[723.] Continente, NOS, Meo, Salvelox
E, sim, fizeram. O reclame televisivo do "regresso às aulas" dos hipermercados Continente é protagonizado por crianças que falam para a câmara. São várias. Eu não percebi quase nada do que diziam. Voltei atrás. Pus o televisor mais alto. Revi. E voltei a não perceber quase nada do que dizem os miúdos.
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Será de propósito? Eu sei lá. Tudo é possível na publicidade. Dir-me-ão que os miúdos falam assim. Pois que falem. Mas numa comunicação pública para milhões de pessoas não devem falar sem que possam ser entendidos. Dir-me-ão que o anúncio se destina aos miúdos. Ai é? E quem leva o cartão multibanco para pagar a conta? São os patetas dos pais que aparecem no anúncio, e que os miúdos consideram mais crianças do que elas mesmas. Passam o tempo todo do anúncio indignadas com as cenas ridículas que os pais fazem, como se elas, crianças, ainda fossem crianças. Crianças são os pais, sugere o reclame. E vemos, sim, há tempo para tudo nos anúncios, vemos os pais a fazer umas duas ou três cenas ridículas. Os pais das crianças portuguesas devem ter adorado ver o anúncio em que são ridicularizados e foram todos a correr aos supermercados Continente fazer as compras para o regresso às aulas dos filhos. Claro que foram, dirão os publicitários; as crianças "identificaram-se" com os protagonistas do reclame e disseram aos papás que compras do regresso às aulas - eles é que decidem - só no Continente. E lá vão os patetas dos pais atrás.
Como é que as grandes contas de publicidade nacional têm anúncios destes? Podia falar dos anúncios da NOS. Depois de Nuno Lopes, que quase salvava uma campanha ligeiramente irritante, chegou agora a "segunda temporada", com Bruno Nogueira. Um desastre. Sem graça. Repete o colorido universo onírico da anterior campanha. A dizer que "este Verão vão chover smartphones" quando este Verão o país só quer é que chova chuva para apagar os incêndios. Com uma conversa sem graça sobre coisas que não se percebem. E, depois, agrava-se a situação porque nunca vi uma campanha tão repetida a toda a hora, a toda a meia hora, em tantos canais. Depois de Nuno Lopes e Nuno Nogueira, quem fará a terceira temporada? Será Nuno Markl? Até tremo.
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E depois há aquele anúncio televisivo da Meo também a anunciar telemóveis aos pontapés com uma família debaixo de água a fingir debaixo de água que fala ao telemóvel debaixo de água sem nenhum deles debaixo de água ter telemóvel na mão debaixo de água porque todos estão debaixo de água. É porque é Verão e porque Verão é praia, portanto bastou aos publicitários o gesto dos protagonistas estarem debaixo de água a fingir que falam ao telemóvel.
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Estarão os publicitários a precisar de férias? De praia? De água fria do mar oceano no córtex cerebral?
Ao menos um anúncio dos "pensos hidrocolóides" para "bolhas e roçaduras" da marca Salvelox é tão tonto que até chama a atenção. Mostra em plano aproximado um skate no asfalto e sobre o skate estão os tornozelos e os pés duma mulher, equipada de saltos altos. "Mantém-te em movimento com Salvelox!" Cá está uma aplicação plena do segredo da comédia e de tanta publicidade: exagerar uma situação. Calçada vai no seu skate, Leonor, pelo asfalto. Vai formosa de salto alto!
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"Que nunca pares por te doerem os pés", diz o reclame. Que nunca os publicitários parem é também o meu desejo - excepto no Verão.
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