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Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Dimensão da posição, a variável esquecida

Artigo de Marco António Oliveira, Administrador do Caldeirão de Bolsa

Negócios 13:00
Jogo da Bolsa 2025: aprenda a investir como um tubarão
Jogo da Bolsa 2025: aprenda a investir como um tubarão
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Nos mercados, a energia do investidor tende a orbitar em torno da escolha do ativo “certo”. O que muitas vezes sai descurado é aquela questão que decide tudo: quanto comprar (ou vender). O controlo da exposição é a falha recorrente que separa uma boa ideia, a priori, de um mau resultado no final. Seja num jogo de curta duração como o Jogo da Bolsa, seja na negociação real, tentar acertar na direção sem calibrar a dose é meio caminho andado para um “drawdown” (i.e., queda do valor da carteira) potencialmente desastroso. E o inverso também é verdade: escolhas medianas mas bem dimensionadas podem produzir trajetórias robustas a prazo.

Uma regra simples e prática é operar com percentagens de risco por trade. Em lugar de alocar uma percentagem fixa do capital (ex.: 10%), arriscar uma percentagem do capital (ex.: 1%) caso o “stop-loss” seja atingido. Ou seja, calcular a dimensão da posição para que, caso o “stop-loss” seja atingido, a perda corresponda a esse 1% da carteira. Naturalmente, o “stop” é para cumprir, caso contrário vai ao ar não só o plano do trade como também o controlo do risco. Mas onde colocar o “stop”? Duas abordagens simples: níveis técnicos (suportes/resistências) que invalidam o racional do trade; ou stops técnicos baseados na volatilidade do ativo, utilizando, por exemplo, o ATR (Average True Range). Um stop a 1,5x ATR estará, por natureza, calibrado à volatilidade do ativo: se este é (ou está) mais “nervoso”, precisará maior “folga” no “stop”. Consequentemente, a maior perda potencial implicará uma posição menor, mantendo o risco constante.

Podem acrescentar-se travões de comportamento como limites de perda diários e semanais. Se um é atingido, reduzir a posição. Se ambos disparam, parar e rever. Aqui o objetivo não é apenas proteger o capital mas também a componente emocional. Sequências de perdas podem empurrar o investidor para decisões irracionais. Aliás, será oportuno dizer: se as perdas geram desconforto emocional, é sintoma de que a estratégia e o perfil de risco estão desalinhados.

Outro erro frequente é executar um “all-in” disfarçado por força da correlação entre ativos. Cinco posições diferentes podem, na prática, corresponder a uma única aposta macro (mesmo setor, sensibilidade ao mesmo fator, mesmo motor). Aqui, a solução é pensar em clusters de risco: se três posições correspondem ao mesmo motor, então tratá-las com uma posição única para efeitos de exposição. Diversificar não é meramente adicionar “tickers”, mas sim acautelar que a carteira seja composta por ativos com comportamentos diferenciados.

É inevitável falar também do critério de Kelly. Influenciado pelos desenvolvimentos de Claude Shannon, seu colega na Bell Labs, Kelly desenvolveu uma fórmula que procura maximizar a taxa de crescimento logarítmico do capital ao longo de uma série de apostas (trades). Seria matéria para um artigo. Mas a intuição é simples: quanto maior for a vantagem esperada e menor a volatilidade, maior o tamanho ótimo; por contraste, se a vantagem esperada é pequena ou o ativo volátil, o tamanho ótimo decresce.

Num concurso com capital virtual, a tentação é ignorar estes princípios. Afinal, o dinheiro não é real. Mas os hábitos formam-se na prática e o dimensionamento descuidado hoje poderá traduzir-se em perdas reais amanhã. Além disso, mesmo no contexto do Jogo, há que sobreviver para poder ganhar. Quem “explode” com a carteira na primeira semana fica fora da corrida, por mais “boas ideias” que tenha. Dimensionar cada posição permite atravessar as más sequências e capitalizar os bons momentos. No Jogo da Bolsa e na negociação real.

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