As empresas têm de pôr em causa a transição energética porque esta coloca em causa a indústria e põe em causa o seu futuro e a sua autonomia na Europa, afirmou Carlos Moreira da Silva na mesa redonda "Políticas de suporte para a reindustrialização" durante a Portugal Energy Conference que decorreu hoje no CCB em Lisboa. Na sua opinião, se não houver decisões drásticas, a Europa não sobrevive porque "não pode ser um espaço que consome 9% da energia primária e é responsável por 7% das emissões a pagar a transição energética" e a colocar em causa a competitividade das empresas europeias.
Para António Nogueira Leite, a transição energética deixa de fazer sentido quando a Europa não consegue que outros espaços económicos a sigam. Considerou que se devem tomar medidas drásticas para se recuperar a capacidade de lidar com um mundo em que não imperam as regras mas o poder. Além disso, "a Europa só vai ter um papel geopolítico para sobreviver se resolver as questões sobre a sua competitividade". Caso contrário será pasto para a Rússia, os EUA e a China.
"Portugal beneficia de um capital de confiança junto de uma multiplicidade de investidores que já não veem Portugal como uma economia de baixos salários", disse Philomène Dias, diretora da AICEP.
Sublinhou que hoje o talento em Portugal é um dos principais ativos de atração, até porque as equipas que apoiam também têm portugueses. Nas suas avaliações destacam a capacidade de resolver problemas, open-minded, work attitude, as redes de conhecimento e o mix energético.
"Somos uma ilha energética, temos um muro que nos separa da Europa e fizemos uma opção pelo não nuclear e isso impacta na indústria", disse Armindo Monteiro, presidente da CIP. Defendeu a neutralidade tecnológica para fazer escolhas racionais que "cada vez mais se baseiam no conhecimento e na inteligência e não na esperteza". Advertiu que sem energia a preços adequados não é possível ter produtos competitivos.
Fiscalidade, licenciamento e regulação
"O nosso desafio é o mais controlável porque se houver licenças a REN tem as capacidades mais que suficientes para responder a tudo o que for pedido", disse Rodrigo Costa, presidente da REN, que alertou para o facto de, se não se juntarem as peças todas, "não haverá geração suficiente para o consumo que se prevê", salientando ainda que se não houver licenciamento não há capacidade de as empresas financiarem os seus projetos.
Para Miguel Stilwell d'Andrade, CEO da EDP, a boa notícia é que vai "haver mais procura, pela primeira vez, em menos de muitos anos de estagnação, e temos preços bastante mais competitivos do que o resto da Europa. Em termos de preços grossistas, somos mais competitivos, o que chega ao consumidor tem taxas e taxinhas".
Na sua opinião, com uma abordagem mais proativa que tente antecipar um pouco esta nova geração, terão de ser introduzidos mecanismos como por exemplo os CPA, os CFD. "Não é nada novo, é preciso simplesmente garantir e executar", disse Miguel Stilwell d'Andrade. Mas reconheceu que os licenciamentos são demorados.
Por sua vez, Maria João Carioca, Co-CEO da Galp, chamou a atenção para os vários constrangimentos que afetam, como a fiscalidade em determinadas situações, os licenciamentos para novos investimentos e projetos, mas considerou que a regulação é o mais transversal e que acaba por ter mais efeitos.
"As energias renováveis são um forte atrativo de investimento, um fator de competitividade e uma forma de produção de hidrogénio renovável. Temos de garantir que está disponível e a preços competitivos", afirmou Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente e da Energia, no encerramento da Portugal Energy Conference, promovida pela Associação Portuguesa de Energia.
Referiu ainda que se continua a financiar os eletrointensivos mas "ainda longe do que fazem a França e a Alemanha". Neste sentido, adiantou que Portugal apresentou uma proposta para debater se estes volumosos apoios energéticos aos clientes industriais não devem distorcer a concorrência nem as regras do mercado único. "As regras devem ser semelhantes para todos os Estados europeus", salientou Maria da Graça Carvalho.