2013
Há um ano, escrevi aqui um artigo procurando perspectivar o que seria o ano de 2012 do ponto de vista económico. Referi na altura que, chegados a Dezembro, olharíamos para 2012 como "um ano extremamente difícil, mas que terá sido ultrapassado, mal ou bem, como no passado muitas outras dificuldades foram suportadas ou mesmo vencidas por outras gerações (incluindo guerras e dificuldades económicas profundas)."
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Em relação à actividade económica, a expectativa era a de um "crescimento relativamente baixo, ou mesmo recessão em algumas regiões, como a Zona Euro. O desemprego deverá manter-se elevado na Europa e nos Estados Unidos, e a inflação deverá seguir uma tendência de descida. Neste contexto, espera-se a adopção de políticas monetárias mais expansionistas na generalidade das economias."
Em relação à crise da dívida da Zona Euro, referi que "por muito difícil que pareça, os responsáveis políticos da Zona Euro serão eventualmente forçados a tomar medidas decisivas no sentido de uma maior integração e coordenação orçamentais, esperando-se ainda que o BCE adopte um papel mais activo e agressivo na estabilização financeira da economia, com o recurso a medidas menos convencionais."
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No conjunto da Zona Euro, "a penalização do financiamento do investimento e do consumo determinam, em conjunto com a austeridade orçamental generalizada, a expectativa de arrefecimento ou, cada vez com maior probabilidade, de contracção da actividade", sendo por isso importante acompanhar "o risco de tensões sociais em resposta à deterioração da actividade económica e às políticas de austeridade."
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Este balanço das previsões feitas há um ano para 2012, e o balanço do que foi o ano de 2012 do ponto de vista económico, são importantes para perspectivarmos agora o que poderá ser o ano de 2013. Ao longo do último ano, muitos foram os que apontaram, repetidas vezes, para o "fim do mundo", incluindo o colapso da Zona Euro, com o seu terrível efeito dominó, quebras da actividade económica muito mais significativas do que aquelas que ocorreram, um ano negro nos mercados financeiros, etc. etc.
É certo que 2012 foi um ano muito difícil para a economia mundial, e ainda mais difícil para a economia europeia. Em particular, na chamada "periferia" da Zona Euro, o aumento do desemprego e a quebra do rendimento disponível das famílias fizeram de 2012 um ano muito doloroso. Mas, face àquelas expectativas mais catastrofistas, e tendo em conta a dimensão da crise económica e financeira que a economia mundial atravessou nos últimos anos (sem precedentes nos últimos 80 anos), é possível ter uma visão mais construtiva dos desenvolvimentos recentes.
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Com a criação do European Stability Mechanism, com o anúncio das Outright Monetary Transactions pelo BCE e com os primeiros passos na direcção de uma união bancária, a Zona Euro tem feito um caminho importante no sentido da construção de uma verdadeira união económica e monetária, com resultados concretos ao nível da estabilização financeira, como ilustram as quedas significativas das yields dos títulos de dívida pública da periferia nos últimos meses. Acima de tudo, no entanto, estas medidas sugerem (apesar de, por vezes, não parecer assim) uma vontade política forte de defender a Zona Euro, reforçando a expectativa de que cenários negativos mais extremos serão evitados. Por outro lado, a atitude fortemente expansionista dos principais bancos centrais, com medidas inéditas e em forte contraste com a actuação observada nos anos trinta do século passado, impediu, seguramente, a repetição de uma "grande depressão" generalizada e contribuiu, também, para que 2012 acabasse por ser um ano positivo nos mercados financeiros.
O que esperar, então, de 2013? É possível observar alguns sinais moderadamente positivos - em particular nos Estados Unidos (sector da habitação, mercado de trabalho) e na China (actividade industrial), que deverão relevar uma actividade económica relativamente mais forte. Mas mantém-se a expectativa de crescimento apenas moderado nas principais economias (ou até negativo, no caso da Zona Euro, apesar de, também neste caso, alguns indicadores avançados já sugerirem uma estabilização gradual ao longo de 2013). Os elevados níveis de dívida pública e privada, forçando uma redução do endividamento no sector privado e impondo uma natureza restritiva à política orçamental, deverão continuar a condicionar o crescimento em 2013 (e nos anos seguintes).
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Neste contexto, e dada a pressão desinflacionista ainda existente nas principais economias desenvolvidas, espera-se que a política monetária dos principais bancos centrais acentue a atitude fortemente expansionista dos últimos anos, suportando de alguma forma a actividade económica e continuando a alimentar um ambiente de elevada liquidez nos mercados financeiros (o que se tenderá a traduzir, mais uma vez, na valorização de diversas classes de activos).
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Estas perspectivas encontram-se sujeitas a um conjunto de riscos negativos, sobretudo associados a factores de natureza política. Entre estes, os mais próximos são a ameaça do fiscal cliff nos EUA e, por outro lado, a gestão política da crise da dívida da Zona Euro - em particular, um risco de complacência entre as autoridades europeias, alimentado pelo ambiente mais positivo nos mercados financeiros e, também, por um calendário eleitoral adverso (as eleições alemãs de Setembro/Outubro poderão estar a condicionar algumas decisões). Estes riscos políticos incluem também uma eventual instabilidade política em Itália e na Grécia e, nesta última, a capacidade de execução das medidas acordadas com os credores oficiais.
Nas economias sob programas de ajustamento, será fundamental acompanhar o equilíbrio muito delicado entre os progressos em curso (podendo levar a regressos aos mercados por parte da Irlanda e Portugal) e a margem de tolerância cada vez menor das populações à austeridade orçamental. Será também importante acompanhar a capacidade de Espanha evitar um pedido de assistência financeira mais generalizada.
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O ano de 2013 poderá ser o ano de make or break para a Zona Euro, mas avanços mais concretos e rápidos numa estabilização duradoura desta economia poderão, eventualmente, passar ainda por novos períodos pontuais de stress nos mercados financeiros.
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Finalmente, a um outro nível, não devem ser perdidas de vista as tensões no Médio Oriente, incluindo no Egipto, na Síria e nas relações entre Israel e o Irão. Perspectivas sobre a economia portuguesa ficarão para um próximo artigo. Aos leitores do Negócios, os desejos de um Santo Natal.
Economista Chefe do BES e Docente Universitário
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