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Walter Duarte: “Inovação sem aplicação prática é apenas um bom discurso”

Reconhecido com o Troféu Innovation Champion na 3.ª edição do Prémio Nacional de Inovação, Walter Duarte defende uma abordagem prática e inclusiva à inovação. À frente da ID8, ajuda organizações a transformar ideias em impacto real.

15 de Julho de 2025 às 14:00
Walter Duarte recebe o Prémio Nacional de Inovação 2025 pela sua abordagem à inovação
Walter Duarte recebe o Prémio Nacional de Inovação 2025 pela sua abordagem à inovação Fernando Costa
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Walter Duarte identifica três grandes entraves à inovação: resistência à mudança, falta de visão alinhada e ausência de recursos dedicados. 

A distinção de “Innovation Champion” é nova, mas o percurso de Walter Duarte na promoção da inovação é tudo menos recente. O fundador e CEO da ID8 Innovation Strategy Consulting venceu a primeira edição deste troféu criado pelo Prémio Nacional de Inovação (PNI), uma iniciativa organizada pelo Negócios em parceria com o BPI e a Claranet Portugal. Walter Duarte foi reconhecido por encarnar o espírito desta categoria, que valoriza quem, independentemente da função que ocupa, consegue mobilizar pessoas, ideias e processos em torno de uma inovação prática, sistemática e com impacto real.

“Vencer esta edição do troféu Innovation Champion é um enorme reconhecimento, não apenas a nível pessoal, mas sobretudo pelo impacto que gerei ao longo da minha carreira na inovação”, afirma Walter Duarte. “É a prova de que inovar de forma contínua e estruturada pode criar resultados reais e transformadores para o tecido empresarial português.”

Para o fundador da ID8, esta distinção representa também um compromisso renovado com o ecossistema nacional, sobretudo nas áreas onde a inovação é mais urgente. “Ajudar PME, grandes empresas e organismos públicos a encararem a inovação não como um luxo, mas como uma ferramenta prática, acessível e estratégica para crescerem, se adaptarem e se diferenciarem.”

Criada há pouco mais de um ano, a ID8 nasce dessa vontade de levar a inovação a todos os contextos. “A ID8 é uma empresa recente, que surge da necessidade do mercado de ter um apoio muito específico na estratégia de inovação”, explica. O foco está em transformar ideias em impacto tangível, seja através da reorganização interna de uma PME, da reinvenção de um destino turístico ou da aproximação dos serviços públicos aos cidadãos. “Na ID8 acreditamos que inovação sem aplicação prática é apenas um bom discurso.”

Entre os projetos que estão prestes a ser lançados, destaca-se o desenvolvimento de programas de inovação colaborativa para o setor do turismo, com ênfase na transformação digital e na criação de novas propostas de valor baseadas em dados e na experiência do cliente. Em paralelo, a equipa tem vindo a trabalhar em diagnósticos de inovação dirigidos a pequenas e médias empresas, com o objetivo de “perceber onde estão e quais os próximos passos concretos que podem ser dados, sem jargões nem grandes investimentos iniciais”. E avisa: “o melhor da ID8 ainda está para vir.”

Questionado sobre os desafios de manter a inovação viva em contextos organizacionais mais rígidos ou conservadores, Walter Duarte é direto. “A inovação só sobrevive se for vista como algo que resolve problemas reais, não como uma moda passageira ou um projeto paralelo.” Defende que o segredo está em começar pequeno, com foco estratégico, e demonstrar valor de forma progressiva. “Tudo começa com uma conversa, um diagnóstico ou um pequeno piloto que mostra resultados. E a partir daí, o entusiasmo contagia.”

Não se trata de mudar tudo

Essa abordagem prática e incremental é o que permite à ID8 ajudar empresas e entidades públicas a abrir espaço à mudança sem entrarem em rotura com a sua identidade ou cultura. “Manter a inovação viva exige liderança corajosa e uma gestão que valorize a aprendizagem contínua, mesmo quando envolve risco calculado. Não se trata de mudar tudo, mas de criar as condições certas para que a mudança certa possa acontecer.”

O seu próprio percurso ilustra bem essa lógica. “Sempre acreditei que a inovação não é exclusiva de quem tem ‘inovação’ no título. É uma atitude, uma forma de pensar e agir, independentemente da função.” Ao longo da carreira, Walter Duarte foi desafiando o status quo em diferentes funções, operacionais ou de liderança, sempre à procura de formas de fazer diferente e melhor. Foi precisamente essa visão transversal que o levou a criar a ID8. “Não quis esperar que a mudança viesse de cima. Decidi ser eu a criar um espaço onde a inovação fosse transversal, aplicada e acessível a todos.”

A inovação só sobrevive se for vista como algo que resolve problemas reais, não como uma moda passageira ou um projeto paralelo.
Falhar rápido e aprender depressa é mais valioso do que evitar qualquer erro a todo o custo.
Walter Duarte, Fundador e CEO da ID8 Innovation Strategy Consulting

Para Walter Duarte, o que mais o inspira é ver o momento em que alguém descobre o seu próprio potencial inovador. “Muitas vezes, apenas precisavam de uma metodologia, de um empurrão ou de alguém que acreditasse neles.”

O executivo acredita que criar uma cultura de inovação verdadeiramente sustentável exige mais do que entusiasmo ou vontade. Exige visão, estrutura e, sobretudo, democratização. O ponto de partida, diz, está em garantir que qualquer pessoa, em qualquer função, se sinta legitimada para contribuir com ideias, experimentar e aprender. “O essencial é garantir que todos, independentemente da sua função, sintam que têm espaço para contribuir com ideias, experimentar e aprender com o processo”, defende. Mas a vontade não basta. É preciso criar as condições certas para que essa cultura floresça e se mantenha.

Na prática, isso significa investir na capacitação das equipas, definir processos simples que incentivem a experimentação e promover uma liderança que veja a inovação como uma prioridade, e não como algo periférico. “Na ID8, queremos ajudar precisamente a criar estas fundações, desde dinâmicas internas de ideação à criação de hubs de inovação dentro das empresas, passando por roadmaps de transformação digital que envolvem toda a organização.”

Essa mudança só é possível se houver espaço para o erro. Walter Duarte sublinha que a experimentação, o risco e a aprendizagem são os verdadeiros alicerces da inovação. “Fala-se muito em inovar, mas poucas organizações estão preparadas para o que isso realmente implica: sair da zona de conforto, testar o desconhecido e aceitar que nem tudo corre bem à primeira.” E acrescenta, “é precisamente nesse processo que se encontram as maiores oportunidades de aprendizagem, diferenciação e crescimento.”

O papel da ID8 passa por sistematizar esse caminho de descoberta, tornando a experimentação parte da rotina e não uma exceção. “Promovemos uma abordagem estruturada à experimentação. Não se trata de correr riscos por impulso, mas de desenhar experiências com objetivos claros, métricas de sucesso e abertura para ajustar o rumo.” Para o fundador da consultora, há um momento decisivo no processo. Quando as equipas passam a ver o erro como um ativo e não como um obstáculo. “Quando as equipas entendem que falhar rápido e aprender depressa é mais valioso do que evitar qualquer erro a todo o custo, nasce uma cultura de inovação sustentável.”

Entraves à inovação são mais culturais do que técnicos

Naturalmente, nem sempre este caminho é simples. Muitos dos bloqueios que a ID8 encontra nas organizações não são técnicos, mas sim culturais. Walter Duarte identifica três grandes entraves: resistência à mudança, falta de uma visão alinhada sobre o que significa inovar e ausência de recursos dedicados. “Um dos desafios mais comuns é a resistência à mudança, não porque as pessoas não queiram evoluir, mas porque o desconhecido gera insegurança e a rotina oferece conforto”.

A isso junta-se a dispersão estratégica, quando não existe um propósito claro que oriente as ações. E, finalmente, os constrangimentos de tempo, orçamento ou competências, que dificultam a sustentabilidade das iniciativas. “Por fim, a burocracia e processos rígidos podem engessar iniciativas que pedem agilidade e flexibilidade”.

É nesse contexto que a ID8 se apresenta como parceira. “Abordamos estes bloqueios com uma combinação de diagnóstico preciso, formação prática, processos de design thinking e cocriação de roadmaps que encaixam na realidade da empresa, sem sobrecarregar as equipas”.

Para Walter Duarte, a inovação não pode ser um departamento nem uma moda pontual, tem de ser uma forma de pensar enraizada no ADN da organização.”

Flexibilidade é fundamental

Nem sempre este caminho é simples. Muitos dos bloqueios que a ID8 encontra nas organizações não são técnicos, mas sim culturais. Walter Duarte identifica três grandes entraves, a resistência à mudança, a falta de uma visão alinhada sobre o que significa inovar e a ausência de recursos dedicados. “Um dos desafios mais comuns é a resistência à mudança, não porque as pessoas não queiram evoluir, mas porque o desconhecido gera insegurança e a rotina oferece conforto.”

A isso junta-se a dispersão estratégica, quando não existe um propósito claro que oriente as ações. E, finalmente, os constrangimentos de tempo, orçamento ou competências, que dificultam a sustentabilidade das iniciativas. “Por fim, a burocracia e processos rígidos podem engessar iniciativas que pedem agilidade e flexibilidade.”

É nesse contexto que a ID8 se apresenta como parceira. “Abordamos estes bloqueios com uma combinação de diagnóstico preciso, formação prática, processos de design thinking e co-criação de roadmaps que encaixam na realidade da empresa, sem sobrecarregar as equipas.” Para Walter Duarte, a inovação não pode ser um departamento nem uma moda pontual. Tem de ser uma forma de pensar enraizada no ADN organizacional.

Observar o panorama da inovação em Portugal é, para o fundador da ID8, ver um país em movimento, mas com velocidades desiguais. Há setores onde o dinamismo é visível e crescente, como o das tecnologias digitais, o software ou a economia verde, impulsionados por startups, hubs tecnológicos e investimento. “Áreas como as tecnologias digitais, o software e a economia verde têm mostrado uma capacidade enorme de adaptação e crescimento inovador”, destaca.

No entanto, há realidades onde o caminho é mais sinuoso e a inovação encontra mais obstáculos, como em setores industriais mais tradicionais, no retalho convencional, nos serviços públicos e, em certos casos, até no próprio setor do turismo, onde Walter Duarte reconhece que há um grande potencial por cumprir.

Ainda assim, acredita que é precisamente nesses contextos, menos expostos à inovação e mais resistentes à mudança, que o impacto de um trabalho bem estruturado pode ser mais transformador. É aí que a ID8 quer marcar a diferença. “Queremos ajudar estes setores a desmistificar a inovação, mostrar que ela pode ser prática e acessível, e criar pontes para que todas as organizações possam embarcar neste percurso, independentemente do ponto de partida.”

Essa diversidade de maturidades e setores é também aquilo que desafia, e motiva, a abordagem da ID8. Walter Duarte recusa soluções universais. Na sua visão, “uma abordagem ‘tamanho único’ é uma receita para o fracasso.” Cada cliente, cada organização, tem a sua própria identidade, os seus desafios e um ritmo de transformação muito próprio. Por isso, explica que todo o trabalho da ID8 parte de um diagnóstico detalhado, que permite compreender não só os objetivos estratégicos de quem procura inovar, mas também a sua cultura interna, os recursos disponíveis e as limitações contextuais.

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