“A relação da Europa com os Estados Unidos baseia-se em valores, na nossa crença na democracia, no Estado de direito, na liberdade de expressão, na liberdade de imprensa”, afirmou Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido entre 2016 e 2019, que iniciou as negociações do Brexit com a União Europeia, durante o debate “Europa e Relações Transatlânticas”, incluído na conferência The Lisbon Conference: Europe and Transatlantic Relations, que assinalou o primeiro aniversário do canal Now. Contudo, reconhece que “a ordem internacional baseada em regras, apoiada por instituições multinacionais, que tem sido o nosso alicerce há décadas, está a começar a ser posta em causa”.
Jean-Pierre Raffarin apresentou uma perspetiva mais crítica. O experiente político francês, que foi primeiro-ministro entre 2002 e 2005, argumentou que “o mundo está a mudar e a mudança tem um nome, Trump, é a imagem da mudança”, sublinhando que “o presidente americano está a dizer que a Europa é um inimigo. Não somos amigos, na opinião de Trump”. Face a esta realidade, defende que “não podemos ter a nossa decisão militar nas mãos dos EUA”, é necessário “proteger a nossa soberania militar”.
Ainda assim, Jean-Pierre Raffarin acentuou que “não podemos aceitar ser inimigos e temos de definir uma nova aliança com os EUA”. Acrescentou que “precisamos de ser mais fortes porque, neste mundo, a lei está a regredir e a força está a aumentar”. O seu ponto de partida passa por uma “nova relação entre a França, o Reino Unido, que permita reforçar a soberania militar europeia.”
América na NATO
Theresa May lembrou que a invasão da Ucrânia pela Rússia fez desaparecer a sensação de que “a Europa já não queria lutar nem defender os seus valores”. Insistiu que “precisamos de manter a América na NATO” porque “é do interesse da América ter a Europa como aliada”. Considerou que a defesa europeia deve ser feita no seio da NATO, o que implica “procurar uma maior flexibilidade”, já que “o pressuposto da NATO é que todos vão juntos, todos saem juntos, no que quer que seja feito”. Defendeu ainda que os países europeus aumentem as suas despesas com a defesa. Jean-Pierre Raffarin salientou que “as nossas democracias são fracas em todo o lado” e que “não podemos ter um regime que seja a favor do povo sem o apoio do povo”.
Na sua opinião, as democracias têm de ser mais fortes para poderem ser um modelo atrativo. “Penso que o Reino Unido, a França, Portugal e muitos outros países que sabem o que é a democracia têm de construir uma aliança democrática com os EUA para promover os nossos valores, para promover o que temos de diferente relativamente a outros países.”
Relativamente aos desafios democráticos, Theresa May alertou que “há sondagens no Reino Unido, em França e nos Estados Unidos que mostram que uma geração mais jovem pensa, cada vez mais, que a democracia não é a forma de governar”.
Jean-Pierre Raffarin concluiu com uma reflexão sobre a paz.?“Temos muita escola de guerra. Não temos uma escola de paz. Não temos uma pedagogia da paz para explicar aos jovens o que é a paz”.