
A App CTT, até aqui sobretudo associada aos serviços postais digitais, tornou-se em 2024 uma das primeiras aplicações não financeiras em Portugal a permitir a subscrição de produtos de poupança do Estado. Com a funcionalidade Aforro Digital, passou a ser possível abrir e gerir contas de Certificados de Aforro e Obrigações do Tesouro, realizar simulações de retorno, acompanhar em tempo real a evolução das poupanças e subscrever novos títulos de forma 100% online.
O projeto foi concebido para responder às exigências de um público cada vez mais digital, que procura experiências intuitivas, rápidas e acessíveis no momento de investir. Ao permitir que até pequenos montantes possam ser aplicados em produtos de poupança do Estado, a solução democratizou o acesso ao investimento, abrindo caminho a uma nova geração de aforradores. Foi precisamente esta inovação que valeu aos CTT o Prémio Nacional de Inovação 2025, no segmento Negócio, subcategoria Banca, Seguros e Serviços Financeiros. A distinção reconhece não apenas o impacto da solução, mas também a sua importância para a modernização do setor e para a inclusão financeira em Portugal.
O percurso até ao lançamento demonstra a ambição e a rapidez de execução do projeto. A ideia foi trabalhada ao longo de 2023, a funcionalidade chegou ao mercado em agosto de 2024 e, logo em janeiro de 2025, atingiu-se um valor recorde de subscrições, com 50 milhões de euros investidos através da plataforma. Um resultado expressivo que consolidou a confiança dos clientes e validou a aposta da empresa numa nova geração de serviços digitais.
“Apesar das equipas reduzidas, os CTT lançaram com sucesso uma plataforma financeira segura e acessível, fortalecendo a confiança dos clientes e redefinindo a forma como os produtos de poupança são acedidos digitalmente”, lê-se na sinopse do projeto.
Basicamente, o Aforro Digital não só redefiniu a forma como os portugueses acedem aos Certificados de Aforro e às Obrigações do Tesouro, como também posicionou os CTT como um protagonista ativo na integração de serviços financeiros no universo digital.
Uma ‘super app’
Nuno Matos, diretor de Digital, Novos Canais e Inovação dos CTT, explicou ao Negócios que a decisão de integrar o aforro digital na App CTT surgiu da ambição de transformar a aplicação “numa verdadeira ‘super app’ de serviços essenciais e digitalmente inclusiva”. Ao mesmo tempo, esta evolução procura “democratizar o acesso aos Certificados de Aforro e do Tesouro, e posicionar os CTT como um canal digital de referência para produtos financeiros do Estado”, acrescenta.
A aposta tinha também uma dimensão de proximidade. Ao abrir mais um canal digital, a empresa quis simplificar a vida de milhares de aforristas. Como sublinha o responsável, “esta funcionalidade foi mais um importante passo dos CTT para apoiar os aforristas na aplicação das suas poupanças, com toda a segurança e conveniência”.
O processo de transformação, conduzido ao longo de 2024, foi pensado de forma ágil e colaborativa. Segundo Nuno Matos, a integração dos serviços financeiros exigiu articulação estreita com a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) e o desenvolvimento de um conjunto de funcionalidades críticas, desde a simulação de investimentos até à consulta de certificados, passando pela autenticação através da Chave Móvel Digital.
O percurso foi progressivo: começou com um piloto interno em fevereiro e culminou com o lançamento ao público em julho, que foi um “enorme sucesso”. “Em menos de um ano ultrapassámos os 100 milhões de euros em subscrições e mais de 50 mil utilizadores”, sublinha.
A rapidez do processo escondeu, no entanto, vários desafios. Um dos mais relevantes foi o enquadramento legal e de segurança. “Os principais desafios incluíram a realização de um DPIA (Data Protection Impact Assessment) e testes de segurança rigorosos para posicionar a app como uma app financeira”, refere o diretor de Digital, Novos Canais e Inovação dos CTT.
A isto somaram-se a necessidade de assegurar uma experiência intuitiva, mesmo para utilizadores com baixa literacia digital, e a validação legal e técnica junto da AMA - Agência para a Modernização Administrativa - para garantir total conformidade nos mecanismos de autenticação.
Apesar da complexidade, os CTT conseguiram entregar a solução em tempo recorde. O segredo, explica Nuno Matos, esteve no trabalho de equipas “reduzidas mas altamente especializadas, com forte coordenação entre as áreas de Digital, Produto e Tecnologia”. A aposta em metodologias ágeis, entregas incrementais e uma articulação próxima com stakeholders internos e externos foi determinante para o sucesso.
Mercado respondeu
O mercado respondeu de imediato. Até junho de 2025, mais de 50 mil utilizadores já se tinham registado no serviço, com um valor médio de subscrição de 3.309 euros. O peso desta funcionalidade no ecossistema dos CTT não para de crescer. “Mais de 10% do total de operações dos CTT relacionadas com aforro são realizadas através da app, tendo esta representatividade vindo a crescer consistentemente desde o lançamento”.
Embora o perfil mais ativo seja o de utilizadores digitalmente autónomos, a simplicidade do processo tem atraído públicos menos familiarizados com ferramentas digitais. “Há também uma crescente utilização por públicos menos ‘digitais’, graças à simplicidade e segurança do processo”, nota o responsável.
Há ainda clientes que utilizam a app de forma recorrente, subscrevendo mensalmente, o que revela confiança e hábito no novo canal digital.
Ou seja, desde o lançamento em agosto de 2024, o Aforro Digital da App CTT tem registado uma trajetória de crescimento contínuo e expressiva. Logo nos primeiros três meses, o número de utilizadores da aplicação aumentou 25%, sinal claro da recetividade dos clientes à nova funcionalidade.
Em menos de um ano, os CTT ultrapassaram a barreira dos 50 mil utilizadores e alcançaram 100 milhões de euros em subscrições via app. O crescimento é sustentado: o valor médio diário investido já supera os 600 mil euros, com picos diários acima de 1 milhão.
Para Nuno Matos, estes números confirmam a relevância estratégica do projeto. A introdução desta solução marca também um novo posicionamento para a empresa. O responsável salienta que o Aforro Digital representa “a entrada dos CTT na distribuição digital de produtos financeiros do Estado, reforçando o seu papel facilitador do acesso nomeadamente à poupança pública, com foco na conveniência, segurança e inclusão”.
Esse papel inclusivo é um dos eixos centrais da estratégia. Ao permitir a subscrição digital de Certificados de Aforro e Obrigações do Tesouro, os CTT querem chegar não só a clientes digitalmente autónomos, mas também a públicos menos bancarizados ou menos habituados às ferramentas digitais. Como explica Nuno Matos, “o projeto visa precisamente incluir estes públicos, oferecendo uma alternativa digital simples e segura à tradicional subscrição em balcão. A integração com a Chave Móvel Digital e a experiência omnicanal da App CTT são fatores-chave para promover a inclusão financeira”.
A visão de futuro
A visão de futuro é clara: transformar a App CTT na já mencionada ‘super app’ de serviços. Atualmente, a aplicação assenta em três grandes pilares - enviar e receber, gerir e pagar, e agora poupar e proteger. Ms a ambição é ir mais longe. “O objetivo é continuar a expandir funcionalidades que respondam às necessidades dos cidadãos, reforçando o papel dos CTT como facilitador da vida digital dos portugueses”, sublinha o responsável.
A distinção com o Prémio Nacional de Inovação veio reforçar essa trajetória. Para Nuno Matos, este prémio é “o reconhecimento do esforço coletivo de uma equipa pequena, mas altamente comprometida, que conseguiu entregar um projeto transformador em tempo recorde.”
O impacto é ainda maior pelo facto de os CTT terem vencido numa categoria que não é a sua área tradicional: “É também a validação da visão estratégica dos CTT para o digital e a inovação centrada no cliente. O impacto deste reconhecimento é ainda maior pelo facto de termos vencido numa categoria que não é a nossa categoria natural - retalho/logística - mas sim na categoria financeira, onde competimos com bancos e seguradoras, setores tradicionalmente muito fortes em inovação. Isso enche-nos de orgulho e reforça a certeza de que estamos no caminho certo”.
Mas o prémio não fecha o ciclo, antes aumenta a responsabilidade. O diretor de Digital, Novos Canais e Inovação dos CTT sublinha que os CTT já estão a trabalhar em novas funcionalidades para o Aforro Digital, incluindo abertura de conta aforro, resgates e outros mecanismos que permitam “aos portugueses continuar a poupar com toda a comodidade”.