
De Braga para o mundo, uma solução pioneira que combate a pirataria de conteúdos desportivos em tempo real. A Randy Labs desenvolveu o DRE - Digital Rights Enforcement, uma plataforma baseada em inteligência artificial capaz de identificar transmissões ilegais com rapidez e precisão. O seu impacto é já visível em diversos mercados e valeu-lhe a distinção no Prémio Nacional de Inovação (PNI), no segmento Negócio, sub-categoria de recnologia, Media e Telecomunicações.
A ideia nasceu de uma necessidade urgente: “Combater a pirataria online de forma eficaz, especialmente em contextos de transmissão em direto”, começa por explicar Carlos Martins, CEO da Randy Labs, startup criada em Braga. É um sistema evoluído, que permite“identificar, monitorizar e agir em tempo real”.
Portugal, segundo o executivo, foi pioneiro neste combate, ao tornar-se o primeiro país da União Europeia a implementar bloqueios dinâmicos por IP em tempo real. “Este modelo inovador, que conjuga tecnologia com um enquadramento legal eficiente, rapidamente se tornou uma referência a nível internacional”, sublinha. O sucesso do modelo português incentivou o desenvolvimento de soluções mais ambiciosas e a Randy Labs decidiu avançar com um princípio claro: “Se o consumidor consegue aceder a fontes piratas de conteúdo, a nossa IA também tem de o conseguir”.
O fim da validação humana
Antes do DRE, o mercado estava dominado por duas abordagens consideradas ineficazes pela empresa: a análise manual e o uso de software instalado junto dos operadores de rede. “Quisemos desde o primeiro dia criar algo radicalmente diferente, sem necessidade de pessoas na dagens consideradas ineficazes pela empresa: a análise manual e o uso de software instalado junto dos operadores de rede. “Quisemos criar algo radicalmente diferente, sem necessidade de pessoas na captura de fontes ilícitas ou validação de evidências, e sem qualquer necessidade de instalar software”.
Bastaria identificar qual o evento desportivo a monitorizar e a IA trataria do resto: “Fontes ilícitas, captura de provas, evidências visuais e capturas forenses de rede para apoio à prova”, enumera Carlos Martins. A diferença face à tecnologias clássicas como DRM, watermarking ou fingerprinting é clara: “Essas técnicas não acompanharam a evolução tecnológica”, considera o CEO da startup Randy Labs.
Tudo isto faz do DRE “o produto mais avançado do mundo nesta área”, garante.
A chave do sistema é a forma como a inteligência artificial interpreta o conteúdo. “Desenvolvemos um software que ‘vê’ como um humano”. Em cerca de 200 milissegundos, a IA identifica o desporto, as equipas, os jogadores e os patrocinadores. Mesmo com alterações introduzidas por piratas - cortes na imagem, reencodificação, alterações no branding - a Randy Labs consegue determinar, com 99,9% de precisão, qual o evento e se o fornecedor é autorizado.
O DRE foca-se no conteúdo que os piratas não conseguem alterar: “O campo de futebol, o carro de Fórmula 1, o Cristiano Ronaldo a marcar um golo - isso permanece”. O sistema atua sobre o conteúdo em si, e não sobre o canal de transmissão. “Um dos nossos clientes, com direitos desportivos centralizados, consegue hoje saber em tempo real qual o seu conteúdo mais pirateado no mundo - e por quem.”
A cadeia do crime digital
O maior desafio técnico tem sido o trabalho com os grandes fornecedores de serviços cloud, onde muitas vezes os mesmos sistemas que protegem clientes legítimos são também usados para escudar piratas. “Assistimos nos últimos anos a uma migração massiva dos serviços pirata para fornecedores cloud líderes mundiais”, denuncia. A IA da Randy Labs consegue mapear toda esta estrutura e notificar os intervenientes. Os bloqueios dinâmicos revelam-se cruciais. “Portugal foi pioneiro, seguiram-se Itália, Espanha, Brasil, Arábia Saudita, Índia”, enumera. Em muitos destes países, a própria Randy Labs tem contribuído para a formulação legal. No futuro “a eficácia dependerá também de obrigações claras para os próprios fornecedores de cloud em dar resposta rápida e eficaz a pedidos de takedown”.
Sem fricção, em modelo SaaS
A integração do DRE com os clientes, sejam broadcasters, plataformas ou autoridades, é feita em poucas semanas. Primeiro, treina-se a IA com informação relevante: nomes de equipas, atletas, patrocinadores. Depois, agenda-se o evento a monitorizar e o sistema atua em tempo real.
“O nosso ROI é medido pela eficácia da deteção e do takedown”, afirma. Há clientes que acompanham os jogos com o dashboard da Randy Labs lado a lado. “Tivemos um PoC com um cliente em que o CEO e o CBO passaram os 90 minutos a olhar para a nossa ferramenta - e confessaram que foi mais interessante do que o próprio jogo”, recorda.
O modelo SaaS permite uma escalabilidade sem precedentes. “Entregamos resultados sem nenhum modelo complexo”. Sem instalar software, sem envolver equipas de TI, sem hardware adicional e com capacidade para crescer de 5.000 para 10.000 evidências em poucos minutos, esclarece Carlos Martins.
Os resultados são expressivos. Um cliente ligado ao desporto reportou uma redução de 60% da pirataria no seu país. Outro conseguiu aumentar a base de clientes mesmo com subida de preços.
Na América Latina, o DRE demonstrou uma eficácia 20 vezes superior face à tecnologia usada pelo líder mundial da concorrência. A inteligência artificial aprende com cada novo mercado, o que permite detetar padrões inesperados - como a descoberta de “uma enorme oferta de serviços ilegais na América Latina com canais portugueses ativamente promovidos e mantidos”. O feedback mais recorrente é o da surpresa. “Em todos os PoC, sem exceção, os clientes ficam surpreendidos com o volume de evidências de pirataria”. A curva de aprendizagem da IA acelera os resultados. “Um dos nossos clientes experienciou um crescimento de 300% da primeira jornada para a última”.
O impacto é global mas o caminho faz-se em rede. “Fomentamos o contacto entre clientes para a partilha de histórias e indicadores de sucesso”.
Distinção que abre portas
A recente distinção com o Prémio Nacional de Inovação validou o caminho percorrido, como reconhece o responsável máximo da empresa. “Representa um reconhecimento público do valor tecnológico e estratégico do nosso trabalho”. diz Carlos Martins. Mais do que um prémio, considera-o um ponto de partida para novos mercados. “Abre portas para novas parcerias internacionais, reforça a nossa credibilidade junto de reguladores e broadcasters, e acelera a expansão da solução DRE para novos mercados e verticais”. Depois da Europa e América do Sul, a Randy Labs prepara-se para entrar no Médio Oriente e América do Norte. Com tecnologia portuguesa, uma missão clara e resultados mensuráveis, conclui o CEO da startup. Um exemplo claro de inovação.