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Os desafios das tarifas e da IA

Portugal chegou a ter as exportações a representarem 49% do PIB e recuou para 45% no primeiro trimestre de 2025. O país continua abaixo da média da UE. A nova meta é alcançar os 55% até 2030.

24 de Novembro de 2025 às 14:00
Luís Ribeiro alertou para o impacto das tarifas e da guerra comercial no desempenho das exportações portuguesas.
Luís Ribeiro alertou para o impacto das tarifas e da guerra comercial no desempenho das exportações portuguesas. David Cabral Santos
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Luís Ribeiro alertou para o impacto das tarifas e da guerra comercial no desempenho das exportações portuguesas.

“Vivemos num contexto altamente desafiante” marcado por tarifas, pela guerra comercial e pelo desafio da inteligência artificial. “Estas duas realidades estão muito mais ligadas do que nós, por vezes, conseguimos antecipar”, afirmou Luís Ribeiro, administrador executivo do Novo Banco, recordando que em março os Estados Unidos levantaram barreiras à exportação de chips de última geração para a investigação da inteligência artificial na Europa. Após algum protesto, esse modelo foi revisto e essa proibição foi alterada.

“Hoje as tarifas não são apenas um instrumento económico, são também um instrumento político, ponto final”, considerou Luís Ribeiro na cerimónia de entrega de prémios da 15ª edição dos Prémios Exportação & Internacionalização, uma iniciativa do Novo Banco e do Negócios, em parceria com a Iberinform. Acrescentou que as empresas terão de se habituar às tarifas direccionadas como as tarifas verdes, pelas agendas de sustentabilidade, as tarifas tecnológicas, relacionadas com a competição sobre IA e os recursos tecnológicos, e as tarifas agrícolas.

É este o enquadramento para os próximos anos e que afectou o crescimento das exportações. O administrador do Novo Banco revelou que o crescimento das exportações e do comércio internacional foi, segundo a média entre 2000 e 2019, de 4,9%, e em 2026 perspetiva-se “quase uma estagnação do comércio internacional”, salientou. Referiu dados sobre os Estados Unidos, que não registavam uma tarifa média tão elevada desde 1930, no período da Grande Depressão. “Estamos a falar de níveis de tarifas não vistos nos últimos 100 anos”, sublinhou, alertando para impactos nas cadeias de distribuição, logística e capacidade de investimento tecnológico.

Portugal abaixo da média europeia

Luís Ribeiro referiu que a este contexto muito desafiante se associa a premência de aumentar as exportações portuguesas, porque “há uma correlação quase perfeita entre o peso das exportações no PIB e o PIB per capita. Esta correlação depende da tipologia de países”. Nos países que exportam muitas matérias-primas e são pouco desenvolvidos, esta correlação não é tão evidente. “Se estivermos a falar, por exemplo, da União Europeia, essa correlação já é evidente”, evidenciou Luís Ribeiro.

Portugal estava nos 49% do peso das exportações no PIB e recuou para 45% no primeiro trimestre de 2025, e está “bastante abaixo da média da União Europeia”. A nova meta passa por “tentar chegar entre os 55% e os 60% até 2030”, afirmou.

As empresas portuguesas têm demonstrado uma capacidade notável de adaptação e estão preparadas para aproveitar as novas oportunidades nos mercados internacionais. Luís Ribeiro, Administrador do Novo Banco

“Temos quatro mercados que representam 50% das exportações portuguesas e que são Espanha, Alemanha, França e Estados Unidos”, referiu Luís Ribeiro. Este último representa 6,8% das exportações, mas o impacto indirecto das tarifas americanas já se faz sentir. “Hoje temos alguns produtos, oriundos da Ásia, em particular da China, que estão a vir para a Europa em vez dos Estados Unidos a preços muitíssimo competitivos.”

Apesar dos desafios, Luís Ribeiro identificou oportunidades estratégicas para a as empresas portuguesas. A instabilidade no Médio Oriente fez com que “a Rota Atlântica tenha hoje uma importância no comércio mundial muitíssimo maior”. Portugal está “verdadeiramente no meio entre os Estados Unidos e a Europa”, num corredor comercial que ganhou relevância, e defendeu a diversificação de mercados. “Nenhum país da Ásia Central, nenhum país do Médio Oriente” aparece nos principais destinos das exportações portuguesas, quando “o Vietnam, a Coreia do Sul, o Laos e a China, são marcados com uma dinâmica brutal”.

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