Rita Bonacho: “Um drone pode ser mais preciso que um trator”
A inteligência artificial e a análise de dados podem apoiar a atividade agrícola, mas é essencial aprender a utilizar estas ferramentas.

“Se conseguíssemos investir, como por exemplo na modernização em termos tecnológicos, para que houvesse no território a fixação de pessoas, porque é inadmissível hoje termos sítios no interior do país onde não existe rede. Hoje em dia as pessoas trabalham, a internet, o acesso à rede, são quase como a água. Portanto, se não começarmos por aí, as pessoas garantidamente não se fixam no território”, referiu Rita Bonacho.
Mas para esta fixação é essencial e necessária a atratividade económica da floresta. “Tem de ser não só desafiante, mas também rentável. Porque se não é rentável as pessoas gerirem as suas próprias terras, o que vai acontecer é que temos só nómadas digitais que estão no seu belo terreno a trabalhar, mas não investem na agricultura e na floresta.”
A aprendizagem tecnológica é importante em qualquer organização, mas é preciso saber utilizar a IA, porque “falamos imenso nestas ferramentas, mas, para muitas pessoas, como a minha geração, por exemplo, temos de aprender a trabalhar com estas ferramentas. Não nascemos nesta realidade”, disse Rita Bonacho. Salientou que a IA e a análise de dados podem auxiliar a atividade dos agricultores. “O agricultor é muito focado e preocupa-se com o terreno. Há o histórico, se conseguíssemos compilar o histórico das culturas, a informação sobre o clima e o solo, podíamos garantidamente fazer algumas previsões. Podemos aprender com essas ferramentas, valorizá-las e pô-las ao nosso serviço.”
Digitalização e carbono
Rita Bonacho referiu-se ainda aos drones, que cada vez mais são importantes na agricultura e na floresta porque simplificam e melhoram tarefas, mas a sua utilização ainda não está “perfeitamente regulada, mas estamos a perder tempo”. Acrescenta que “numa altura em que se fala de biodiversidade, cuidados da regulação da água, do clima, um drone é muito mais preciso em certas situações do que um trator. Tem muito menos impacto e muito mais eficiência. Não faz sentido não estar regulado.”
“A digitalização e a IA podiam ser aproveitadas pelo Estado para aumentar a rapidez de processos. Há processos que nos fazem perder tempo e que podiam ser acelerados”, sugere Rita Bonacho em relação à digitalização na modernização do Estado.
“Os serviços do ecossistema foram um elefante branco para a floresta. O programa seria uma promessa de valorização da floresta, que tem sido constantemente adiada”, recorda Rita Bonacho. Refere que o decreto de 5 de janeiro de 2024, relacionado com serviços de ecossistemas, o Decreto-Lei n.º 4/2024, que instituiu o mercado voluntário de carbono em Portugal, tem “muitas situações que ainda não foram reguladas. Por exemplo, a plataforma para os créditos de carbono ainda não está em funcionamento”, assinalou Rita Bonacho.
Nesta 14.ª edição, os videocasts têm como foco a agricultura no feminino. Serão conversas com especialistas na área da agricultura, em várias vertentes da sustentabilidade e também da inovação, procurando perceber o papel das mulheres na agricultura, de que forma a sua liderança é diferente e quais os novos desafios e modelos que contribuem para este impacto direto no mundo rural. As candidaturas ao Prémio Nacional de Agricultura decorrem em www.premioagricultura.pt até ao próximo dia 31 de outubro.
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