O comissário europeu Paolo Gentiloni avançou que "não há qualquer contágio direto" à Zona Euro e a possibilidade de impacto indireto está a ser vigiada. O tema foi discutido na reunião do Eurogrupo, com o presidente Paschal Donohoe a avisar que "é um alerta de que os choques podem acontecer", reforçando a importância de garantir a resiliência. O ministro das Finanças, Fernando Medina,  defendeu ainda que o sistema europeu é "mais robusto" e tem "regras mais apertadas" do que nos EUA, desvalorizando o impacto na Zona Euro.

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