“Entre 2004 e 2020, a produtividade europeia cresceu somente 0,5% ao ano, contra 1,6% nos EUA e 1% ao ano, ao fim de 20 anos, conta e mesmo muito”, afirmou Ricardo Reis, economista e professor na London School of Economics e consultor de várias organizações económicas e financeiras, na intervenção que fez na conferência Economia Sem Fronteiras: Portugal 2050, organizada pelo canal Now e pelo Negócios, relacionada com o tema “As Perspetivas de Crescimento Económico no Mundo de Trump”.
Esta diferença acumulada ao longo de duas décadas criou um fosso significativo nas oportunidades salariais. Um jovem licenciado português ganha o dobro em Washington ou Nova Iorque comparado com Bruxelas.
Ricardo Reis acentuou que a grande diferença no aumento da produtividade localiza-se no setor das comunicações e das tecnologias de informação. O economista fez uma abordagem denominada preferência revelada e utilizou as escolhas que as pessoas fizeram ao longo de 15 anos, a partir de 2 terabytes de dados do LinkedIn. Analisou como as empresas não europeias e não americanas escolhem e onde contratam trabalhadores no setor da tecnologia.
A análise revelou que, para trabalhadores de produção, a Europa é 3,7% menos produtiva do que os EUA. Para cargos de gestão, que incluem funções comerciais e de inovação, a Europa é ligeiramente mais produtiva. O maior diferencial surge no acesso a financiamento, onde a Europa é 56% menos produtiva. Esta dimensão foi analisada a partir de bases de dados sobre o financiamento das empresas tecnológicas.
Migração financeira
Um dos ângulos de análise foi a migração para os Estados Unidos em busca de financiamento. Enquanto 46 empresas europeias (unicórnios) se mudaram para os EUA, apenas uma americana fez o movimento inverso. Em termos gerais, 7,6% das empresas europeias mudaram-se para os EUA entre 2010 e 2020, contra somente 2% no sentido oposto. Das empresas europeias que se relocalizam, 55% escolhem os EUA como destino.
Ricardo Reis sublinhou que os Estados Unidos poupam menos do que os europeus e têm um saldo positivo na balança de transações com a Europa, “o que significa que é dinheiro europeu que vai para os EUA para financiar as empresas europeias que se mudaram. Não há falta de capital na Europa, há falta de talento dos banqueiros”.
A estratégia de repressão financeira de Trump
“A instabilidade já existia antes de Trump e pode ser uma característica que está para ficar. Poderemos ter de tomá-la em conta quando falamos nos processos de médio e longo prazo”, argumentou Isabel Horta Correia, economista e professora de Economia na Católica Lisbon School of Business and Economics, durante a mesa-redonda com Ricardo Reis e moderada por Miguel Frasquilho. Acrescentou que os Estados Unidos continuam a ter maior resiliência e uma maior eficiência na alocação de recursos.
Ricardo Reis disse que “as tarifas dos EUA subiram, em média, de 2% para 9 a 10%, não 40 ou não 50%, embora com grande diversidade bilateral”. Recordou que, quando se deu o Brexit, previu que o Reino Unido ficaria entre 5 e 10% mais pobre. Dez anos depois, está “8% mais pobre do que antes do Brexit”. Por isso, se as taxas subirem 10%, haverá um “declínio da riqueza mundial”, assegurou Ricardo Reis. Para o professor da London Business School, os EUA têm um défice público de 7 a 8% do PIB, um défice na balança das transações correntes e as famílias poupam pouco em relação ao que investem. Mas Trump quer “que sejam as famílias a fazer o ajuste. As tarifas são uma tentativa de cobrar esse défice, uma tentativa errada que vai falhar”.
Ricardo Reis alerta para o risco de “repressão financeira” por parte da administração Trump, que tem duas componentes: obrigar os investidores a emprestar aos EUA e pagar-lhes menos mediante taxas de juro baixas e inflação alta. Para isso, prevê pressões sobre a Reserva Federal para implementar “taxa de juro baixa e inflação alta”.