A coexistência entre ativos tradicionais e digitais nos mercados financeiros enfrenta um obstáculo inesperado, a dificuldade em explicar conceitos tecnológicos complexos a investidores de gerações mais velhas. O alerta foi deixado por Paulo Carvalho Martins, responsável pela área de cibersegurança da Euronext, no debate “IA nos Mercados Financeiros: Revolução ou Risco?”, integrado na Grande Conferência ‘O Futuro dos Mercados Financeiros’, organizada pelo Jornal de Negócios e pelo Banco Carregosa, que teve lugar no ISCTE. O especialista defendeu uma revolução na educação financeira e tecnológica. “Penso nas pessoas de 40, 50, 60, 70 anos, a quem vou chegar e não vou conseguir explicar o que é encriptação ou desencriptação quântica, porque com o algoritmo pós-encriptação quântica a pessoa já não vai conseguir perceber o que é o ativo”, confessou Paulo Carvalho Martins, sublinhando que a compreensão do ativo subjacente é fundamental, seja ele físico ou digital.
Esta barreira técnica contrasta com crises anteriores. “Tivemos várias crises e várias situações menos boas nos mercados, porque quando o ativo subjacente era conhecido e a pessoa sabia o que tinha, conseguia ver a casa e perceber a capacidade de pagamento da dívida”, recordou Paulo Carvalho Martins. Com os ativos digitais, essa transparência é muito mais difícil de alcançar.
“A pessoa tem de perceber o que está por trás. E esta literacia tecnológica, como já referi antes, é muito importante”, insistiu. Apesar dos desafios, o responsável da Euronext mostrou-se confiante na coexistência entre ativos tradicionais e digitais. “É possível a coexistência. E, como já acontece hoje na Euronext, esta convivência entre o ativo digital e o ativo físico é algo que já se faz há vários anos e vai continuar a fazer-se”, garantiu Paulo Carvalho Martins.
A aposta portuguesa na Inteligência Artificial
A Euronext escolheu Portugal, especificamente o Porto, para sediar um dos seus centros tecnológicos focados em inteligência artificial. “Temos um centro tecnológico com muitas competências em IA e acreditamos bastante nos portugueses”, revelou com orgulho.
“Um dos centros tecnológicos do grupo é em Portugal, no Porto, com engenheiros portugueses, formados em universidades portuguesas, com grandes capacidades tecnológicas nas áreas da inteligência artificial, criptografia e estudos avançados de engenharia”, detalhou Paulo Carvalho Martins, confirmando que “foi uma das apostas do grupo em Portugal”.
A estratégia interna passa pela formação intensiva. “Estamos a trabalhar nesta área, ou seja, a treinar as pessoas para saber o que é a inteligência artificial para o bem”, explicou Paulo Carvalho Martins, acrescentando que a empresa está a investir em “educação, formação e treino sobre o que é a inteligência artificial e como utilizá-la da melhor forma”.
Olhando para o futuro, o responsável pela área de cibersegurança da Euronext antecipou a próxima revolução. “A inteligência artificial permite-nos aumentar a capacidade e a análise de dados. E, como já foi referido anteriormente, a computação quântica irá, no futuro, aumentar de forma significativa a capacidade de processamento de dados.” Para Paulo Carvalho “a inteligência artificial, aliada à computação quântica, será realmente a próxima grande evolução tecnológica”. Esta transformação torna ainda mais urgente a necessidade de literacia tecnológica dos investidores, sob pena de criar um fosso intransponível entre gerações nos mercados financeiros.