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Assumiu a liderança da HP Portugal em outubro de 2024, mas a casa não lhe é estranha. Com mais de duas décadas e meia de experiência no mercado de TI, Pedro Coelho entrou neste novo ciclo com plena consciência do que o esperava. Encontrou uma equipa ágil, experiente e determinada a inovar, com profundo conhecimento do mercado nacional e uma vontade permanente de servir melhor os clientes.
Do lado das dificuldades, destaca a incerteza como o maior desafio atual. As oscilações económicas, as tensões geopolíticas e as possíveis alterações regulatórias criam um ambiente instável. A aprendizagem passa por "saber conviver com essa instabilidade e fazer dela um motor de preparação", diz Pedro Coelho no InovCast, o podcast do Prémio Nacional de Inovação.
O mercado português de TI surpreendeu-o pela positiva. Está a crescer. "Acabou por revelar-se mais resiliente do que seria de esperar", afirma Pedro Coelho. E explica esta posição. "Após termos atravessado um cenário marcado pela necessidade de gerir a inflação e o aumento das taxas de juro, se acrescentarmos a isso as tensões geopolíticas e toda a incerteza em torno de eventuais alterações regulatórias, seria expectável que o mercado de TI em Portugal não registasse crescimento. Mas não é isso que estamos a verificar. O mercado de TI está a crescer e, em algumas categorias, esse crescimento atinge mesmo dois dígitos, um sinal claro de que se trata de um mercado saudável."
O mercado está a recuperar, em muitas categorias, os níveis anteriores à pandemia, inclusive com crescimentos superiores aos registados em 2019. "Tudo indica, por isso, que estamos perante um mercado robusto que, acredito, continuará a crescer ao longo de 2026."
Personalização e IA ao serviço da produtividade
A evolução do posto de trabalho está diretamente ligada à personalização da experiência de cada colaborador. Depois de um período em que muitas empresas equiparam os seus profissionais de forma urgente, durante a pandemia, chega agora o momento de repensar as ferramentas tecnológicas com maior racionalidade e "colocar a tecnologia ao serviço de um novo paradigma de trabalho, onde a HP quer ajudar as organizações a adaptarem-se a um modelo de trabalho mais ágil, mais colaborativo e mais centrado nas pessoas", diz Pedro Coelho.
As organizações procuram soluções adaptadas ao perfil de cada utilizador e às exigências específicas de cada função. É aqui que a inteligência artificial ganha um papel central. Para Pedro Coelho, "a IA deve ser uma aliada discreta, quase invisível, mas altamente eficaz." Um computador que deteta ruído de fundo e o elimina automaticamente em chamadas de vídeo, ou que ajusta o brilho do ecrã conforme a luz ambiente, é um exemplo de como a tecnologia pode libertar o utilizador de tarefas acessórias.
Esta abordagem estende-se a outros equipamentos. As impressoras, por exemplo, reconhecem o tipo de conteúdo e a sugerir o formato ideal de impressão. São pequenos gestos automáticos que, somados, fazem uma diferença significativa na experiência de trabalho.
Com os equipamentos a integrarem cada vez mais capacidades de IA, a tecnologia começa a agir proativamente, ajudando a antecipar necessidades e a tornar a jornada de trabalho mais produtiva e eficiente.
Flexibilidade e bem-estar no novo modelo de trabalho
Com o modelo de trabalho híbrido consolidado, as organizações enfrentam o desafio de criar ambientes que respeitem o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. Para muitos profissionais, a fronteira entre o tempo de trabalho e o tempo pessoal tornou-se mais difusa, levando a níveis elevados de cansaço e desmotivação.
Pedro Coelho reconhece essa realidade e destaca a importância de "criar rotinas mais saudáveis." Algumas soluções tecnológicas já permitem, por exemplo, sinalizar quando um utilizador passa demasiado tempo em frente ao ecrã ou sugerir pausas e atividades físicas.
Mas o equilíbrio não pode depender só da tecnologia. Exige também uma nova cultura organizacional, com maior autonomia para os colaboradores e estilos de liderança que incentivem a confiança em detrimento do controlo. Com as equipas de TI sobrecarregadas, a experiência, a produtividade e o envolvimento dos colaboradores ficam em risco sem uma plataforma unificada que permita resolver problemas proativamente. A HP deu resposta a essa necessidade com o desenvolvimento de plataformas como a Workforce Experience Platform (WXP), que recolhe e analisa dados para avaliar o grau de satisfação dos utilizadores com o seu ambiente de trabalho.
Para Pedro Coelho, "investir na experiência dos colaboradores é um imperativo. Não se trata apenas de uma questão de bem-estar. É uma estratégia de retenção de talento e de valorização das equipas."
Uma nova liderança para um novo mundo do trabalho
A transformação tecnológica exige também uma transformação na forma de liderar. O estudo Work Relationship Index, promovido pela HP, revela que uma minoria dos profissionais (28%) afirma ter uma relação saudável com o trabalho. Este número, que se mantém praticamente estagnado, mostra que muitas empresas continuam a falhar no apoio às suas equipas. "O problema não está na tecnologia disponível, mas também na forma como as lideranças encaram o seu papel."
Gerir equipas híbridas implica no entender de Pedro Coelho "delegar, abdicar de um controlo excessivo e confiar na autonomia dos profissionais." Esta transição, reconhece, "nem sempre é fácil, mas tornou-se inevitável." A pandemia foi um catalisador de mudança. Hoje, a política de trabalho remoto é uma das primeiras perguntas colocadas por candidatos em entrevistas de emprego.
Pedro Coelho acredita que as empresas portuguesas estão a fazer esse caminho. E que, com o tempo, a liderança tradicional dará lugar a uma abordagem mais focada nas pessoas, na empatia e na capacidade de adaptação.
"Quem lidera tem de saber escutar, compreender e preparar as suas equipas para uma nova realidade. O futuro do trabalho será moldado por líderes capazes de unir tecnologia, estratégia e humanismo."
Ecossistemas de inovação e preparação para o futuro
A tecnologia não se desenvolve em laboratório fechado. A HP mantém parcerias com universidades e startups, recolhendo contributos valiosos sobre as tendências que estão a emergir. "O objetivo não é apenas inovar. É antecipar necessidades e desenvolver soluções que estejam prontas quando o mercado as exigir", explica Pedro Coelho.
O gestor defende que a inovação deve começar com projetos piloto bem definidos. "É preciso saber por onde começar, medir os resultados e escalar com base no sucesso." Esta lógica aplica-se também à inteligência artificial, cuja adoção deve ser feita de forma gradual, estratégica e orientada para resultados.
O futuro do trabalho será marcado por duas grandes tendências. A primeira é a inteligência artificial a correr localmente nos equipamentos, reduzindo a latência, reforçando a privacidade e diminuindo os custos. A segunda é a computação contextual, com equipamentos que percebem o que está a acontecer e se adaptam automaticamente para responder melhor ao utilizador.
Pedro Coelho acredita que estamos no início dessa transformação. E que as empresas que souberem liderar esta mudança estarão melhor preparadas para o futuro.