Desta vez vai ser diferente? – (II)
Uma resposta a esta crise tem de partir desta avaliação, tem de articular medidas centralizadas com as tomadas pelos diferentes países e do seu sucesso depende o futuro da Europa do euro.
1.Compreendemos a complexidade e as implicações – económicas, sociais e políticas – da crise que se está a abater sobre a Europa do euro se a compararmos com a crise financeira de 2007/2008.
Esta fragmentou os mercados financeiros, colocou as economias devedoras mais frágeis a um passo da insolvência e ameaçou de colapso a coluna vertebral do mecanismo europeu de intermediação financeira – os mercados bancários. Para além disso, pôs a descoberto a fragilidade da arquitectura institucional e jurídico/regulamentar que tinha enquadrado o lançamento do euro.
Os problemas políticos e sociais que resultaram desta crise foram exacerbados pela resposta adoptada por pressão das economias excedentárias, agrupadas em torno da Alemanha. Resposta conduzida ao longo de três vectores: políticas de austeridade que forçaram uma forte contracção da actividade económica; adopção pelo BCE de uma política monetária dirigida à estabilização dos mercados bancários; implantação de um quadro institucional e jurídico/regulamentar – União Bancária – com um duplo objectivo: cortar a ligação entre o risco soberano e o risco bancário e impulsionar um movimento de reorganização e de redimensionamento dos enfraquecidos sistemas bancários do euro.
Esta acção estabilizou os mercados financeiros e garantiu o financiamento dos Estados em risco de “default”, mas não respondeu aos bloqueamentos que ameaçam fragmentar a Europa do euro: um nível excessivo de endividamento que estreita a margem de manobra orçamental das economias devedoras mais frágeis; a travagem do movimento de convergência destas economias para os níveis médios de desenvolvimento e de eficiência da Zona Euro. Questão crucial de que, a prazo, depende a coesão e a sustentabilidade do próprio projecto de integração da Europa; mercados bancários que permanecem muito fragmentados e incapazes de responder de forma adequada ao financiamento do investimento e da inovação, necessários à modernização e ao aumento da eficiência e da competitividade das economias mais frágeis.
2. É assim sobre uma Europa ainda à procura de respostas para estes bloqueamentos que se está a abater a crise actual. Crise profundamente diferente da anterior, tanto nas suas origens, como nos canais de transmissão dos seus efeitos sobre a actividade económica e nas suas implicações económicas, sociais e políticas.
Uma resposta a esta crise tem de partir desta avaliação, tem de articular medidas centralizadas com as tomadas pelos diferentes países e do seu sucesso depende o futuro da Europa do euro.
Na verdade, ao contrário da crise anterior em que os canais de transmissão dos seus efeitos foram os mercados de capitais e bancários, na actual estes propagam-se sobretudo por duas vias: a da oferta, através da interrupção e do bloqueamento das cadeias de produção e da paralisia de uma parte da produção. O que, por sua vez, pode – vai – conduzir a “lay-offs” e a despedimentos, com múltiplas e complexas implicações sociais e políticas; a da confiança dos consumidores, dos produtores e dos investidores, com impacto directo sobre a procura.
Estes efeitos conduzem a três tipos de questões: por um lado, até onde pode ir a recessão – a depressão - que a pandemia e o próprio combate à sua propagação estão a provocar? Em particular qual o risco que a recessão contamine os mercados financeiros, amplificando o movimento recessivo? Por outro, qual o risco de que para além da recessão se venham a verificar danos estruturais – como a destruição ou a redução do stock de capital, com perda de produtividade e/ou de capacidade produtiva e o enfraquecimento dos bancos e dos mercados bancários – que tornem a recuperação mais lenta e difícil? Por fim – e mais importante – qual a resposta global que a Europa do euro deve “pôr de pé” para controlar e reduzir estes riscos e para assegurar a sua própria continuidade? (A continuar).
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