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Energia: o novo poder estratégico na era da inteligência artificial

Artigo de João Queiroz, “Head of trading” do Banco Carregosa

Negócios 17 de Novembro de 2025 às 13:00
João Queiroz do Banco Carregosa fala sobre o novo poder estratégico da energia e IA
João Queiroz do Banco Carregosa fala sobre o novo poder estratégico da energia e IA
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A afirmação recente de Satya Nadella, CEO da Microsoft, passou quase despercebida, mas encerra uma das pistas mais relevantes sobre o rumo da Inteligência Artificial. Nadella admitiu que a empresa possui GPUs H100 da NVidia instaladas… mas paradas, à espera de energia elétrica. O desafio já não está unicamente na capacidade de cálculo, mas no fornecimento energético e no espaço físico disponível. Se for tomada à letra, esta revelação sinaliza que a fronteira da IA deixou de ser tecnológica e passou a ser infraestrutural.

Esta mudança auxilia a perceber por que razão o acesso a centros de dados com produção energética própria se tornou o novo ativo estratégico. Os chips são cada vez mais fáceis de comprar; o desafio poderá ser garantir energia contínua, estável e a preços comportáveis. Cada novo centro de dados das gigantes tecnológicas - Microsoft, Google, Amazon, Meta ou Oracle - exige centenas de megawatts, num processo de ligação à rede que pode demorar anos. Assim, quem controlou antecipadamente a cadeia energética e assegurou fornecimento dedicado ganhou uma vantagem que não se replica com dinheiro.

A velocidade de expansão dos grandes operadores deixará de depender do volume de GPUs adquiridas e passará a depender da rapidez com que conseguem ligar capacidade adicional à rede. Nadella deixou ainda um aviso: comprar demasiados chips de uma geração específica pode ser um erro num momento em que a NVidia encurta ciclos e lança melhorias quase anuais. Uma GPU parada, ou em suspenso, sem energia ou arrefecimento adequado, perde valor antes mesmo de gerar um euro de receita. A ineficiência deixa de ser apenas financeira e passa a ser também temporal.

Este enquadramento reforça o racional de investimento em todo o ecossistema energético. A expansão da economia da IA dependerá menos do ritmo vertiginoso da inovação nos semicondutores e mais da capacidade de aumentar a oferta de eletricidade - desde a produção até à distribuição e ao armazenamento. A nova vantagem competitiva poderá surgir das empresas e operadores capazes de disponibilizar energia estável, escalável e com baixa volatilidade de custos, assegurando ligações rápidas à rede e infraestruturas capazes de acompanhar a procura exponencial. Num setor onde cada megawatt adicional se transforma num fator de crescimento, a energia tende a assumir o papel central que, até agora, muitos atribuíram apenas ao hardware.

A pressão sobre a rede já está a forçar os Estados Unidos a recuperar capacidade nuclear anteriormente desativada, numa tentativa de estabilizar o sistema. O paradoxo é evidente: a infraestrutura energética aproxima-se do limite, enquanto as valorizações associadas à IA continuam a refletir um otimismo quase ingénuo. O mercado parece subestimar que a inteligência artificial não cresce apenas à medida dos seus algoritmos, mas à velocidade da energia que consegue consumir. E esse poderá ser o verdadeiro preço da inteligência no século XXI.

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