Pedro
Os homens nunca crescem, apenas fingem crescer.
PUB
Este não chega a ser um segredo de Estado. As evidências estão à vista de todos.
É apenas por pudor que a sociedade como um todo se recusa a admitir que o mundo não passa de um pátio de recreio para miúdos que simulam ser médicos respeitáveis, generais implacáveis, publicitários famosos, jornalistas sérios.
PUB
Não somos.
PUB
Falo da natureza masculina por não ter a certeza de que com as mulheres seja igual. Se for, ótimo. Se não for, explico.
Não há nada mais motivador para um rapaz do que sair de casa e encontrar na rua um outro miúdo com quem possamos ir a jogo. Pode ser à bola, fazer empresas, construir foguetões, pilotar aviões, defender Esparta, disputar uma partida de xadrez.
PUB
Assim somos.
PUB
Nos últimos vinte anos, um desses miúdos que estava sempre disposto a jogar comigo era o Pedro Rolo Duarte.
Nessas duas décadas, poucos foram os projetos em que ele esteve metido e em que, nem que fosse por um brevíssimo momento, eu também não estivesse. E vice-versa.
PUB
Tive o particular orgulho de desenhar um programa de TV que ele liderou (o "Canal Aberto", na RTP) e plantar e regar a ideia que resultaria no DNA (suplemento mítico do Diário de Notícias, que ele dirigiu).
PUB
Curiosamente, pouca gente deu por essa constante parceria. Normal, os miúdos às vezes são assim.
Nunca fomos de partilhar a mesa com mais gente. A nossa forma de nos relacionar sequer incluía amigos comuns. A remexer na memória, encontro um sem-fim de jantares a dois e poucos, muito poucos, momentos em grupo. Nunca falámos sobre isto.
PUB
Mas o motivo deste texto tem que ver com a função original desta coluna, tratar de temas ligados à comunicação.
PUB
Pois a comunicação em Portugal deve muito ao Pedro.
Ele soube formar melhores jornalistas, ouvintes, leitores, telespectadores. Sempre através de veículos bem feitos como a K, o Independente, a Visão, o já citado DNA, o Hotel Babilónia (só para sublinhar os mais notórios).
PUB
Foi um incansável promotor do bom gosto, da inteligência, de um certo cosmopolitismo.
PUB
Foi generoso onde muitos seriam egoístas. Foi líder, agregador, companheiro.
Daí o sem-fim de homenagens que está a receber de tantas pessoas (as mais sinceras e comoventes vindas de quem não conheceu mais do que a sua voz através da telefonia).
PUB
Claro está que a vida continua. No nosso último encontro falámos sobre isto: da necessidade de a vida continuar, da forma que for, do jeito que dá.
PUB
Assim como não escolhemos os nossos amigos do recreio (somos sempre escolhidos) também não podemos decidir quando o pátio ficará cheio ou vazio.
Pois o meu pátio acaba de ficar muitíssimo mais vazio.
PUB
Ou como diria o meu Tio Olavo, citando Mário Quintana, lembrando o eterno jeito de garoto do Pedro: "Todos esses que aí estão/Atravancando meu caminho/Eles passarão.../Eu passarinho."
PUB
Publicitário e Storyteller
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
PUB
Mais Artigos do autor
Mais lidas
O Negócios recomenda