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Bitcoin permite alavancar ganhos, mas ouro tem historial

Artigo de Paulo Monteiro Rosa, Economista Sénior do Banco Carregosa

Negócios 13:00
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Para investidores (jogadores) com perfil mais agressivo, ativos como a Bitcoin (BTC), sobretudo com alavancagem, aumentam a probabilidade de “ganhar o jogo”, já que são apostas de curto prazo. O ouro, pelo contrário, tende a preservar valor, apesar da maior volatilidade dos últimos meses. A BTC tem um potencial de valorização elevado, mas tem também um risco mais elevado.

Ambos são ativos especulativos porque não geram rendimento. Não pagam juros, dividendos ou qualquer “cash flow”. O seu valor depende apenas de ganhos de capital, à semelhança da “teoria do tolo”, na qual cada investidor espera que, no futuro, apareça alguém disposto a pagar um preço ainda mais alto pelos seus ativos.

Apesar desta semelhança, existem diferenças de fundo. O ouro tem um historial de seis mil anos e sempre foi reconhecido pelas várias civilizações como reserva de valor. Desde as primeiras sociedades até ao chamado Novo Mundo, descoberto pelo Velho Continente há 500 anos, o ouro sempre desempenhou a mesma função de reserva de valor dos dois lados do oceano. O átomo 79 nunca foi substituído por qualquer tecnologia e continua a ser universalmente aceite.

A BTC, ao contrário do ouro, existe há apenas quinze anos e é uma tecnologia. E como qualquer tecnologia, tende a ser ultrapassada por inovações futuras. Os avanços na computação quântica e a possibilidade de “moedas quânticas” reforçam a ideia de que as “moedas tecnológicas” acabam por ser substituídas à medida que a tecnologia evolui.

A BTC evidencia uma relação muito próxima com o setor tecnológico, acompanhando de forma consistente o comportamento do Nasdaq, podendo funcionar como um “leading indicator” deste setor. Por vezes, é mesmo um verdadeiro “canary in the coal mine” do universo tecnológico, sinalizando mudanças antes de estas se tornarem visíveis nos restantes mercados.

Entretanto, surgiu um “novo paradigma” na negociação do ouro após a invasão russa da Ucrânia em 2022 e o consequente congelamento dos ativos russos no Ocidente. Desde então, parece ser evidente um regresso ao padrão-ouro, ainda que informal. O ouro afirma-se gradualmente como a principal referência monetária global, apesar de a sua utilização em pagamentos ser pouco prática devido às suas limitações físicas. A China, com reservas de 3,5 biliões de dólares, procura diversificar a sua exposição (o ouro representa 8% do total), reduzindo a dependência dos títulos do Tesouro dos EUA, em parte devido à deterioração das contas públicas americanas, mas também para mitigar o risco de eventuais medidas de confisco por parte do Ocidente.

As criptomoedas, em particular a BTC, não são uma alternativa sólida para desempenharem o papel de “ouro digital”, mas são cada vez mais úteis no dia a dia. Em África e na América Latina, onde as moedas locais desvalorizam rapidamente e parte da população não tem acesso a uma conta bancária, mas dispõe de internet e telemóvel, a BTC acaba por funcionar como a “moeda dos que não têm moeda”. Nas economias desenvolvidas, a BTC já não é apenas uma moda. Passou a ser útil pela maior confidencialidade. A sua procura tem aumentado à medida que a circulação de moeda física diminui e cresce a necessidade de maior privacidade financeira.

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