Ana Rosas Oliveira: “Precisamos de um setor mais tecnológico e valorizado socialmente”
“Há a necessidade de rejuvenescer o setor, incentivando mais jovens a ingressarem em licenciaturas e mestrados associados ao setor”, afirmou Ana Rosas Oliveira, administradora executiva do BPI, no âmbito da 14ª edição do Prémio Nacional de Agricultura (PNA), uma iniciativa do Jornal de Negócios, Correio da Manhã e BPI, com o apoio da PwC e do Ministério da Agricultura e Mar. Acrescenta que “a resposta económica do setor tem sido positiva tanto para a procura interna como externa. Os novos hábitos alimentares têm conduzido a um aumento do consumo de produtos de origem vegetal e originários de agricultura biológica”.
Quais são as expectativas relativamente à edição deste ano, a 14.ª do Prémio Nacional de Agricultura, e que balanço faz das edições anteriores?
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As expectativas são elevadas. Esperamos, mais uma vez, receber candidaturas de projetos com impacto e com um contributo claro para a modernização da agricultura. A experiência das edições anteriores mostra a crescente qualidade dos projetos, o que tem tornado cada vez mais exigente a tarefa dos membros do júri e dos comités de avaliação, sendo um excelente sinal para o setor. Todos os anos recebemos centenas de projetos de grande qualidade, uma evidência de um setor que aposta na inovação e na sustentabilidade. Nas 13 edições anteriores, o PNA atribuiu um total de quase 160 prémios e menções honrosas. Foram igualmente distinguidas doze personalidades que contribuíram para o desenvolvimento da agricultura em Portugal, números que refletem o impacto e a relevância desta iniciativa.
Quais são os principais desafios para o setor agrícola e florestal em Portugal?
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O setor agrícola e florestal tem uma enorme importância não só na economia portuguesa, mas também no plano social e ambiental. Em termos económicos, o setor agroflorestal é um dos mais desafiantes: a escala das empresas, a escassez de mão de obra, a exposição ao aumento dos preços, a necessidade de investimento em inovação e sustentabilidade, as condições climatéricas e mais recentemente as alterações climáticas são alguns dos exemplos dos desafios que o setor enfrenta. Na vertente ambiental, o país e o setor têm conseguido encontrar soluções para ultrapassar as condições meteorológicas desfavoráveis associadas, por exemplo a secas prolongadas, através da construção e manutenção de barragens em várias zonas do país, destacando-se naturalmente o Alqueva. Ainda assim, este continuará a ser um desafio a longo prazo.
Como está a agricultura portuguesa a responder aos novos hábitos de consumo e exigências do mercado?
A resposta económica do setor tem sido positiva tanto para a procura interna como externa. Os novos hábitos alimentares têm conduzido a um aumento do consumo de produtos de origem vegetal e originários de agricultura biológica. Nesse plano, a produção agroalimentar em Portugal tem respondido eficazmente, com a produção vegetal a aumentar (mais 22,4% face a 2019), face, por exemplo, à produção animal (mais 5% face a 2019). Além disso, no ano passado, o saldo comercial conjunto das rubricas vegetais mais associadas a esses novos hábitos (hortícolas; frutas e cascas; sementes e frutos oleaginosos, plantas industriais; e cereais) também registou um comportamento muito positivo (mais 268,7 milhões). Da mesma forma, a percentagem de área utilizada para agricultura biológica tem vindo a aumentar sistematicamente desde 2019 e praticamente quadruplicou (22,5% em 2023 vs. 5,7% em 2018, segundo o Eurostat). Estes dados confirmam a transformação do consumo, onde a sustentabilidade e a inovação passam a ser fatores determinantes de escolha.
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Um dos problemas da agricultura é o envelhecimento dos agricultores e também a diminuição de alunos nos cursos superiores ligados à agricultura. Como se poderia melhorar a atratividade do setor agrícola e florestal?
É verdade que há a necessidade de rejuvenescer o setor, incentivando mais jovens a ingressarem em licenciaturas e mestrados associados ao setor. É importante fomentar a inovação e a partilha de ideias entre a universidade e as empresas através de projetos de investigação e o desenvolvimento de parcerias estratégicas com empresas tecnológicas, tanto para impulsionar a tecnologia e métodos utilizados como para atrair talentos de setores intensivos em conhecimento e inovação. Precisamos de um setor mais tecnológico e valorizado socialmente.
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A 14ª edição do Prémio Nacional de Agricultura (PNA) é uma iniciativa do Jornal de Negócios, Correio da Manhã e BPI, com o apoio da PwC e do Ministério da Agricultura e Mar. As candidaturas para a 14ª edição do Prémio Nacional da Agricultura estão abertas até 8 de novembro de 2025, no site premioagricultura.pt. Tem por objetivo promover, incentivar e premiar os casos nacionais de sucesso nos setores da agricultura, agroindústria, florestas e pecuária e conta com três categorias. Sustentabilidade, Novos Projetos e Inovação.
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O défice comercial agroalimentar diminuiu em 2024, pela primeira vez desde 2020, motivado principalmente pelo aumento de exportações das gorduras, óleos e cereais.
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Espanha representa mais de 40% da procura externa agroalimentar, seguida com uma larga distância pela França (9,3%) e Itália (8%), sendo que os Estados Unidos apenas representam 2,2%. Por isso, Ana Rosas de Oliveira, administradora executiva do BPI, entende que “globalmente, as exportações agrícolas poderão sofrer menos com as tarifas comerciais do que outros setores, visto que o nosso principal mercado”..
Os fundos comunitários têm sido cruciais para o desenvolvimento e modernização da agricultura. Quais são as suas expectativas relativamente ao impacto do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) - 2023-2027 e como avalia a sua execução?
O PEPAC é uma ferramenta com potencial para transformar o setor agroflorestal a médio-longo prazo, nomeadamente no que se refere aos apoios aos pequenos agricultores e à produção integrada. Pode também contribuir para impulsionar a inovação e aplicação da tecnologia em Portugal, ao promover uma maior eficiência na gestão de recursos, maior investimento na modernização da maquinaria, incentivos à instalação de jovens agricultores e à otimização da gestão de riscos. A execução do PEPAC tem mostrado progressos, mas é importante acelerar a sua execução nos próximos anos.
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A situação do comércio internacional está mais instável, assistimos a uma reintrodução das taxas alfandegárias e os efeitos das alterações climáticas estão mais intensos. Hoje a agricultura tem um risco maior para os bancos como o BPI?
Não há uma preocupação específica com o setor agrícola. O BPI mantém um acompanhamento contínuo dos setores potencialmente afetados pelos impactos de riscos geopolíticos, climáticos e de políticas comerciais por parte das principais economias. No entanto, entendemos que, globalmente, as exportações agrícolas poderão sofrer menos com as tarifas comerciais do que outros setores, visto que o nosso principal mercado, Espanha, representa mais de 40% da procura externa agroalimentar, seguida com uma larga distância pela França (9,3%) e Itália (8%), sendo que os Estados Unidos apenas representam 2,2%. Apesar do contexto internacional desafiante, o setor agroalimentar português tem demonstrado resiliência e capacidade de adaptação.
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A agricultura portuguesa tem vindo a reforçar as exportações. Considera que num contexto de grande incerteza é possível reforçar o crescimento das exportações de produtos agrícolas? É possível equilibrar a balança comercial agrícola?
O défice comercial agroalimentar diminuiu em 2024, pela primeira vez desde 2020, motivado principalmente pelo aumento de exportações das gorduras e óleos e dos cereais. Acreditamos que é possível continuar a crescer, sendo para tal importante continuar a reforçar o investimento em investigação e desenvolvimento, bem como a diversificar os mercados para exportação, garantindo uma trajetória sustentável para equilibrar a balança comercial. O BPI continuará a estimular e apoiar as empresas exportadoras, disponibilizando soluções de financiamento adaptadas à nova realidade global.
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