É impossível amar a Banca
Ontem foi um dia mau para a banca portuguesa. Por um lado, a investigação a supostas operações de branqueamento de capitais atingiu a operação do BES em Espanha e, antecipemos, representa uma séria machadada na expansão da actividade do banco no país vizinho. E atinge também a imagem dos portugueses.
Acontece que o juiz Baltasar Garzón encabeça o processo. Todos nos lembramos do seu mediatismo, da amplitude do seu espaço de manobra, do arrojo com que se atirou a Pinochet, dos processos da ETA. E todos nos lembramos da eficácia com que a justiça espanhola tratou do caso dos selos.
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Trata-se, portanto, de um assunto muito sério.
Em consequência, a bolsa reagiu, os casos sob investigação em curso voltaram à tona de água, as operações off-shore e o planeamento fiscal voltaram às conversas.
E logo por coincidência, ontem também foi o dia que o Governo escolheu para dar o pontapé de saída na legislação sobre as regras de arredondamento dos juros. Mostrando o entendimento de que é necessário regulação para proteger o consumidor.
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Isto depois de termos passado duas semanas com notícias e debates sobre o planeamento fiscal eficaz, do caso Montepio Geral, da promessa de Teixeira dos Santos de aumentar a taxação efectiva sobre os lucros da Banca.
Além disso, a Banca concentra de facto um poder imenso na economia dos países, tem peso decisivo em muitas empresas e pode influenciar o seu rumo.
A Banca tem tal poder que os governos de todo o mundo preferem conviver com as actividades offshore do que perder as suas sedes e respectivos impostos, ainda que minimizados. Além disso, hoje em dia, raros são os bancos que não têm operações de "private banking".
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Pela sua natureza e pela sua forma de operar, a Banca atrai dinheiro sujo, atrai fugas de capitais, fugas fiscais, branqueamentos e mirabolantes planeamentos fiscais.
Sujeita-se também a contar com funcionários no seu seio que operam por conta própria. Funcionários que não cumprem as regras legais nem os procedimentos internos. Tudo isto é verdade e não há razão alguma para ter pena da Banca.
Porém, há muitas outras verdades que devem ser acrescentadas para que se formule um juízo adequado.
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Em oportuna entrevista ao Jornal de Negócios, João Salgueiro, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, propõe um olhar diferente sobre as matérias polémicas.
Em especial quando diz que "Os portugueses acham que ter lucros é mau. Que o lucro é tirado às pessoas". Quando diz que "Ninguém faz contas sérias para ver que o financiamento externo é acima dos custos dos depósitos". Quando diz, sobre o planeamento fiscal, "É obrigação de uma equipa jogar com todos os instrumentos que tem ao seu dispor". Quando diz que "Cabe à administração fiscal assegurar que [a banca] não pisa o risco da evasão fiscal".
Ora é isso mesmo que está a acontecer ao BES e ao BNP em Espanha. O Estado está a assegurar a legalidade das operações bancárias. Isso faz não só parte da normalidade como deve ser visto como indispensável.
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