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A diferença da Europa em relação aos EUA

Os europeus investem os seus capitais nos Estados Unidos e financiam as empresas europeias que mudaram de continente em busca de dinheiro. “Não há falta de capital na Europa, há falta de talento dos banqueiros”, disse Ricardo Reis.

11 de Julho de 2025 às 16:30
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“Entre 2004 e 2020, a produtividade europeia cresceu somente 0,5% ao ano, contra 1,6% nos EUA e 1% ao ano, ao fim de 20 anos, conta e mesmo muito”, afirmou Ricardo Reis, economista e professor na London School of Economics e consultor de várias organizações económicas e financeiras, na intervenção que fez na conferência Economia Sem Fronteiras: Portugal 2050, organizada pelo canal Now e pelo Negócios, relacionada com o tema “As Perspetivas de Crescimento Económico no Mundo de Trump”.

Esta diferença acumulada ao longo de duas décadas criou um fosso significativo nas oportunidades salariais. Um jovem licenciado português ganha o dobro em Washington ou Nova Iorque comparado com Bruxelas.

Ricardo Reis acentuou que a grande diferença no aumento da produtividade localiza-se no setor das comunicações e das tecnologias de informação. O economista fez uma abordagem denominada preferência revelada e utilizou as escolhas que as pessoas fizeram ao longo de 15 anos, a partir de 2 terabytes de dados do LinkedIn. Analisou como as empresas não europeias e não americanas escolhem e onde contratam trabalhadores no setor da tecnologia.

A análise revelou que, para trabalhadores de produção, a Europa é 3,7% menos produtiva do que os EUA. Para cargos de gestão, que incluem funções comerciais e de inovação, a Europa é ligeiramente mais produtiva. O maior diferencial surge no acesso a financiamento, onde a Europa é 56% menos produtiva. Esta dimensão foi analisada a partir de bases de dados sobre o financiamento das empresas tecnológicas.

Migração financeira

Um dos ângulos de análise foi a migração para os Estados Unidos em busca de financiamento. Enquanto 46 empresas europeias (unicórnios) se mudaram para os EUA, apenas uma americana fez o movimento inverso. Em termos gerais, 7,6% das empresas europeias mudaram-se para os EUA entre 2010 e 2020, contra somente 2% no sentido oposto. Das empresas europeias que se relocalizam, 55% escolhem os EUA como destino.

A instabilidade já existia antes de Trump e pode ser uma característica que está para ficar. Isabel Horta Correia, Economista e Professora de Economia na Católica Lisbon School of Business and Economics

Ricardo Reis sublinhou que os Estados Unidos poupam menos do que os europeus e têm um saldo positivo na balança de transações com a Europa, “o que significa que é dinheiro europeu que vai para os EUA para financiar as empresas europeias que se mudaram. Não há falta de capital na Europa, há falta de talento dos banqueiros”.

A estratégia de repressão financeira de Trump

“A instabilidade já existia antes de Trump e pode ser uma característica que está para ficar. Poderemos ter de tomá-la em conta quando falamos nos processos de médio e longo prazo”, argumentou Isabel Horta Correia, economista e professora de Economia na Católica Lisbon School of Business and Economics, durante a mesa-redonda com Ricardo Reis e moderada por Miguel Frasquilho. Acrescentou que os Estados Unidos continuam a ter maior resiliência e uma maior eficiência na alocação de recursos.

Se as taxas subirem 10%, haverá um declínio da riqueza mundial. As tarifas são uma tentativa de cobrar esse défice, uma tentativa errada que vai falhar. Ricardo Reis, Economista e Professor na London School of Economics

Ricardo Reis disse que “as tarifas dos EUA subiram, em média, de 2% para 9 a 10%, não 40 ou não 50%, embora com grande diversidade bilateral”. Recordou que, quando se deu o Brexit, previu que o Reino Unido ficaria entre 5 e 10% mais pobre. Dez anos depois, está “8% mais pobre do que antes do Brexit”. Por isso, se as taxas subirem 10%, haverá um “declínio da riqueza mundial”, assegurou Ricardo Reis. Para o professor da London Business School, os EUA têm um défice público de 7 a 8% do PIB, um défice na balança das transações correntes e as famílias poupam pouco em relação ao que investem. Mas Trump quer “que sejam as famílias a fazer o ajuste. As tarifas são uma tentativa de cobrar esse défice, uma tentativa errada que vai falhar”.

Ricardo Reis alerta para o risco de “repressão financeira” por parte da administração Trump, que tem duas componentes: obrigar os investidores a emprestar aos EUA e pagar-lhes menos mediante taxas de juro baixas e inflação alta. Para isso, prevê pressões sobre a Reserva Federal para implementar “taxa de juro baixa e inflação alta”.

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