[566.] Millennium BCP: o "novo Mundo"
Esta é uma das mensagens da campanha, centrada na ideia de que, com as mudanças na sociedade e na economia das empresas, vivemos num "novo mundo", e, portanto, era preciso "um novo Millennium".
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Os anúncios só quase referem novas pequenas oportunidades de negócio de pessoas independentes: a "tia" que faz uma horta em vasos na cobertura do prédio na cidade e que precisa duma sinalética a dizer "couve" por não distinguir bem a coisa; o "tio" que abre um hostel, e a "tia" de idade que se torna baby-sitter, etc. Alguns dos negócios podem crescer, como mostra o cargueiro à saída de Lisboa (os navios são uma das metáforas visuais preferidas dos publicitários nos últimos anos para significar "economia a crescer"). Este é o "novo Mundo", diz a campanha, o das pessoas independentes que lançam pequenas iniciativas, não necessariamente empresas. O "novo CEO" é ilustrado pela venda de flores num mercado e alguém perto dum contentor. O "novo mundo" dos negócios sai dos "Facebook e dos Twitter". Negócios sem patrões nem empregados.
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O banco opera uma reviravolta, que o site assume: a campanha "reforça o momento de virar de página que o Banco, as Famílias e a Economia atravessam." No reclame televisivo, o banco diz-se "mais próximo e disponível", humildade que não se lhe conheceu na publicidade.
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O anúncio visa um público-alvo diferente do habitual, esgotado que deverá estar o das empresas grandes, médias e pequenas já estabelecidas e a trabalhar com a banca. Agora são os que procuram oportunidades no "novo mundo" da flexibilidade empresarial, laboral, temporal; os desempregados de classe média das outras empresas e que tentam negócios independentes de patrões, horários, locais de trabalho, código de vestuário, tomada de decisões; os "tios" e "tias" "recibo-verdistas", livres das empresas falidas da família à medida que se fecha o mercado corporativo das elites económicas, desenquadrados da dura competição no local de trabalho e nas empresas convencionais, procurando nichos de mercado, novidades na oferta de produtos e serviços. O anúncio fala, não por acaso, do "virar de página" também para as famílias. A "tia" loura que faz negócio de couves em vasos no alto do prédio representa o nicho: aproveitou, imagino, um espaço que a família já não usava, rega as couves com um vaso cor-de-rosa giríssimo, e, pode depois levar os meninos à escola e essas coisas. O "mano" dela escreve "hostel" num papel e, pronto!, ei-lo de blusão de cabedal - de marca - ao balcão da pequena unidade hoteleira, quem sabe se nos andares de baixo do mesmo prédio. E a "tia" propriamente dita, quiçá a mãe deles, também precisava dum desafogo na mala Chanel, e, que bom, é baby-sitter, ei-la numa montanha russa com a menina cliente.
Tem razão o Millennium: é um mundo novo. Para os clientes e para o próprio banco, mudando de imagem para se adaptar ao "virar de página" das pessoas de carne e osso. Mudando? Bem, as três figuras principais da campanha parecem representar a nova faceta da sociedade conservadora da elite económica de Portugal, que não andou nem deixou andar o país para o capitalismo desempoeirado. Mas são eles, agora, que tomam a dianteira simbólica nestes anúncios. E o banco, com a imagem associada ao capitalismo novecentista dessas famílias grandes e antigas ou às novas elites plutocratas forjadas nos esconsos da política e beneficiando de crédito fácil em salões surdos de tão alcatifados, diz-lhes, também, nesta campanha, por favor mudem, porque o mundo mudou e nós também fomos obrigados a mudar. Vá, tia, plante couves no terraço, tá? Então vá.
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