"Foi o primeiro país que criou uma regulação a nível nacional para o alojamento local" explica Eduardo Miranda, presidente da Associação de Alojamento Local. "É verdade que o objectivo inicial da regulamentação não era tão visionário, era simplesmente colocar num saco aquilo que ainda não estava arrumado, mas acabou por antecipar uma tendência".
Presidente da Associação de Alojamento Local
Em Portugal conseguiu-se "criar uma moldura e uma base para dizer o que é o 'short-term renting' a nível nacional e isso é importante para o turismo porque permite enquadrá-lo na estratégia de turismo" diz Eduardo Miranda. Na Europa deixou-se esse papel para as cidades e as definições proliferaram. "Isto é mau para o turismo porque não permite que se crie a percepção do produto, não permite o controlo, a vistoria, a fiscalização. Há um grande passo a dar, e não é em termos de legislação, mas de vistoria e fiscalização" diz Eduardo Miranda.
Diversidade ajuda turismo
A democratização e popularização das viagens gerou múltiplas motivações. Segundo Eduardo Miranda, quando existe uma grande variedade de motivações de viagem, "o que faz um destino forte é a diversidade de oferta em todos os níveis, desde o alojamento ao transporte, passando pela animação turística. O fenómeno do alojamento local vem ao encontro desta busca de diversidade".
CEO do Grupo Pestana
O alojamento local transformou-se com as novas plataformas digitais e as viagens "low cost" num enorme hotel regulamentado. "O alojamento local trouxe para a luz do dia o alojamento que, por exemplo, no Algarve sempre existiu e que tinha mais quartos do que os hotéis e que era considerado ilegal" recorda José Theotónio, CEO do Grupo Pestana.
É um mercado em crescimento. Em 2016 foram registados 13 mil novos alojamentos locais, mais 50% do que existiam entre 2008 e 2015, mas a maior parte já funcionava. "O alojamento local é um termo nacional e é um saco com uma série de ofertas que antes não estavam enquadradas nem tinham enquadramento legal. Esta diversidade tem adicionado e não substituído. Os hotéis continuam a ter um papel fundamental no alojamento e o alojamento local veio trazer outro tipo de propostas" refere Eduardo Miranda. Este crescimento é a massa crítica que permite "o experimentalismo e aparecimento de novas soluções". "Dois terços do alojamento local não está nem Lisboa nem no Porto, mas em cidades de média de dimensão" referiu recentemente o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.
Os hostels são hotelaria
"Os hostels não deveriam estar no alojamento local, deveriam estar na hotelaria" refere Rodrigo Machaz. "Há uma distorção porque a filosofia do alojamento local não é a do hostel porque exigem mil coisas para se abrir um hotel. E a questão não é complicar a vida dos outros mas que descompliquem a dos hoteleiros". Para o diretor-geral do Memmo Hotels, os hostels foram muito importantes para Lisboa, tendo alguns sido considerados os melhores do mundo. "Trouxeram de regresso o lado social que os hotéis tinham perdido e que nos últimos trinta anos se tornaram espaços socialmente desinteressantes. Criaram mais momentos de contacto porque as pessoas hoje procuram autenticidade e partilha, até porque estamos numa sociedade e economia da partilha" salienta Rodrigo Machaz.