“Relativamente ao futuro, não vou dizer a Deus pertence, porque as pessoas têm uma capacidade muito grande de influenciar, tanto como as suas empresas trabalham, mas também a sua contribuição para a economia portuguesa”, afirmou Luís Palha da Silva, administrador da Pharol e membro do júri dos Prémios Exportação e Internacionalização, durante a mesa-redonda “O Desígnio das Empresas Portuguesas”, integrada na cerimónia de entrega de prémios da 15ª edição dos Prémios Exportação & Internacionalização, uma iniciativa do Novo Banco e do Negócios, em parceria com a Iberinform.
O administrador da Pharol sublinhou que “há muitos riscos” e apontou para “uma grande instabilidade comercial que as tarifas provocaram, mas não somente as tarifas, também o assunto das guerras, o lutar por acesso a bens que vão ser determinantes no desenvolvimento económico futuro”.
Luís Palha da Silva defendeu que, mais do que reagir a ameaças, as empresas devem focar-se nas “oportunidades que temos de seguir com ou sem ameaças a perturbar a nossa atividade”, destacando que “há de facto um conjunto de oportunidades que aparecem para as empresas portuguesas”, especialmente através da “digitalização, da automação, e de todas as novas tecnologias”.
“Estes dramas das tarifas e desta instabilidade afetam muito, muito pouco a nossa atividade”, disse Eduardo Carqueja, CEO e acionista da AppGeneration, empresa que em 2024 faturou 33 milhões de euros com apenas 35 colaboradores, relativizando o impacto das tensões comerciais. Para o empresário, “a IA é mais impactante do que qualquer tarifa ou qualquer governo”.
Com presença em dezenas de mercados e um mercado global, Eduardo Carqueja revela a sua singular estratégia. “No mercado digital, tanto dá a vender para a Polónia como para o Vietname. A única barreira é a língua. E hoje, a língua é muito fácil de vencer graças à inteligência artificial.”
Indústria tradicional exige proximidade
Luís Mendes, CFO da BA Glass, presente em sete países com 13 fábricas, apresenta uma realidade diferente. “O vidro viaja muito mal. Transportamos garrafas vazias e transportar ar fica muito caro”. A solução passa pela proximidade dos clientes para poderem ser competitivos em termos de preço.
Sobre os recentes desafios, Luís Mendes é pragmático. “Entrei para a BA Glass em 2019. Em 2020 apanhámos o Covid. A seguir veio um pico de procura pelo efeito da estagnação durante o Covid, que foi logo acompanhado por uma quebra da procura forte. Tivemos a crise energética, que foi brutal para as empresas de energia intensiva”, disse. As tarifas são vistas como “mais um” desafio numa lista extensa.
Quanto às condições de competitividade, Luís Mendes alerta que “o setor industrial na Europa tem sofrido muito nos últimos anos”, referindo que “a energia, e nós dependemos muito do gás natural, custa o dobro do que custava antes da crise”.
Por sua vez, Luís Palha da Silva defende a liberalização dos mercados e considera que “as alterações à lei laboral são “um tema importantíssimo”. Já Eduardo Carqueja é mais incisivo e considera “a lei laboral portuguesa um absurdo”, apontando a “opacidade e a inflexibilidade” como os principais problemas. Para Luís Mendes, a tónica coloca-se noutro lado. “Uma das coisas que temos trazido muito para a mesa é a questão dos impostos e a questão do que a pessoa leva ao fim do mês”, concluiu.