Opinião
"Mentoring" inverso
As novas gerações não apenas têm mais conhecimentos técnicos, como introduziram a Internet e as suas funcionalidades na sua vida diária. Para eles é uma forma natural de se informar, comunicar e interagir e as organizações precisam de estender esta mestria ao conjunto dos seus trabalhadores.
Durante os últimos anos, presenciámos um rápido avanço na implantação de programas de "mentoring" nas empresas. Podemos definir um processo de "mentoring" como uma relação um-a-um na qual um profissional sénior (mentor) guia e transmite a sua experiência a um colaborador júnior ("protegè" ou aprendiz) numa determinada área de conhecimento da organização que é relevante para o negócio. Por comparação com outras práticas de desenvolvimento de recursos humanos, o "mentoring" permite transferir um tipo de conhecimento especialista e maduro que, por sua vez, gera modelos de comportamento e reforça as relações entre colaboradores e gestores com um desempenho excelente demonstrado ao longo dos anos.
Como se percebe da sua definição, num processo de "mentoring", o mentor é a pessoa com mais idade; assumimos, portanto, que a passagem do tempo é uma condição natural para se qualificar como mentor. Mas podemos imaginar circunstâncias nas quais precisemos do processo inverso, isto é, em que seja o jovem a transmitir experiência valiosa ao mais sénior. O caso mais claro é o da tecnologia. As novas gerações não apenas têm mais conhecimentos técnicos, como introduziram a Internet e as suas funcionalidades na sua vida diária. Para eles é uma forma natural de se informar, comunicar e interagir e as organizações precisam de estender esta mestria ao conjunto dos seus trabalhadores.
Desta necessidade surge o denominado "mentoring inverso", no qual os jovens aproximam os seus gestores e dirigentes a um mundo ao qual dá trabalho adaptar-se em idades maduras. Pessoalmente parece-me um processo interessantíssimo e, por sua vez, contra-intuitivo, com tudo o que implica de crescimento pessoal. O desenvolvimento através de "mentoring" inverso passa por abandonar o papel de superior, descer uns escalões, sentar junto a um júnior e aceitar que temos algo (ou muito) a aprender com aqueles que nos sucedem. O mundo ao contrário? Também para o jovem que, ao assumir o papel de mentor, tem que colocar em prática a sua empatia e realizar um exercício de responsabilidade. Muito valor acrescentado pelo qual vale a pena investir a partir dos recursos humanos.
Professora RRHH em IE Business School