Criada há quinze anos e com forte crescimento nos últimos cinco anos, a AppGeneration enfrenta hoje concorrentes globais cada vez maiores e mais agressivos. “Empresas maiores normalmente significa que têm acesso a mais capital e mais know-how, pelo que temos de acompanhar o jogo”, disse Eduardo Carqueja, CEO da AppGeneration.
Acrescenta que, ao mesmo tempo, “a Inteligência Artificial traz uma enorme disrupção nos mercados em geral e no digital de forma mais acelerada. Estamos a tentar surfar a onda e aproveitar oportunidades, mas sabemos que também se pode virar contra quem não se adapta a tempo”.
Mas a empresa não esteve à espera da mudança de paradigma com a Inteligência Artificial (IA). “A IA já é parte do nosso dia a dia. Utilizamo-la em programação, design, análise de feedback, investigação de mercado e marketing”, sublinha Eduardo Carqueja. Adianta ainda que a AppGeneration está a criar apps e websites baseados em grandes modelos de IA, para oferecer mais utilidade aos utilizadores. “Só este ano lançámos três novas apps utilitárias e temos mais um lançamento previsto até ao final do ano, que são no seu core apps de IA para resolver problemas específicos”, revela Eduardo Carqueja.
Em 2024 a AppGeneration teve um crescimento de cerca de 30% e as previsões apontam para um crescimento de 20% em 2025. Mas, como alerta Eduardo Carqueja, “à medida que a escala aumenta, os desafios também crescem. O mercado é ilimitado, mas a concorrência também. Hoje, a rapidez na execução e na reação é tão importante quanto a ideia em si”.
As incertezas cambiais
Para uma empresa global como a AppGeneration, as incertezas como as taxas aduaneiras, as guerras comerciais e o processo de desglobalização não têm reflexos, porque, como assinala Eduardo Carqueja, “exportamos 100% das nossas apps para mais de 150 mercados de forma muito diversificada, e sem qualquer incentivo”. O seu principal mercado é a União Europeia, seguida dos Estados Unidos. Depois vêm a América Latina e a Ásia, e por último o Médio Oriente e África. Em termos de canais, 90% das vendas passam pelas lojas da Google e da Apple.
No entanto, esta instabilidade económica e política tem reflexos nas moedas. Como reconhece Eduardo Carqueja, “o maior impacto vem das flutuações cambiais do dólar, já que a maioria das nossas receitas é gerada nessa moeda. Uma desvalorização traduz-se automaticamente em menos crescimento, tal como aconteceu em 2025”.
A empresa está no mercado de aplicações, que tem um segmento de grande importância, mas também de intensa concorrência, como o caso dos jogos. Como explica Eduardo Carqueja, “a lógica de negócio é semelhante, mas o ecossistema concorrencial muda. Além disso, os perfis de talento necessários diferem, enquanto nas apps utilitárias o foco está na funcionalidade, nos jogos dependemos muito mais da criatividade artística e da experiência do utilizador”.
Os best-sellers
Segundo Eduardo Carqueja, em termos de recursos humanos, o perfil ideal combina excelência em programação, design de interfaces e marketing digital. Como não é fácil encontrar “super-generalistas”, organizam-se em três áreas principais: programadores, artistas e marketeers. “É difícil arranjar colaboradores com experiência significativa em jogos no mercado nacional, mas fazemos questão de manter toda a equipa portuguesa”, afirma.
O CEO da AppGeneration refere que os principais best-sellers em termos de jogos e aplicações são o myTuner Radio, que permite ouvir rádios de todo o mundo e que é líder na categoria, e vários jogos de palavras com milhões de utilizadores, entre eles o Word Connect - Words of Nature, que se tornou o mais relevante e em que estão no top 5 mundial da categoria. Todos os anos lançam entre cinco e oito novos produtos, “sempre com a ambição de que um ou dois atinjam escala global significativa”, sublinha Eduardo Carqueja.
Volume de negócios
2024 - 26 milhões de euros
2025 - 31 milhões de euros (previstos)
Colaboradores (2024) 32
O crescimento pode passar por aquisições
O grande desafio da AppGeneration tem sido escalar de forma lucrativa num ambiente onde compete com gigantes globais e start-ups de todos os cantos do mundo.
“Em 2010, as apps ainda eram uma novidade. Haviam sido apresentadas somente poucos anos antes pelo iPhone e percebemos que iriam transformar o futuro. Daí nasceu a ideia de criar uma empresa focada exclusivamente em ser publisher de apps e daí o próprio nome, que veio da inspiração de que seríamos a geração das apps - AppGeneration”, explica Eduardo Carqueja, CEO da empresa e o seu principal acionista.
Este licenciado em Gestão pela Faculdade de Economia do Porto, onde lecionou, é um empreendedor que foi um dos fundadores da Marketeer em 1995 e da empresa tecnológica NDrive em 2001, de que a AppGeneration é um spin-off.
Eduardo Carqueja considera que a experiência na NDrive foi decisiva para a sua vida de empreendedor. “Deu-me o privilégio de estar no sítio certo, na altura certa, com uma visão privilegiada sobre o fenómeno dos smartphones e o seu impacto iminente na sociedade e na economia.” Recorda que em 2010 a Nokia dominava o mercado dos telemóveis e foi quando a Apple lançou o iPhone 4, e a Samsung o primeiro Android. “Achámos que este tipo de smartphone ia conquistar o mundo e que as apps iriam ultrapassar a importância dos próprios websites. Claramente, foi uma boa aposta”, conclui Eduardo Carqueja.
O desafio da escala
O mercado das apps é um mercado extremamente competitivo, em que, por cada app que é lançada, surgem milhares de concorrentes semelhantes. “Para vencer, não basta criar algo bom: é preciso ter o melhor produto aliado ao melhor marketing. O grande desafio tem sido escalar lucrativamente num ambiente onde competimos com gigantes globais e start-ups de todos os cantos do mundo”, refere Eduardo Carqueja.
Na sua opinião, alguns produtos foram claramente importantes para a empresa ganhar dimensão, “mas acima de tudo foi a construção de know-how na iteração e melhoria contínua de produtos com base nos números que vamos vendo do uso dos produtos. É claramente o caso onde temos de falhar muitas vezes e muito rápido, o mais barato possível, para no fim apenas restar o sucesso”, defende Eduardo Carqueja.
O foco da AppGeneration tem sido crescer organicamente, mas a agressividade e o poder da concorrência levam a empresa a não descartar oportunidades de aquisições que tragam escala e know-how estratégico. “Este ano já fizemos as primeiras investigações nesta possibilidade, mas ainda sem sucesso”, referiu Eduardo Carqueja.