O setor hídrico está a atravessar uma revolução silenciosa, mas profunda. Com desafios crescentes de eficiência, segurança, digitalização e sustentabilidade, empresas públicas como a Águas do Norte têm vindo a responder com inovação concreta e impacto mensurável. Um exemplo paradigmático é o WIKCenter - Water | Information | Knowledge, uma plataforma tecnológica desenvolvida internamente e já em operação em cerca de 1600 infraestruturas, que acaba de ser distinguida no Prémio Nacional de Inovação 2025, na subcategoria Serviços Públicos, segmento Negócio.

A distinção assinala o reconhecimento de uma solução desenhada para integrar e modernizar sistemas de supervisão e automação, num setor ainda marcado pela fragmentação tecnológica. Como explica Duarte Veloso Silva, Coordenador de Tecnologias de Informação e Inovação - Tecnologias de Comunicação e Operação da Águas do Norte, o WIKCenter nasceu precisamente dessa urgência: “O WIKCenter nasceu da necessidade de integrar, uniformizar e modernizar os sistemas de automação e supervisão das infraestruturas da Águas do Norte, num ambiente convergente das tecnologias de informação e operação”.

Gestão centralizada

O grande problema que o WIKCenter veio resolver foi a dispersão de plataformas e sistemas que tornavam difícil a gestão centralizada e inteligente dos ativos hídricos. Ao promover uma arquitetura modular, escalável e interoperável, a plataforma permite agora uma visão integrada das operações e uma resposta mais ágil às exigências operacionais. “O WIKCenter surgiu como resposta a esta fragmentação tecnológica, promovendo a convergência operacional numa plataforma única, escalável, interoperável e orientada à mobilidade”, explica Duarte Veloso Silva.

A solução, diz o responsável, diferencia-se por combinar SCADA, IoT, inteligência artificial, plataformas externas como ERP e GIS, e ainda integração com sistemas meteorológicos e de faturação. A recolha de dados é feita em tempo real, com supervisão e controlo de variáveis críticas, como caudais, volumes, níveis e anomalias. “Quanto maior for a informação centralizada, menor será a interação dos utilizadores e os saltos entre várias plataformas e este processo resulta em maior produtividade das pessoas”, sintetiza o coordenador.

Tecnologia e mobilidade

A plataforma foi desenhada com foco claro na mobilidade e na experiência do utilizador. “Desenvolveu-se numa arquitetura modular, baseada em boas práticas na gestão de alarmes e eventos, na otimização de layouts de informação visual, num interface 100% web e mobile-first, com design responsivo, e princípios de cibersegurança industrial”, refere Duarte Veloso Silva.

Uma das inovações mais relevantes foi o cuidado com a acessibilidade: os interfaces foram concebidos para toque e gestos, compatíveis com o código ColorADD, garantindo a inclusão de pessoas com daltonismo. “Os códigos de cores, simbologia e layout são validados pela entidade que desenvolveu o código ColorADD, minimizando a identificação de cores através de símbolos”, acrescenta o responsável da Águas do Norte.

Na base do WIKCenter está a capacidade de recolher, estruturar e tratar volumes massivos de dados provenientes das infraestruturas. A comunicação assenta em redes públicas e privadas, com os dados a serem armazenados segundo modelos híbridos e padrões internacionais. “As variáveis são estruturadas de acordo com a governança de dados definida, baseada na gestão de ativos e em standards internacionais”, afirma Duarte Veloso Silva.

O sistema inclui módulos analíticos, como o CAN - Centro de Antecipação de Notificações, que interpreta os dados de sensores e eventos para gerar alertas e apoiar decisões. “Existem algoritmos baseados em machine learning que permitem extrair informação sobre as dinâmicas ou anomalias que ocorrem diariamente”, explica o coordenador.

Eficiência operacional

Desde que entrou em funcionamento, o WIKCenter tem gerado resultados concretos em eficiência, poupança energética e qualidade de vida das equipas. “Permitiu à Águas do Norte uma redução de deslocações às infraestruturas em cerca de 120.000km”, revela Duarte Veloso Silva, salientando também a eliminação de 2.857 horas de trabalho suplementar em contexto operacional.

Estas melhorias, esclarece, traduzem-se não apenas numa redução da pegada de carbono, mas também numa gestão mais eficaz da água e do saneamento. “Com a sensorização é mais fácil identificar anomalias no processo e otimizar os processos produtivos, através da gestão energética e funcionalidades associadas”, reforça o responsável.

Outro dos pilares é a sua integração com o ecossistema Microsoft. A interoperabilidade entre tecnologias de informação e operação (IT/OT) permite o controlo centralizado de acessos, a comunicação entre equipas via Microsoft Teams e dashboards analíticos através de Power BI. “A plataforma beneficia de uma autenticação multifator com Azure AD, a criação de canais operacionais via Microsoft Teams, com partilha de alarmes e eventos e controlo de acessos centralizado”, detalha Duarte Veloso Silva.

Esta integração pretende, assim, tornar o WIKCenter não apenas uma ferramenta técnica, mas também um ambiente de trabalho colaborativo, onde a segurança e a comunicação estão ao serviço da operação.

Evolução contínua

A evolução do WIKCenter é constante. Entre os módulos mais recentes, o coordenador destaca a evolução do CAN, com integração em plataformas de manutenção e TI, bem como melhorias no módulo de histórico, que permitem uma análise mais rápida do desempenho hídrico dos subsistemas. “Em produção estão o módulo iOnMeter, para análise do desempenho dos sensores e instrumentação, e o módulo de segurança física, com integração de CCTV, controlo de acessos e sensores”, adianta Duarte Veloso Silva.

A plataforma tem também permitido ganhos expressivos na redução de perdas de água. “No caso do abastecimento em baixa, no município de Amarante, temos caso de deteção de roturas onde, após a ativação dos alertas e a mobilização das equipas de operacionais do terreno, verificamos reduções média de perdas na ordem dos 60%”, afirma o coordenador. Em zonas de medição e controlo com elevada sensorização, as perdas foram reduzidas em cerca de 30% em três anos.

Além disso, a gestão operacional otimizada gerou um retorno financeiro significativo. “O valor de poupança ascende aos 150.000,00 de euros em dois anos e meio”, revela Duarte Veloso Silva.

Visão estratégica

A distinção no Prémio Nacional de Inovação representa, para a Águas do Norte, a validação de uma aposta estratégica em inovação digital. “Este prémio reconhece a aposta estratégica na inovação tecnológica que a Águas do Norte definiu no seu plano de transformação digital e valida o WIKCenter como uma referência nacional no setor da água”, afirma o Coordenador de Tecnologias de Informação e Inovação - Tecnologias de Comunicação e Operação da empresa.

Para além da sua robustez técnica, o WIKCenter é também símbolo do compromisso da Águas do Norte com a sustentabilidade, a eficiência e a segurança operacional. “Esta plataforma é apenas um dos pilares da inovação da empresa, que reforça o compromisso da Águas do Norte com a eficiência, a sustentabilidade e a segurança operacional”, conclui Duarte Veloso Silva.