[564.] Nike, Coca-Cola, Galp: Mundial 2014
São bons reclames, mas, quando comparados com o surpreendente e inovador filme-anúncio da Nike, sobeja o déjà-vu da bandeira nacional, da paixão e do coração.
É um anúncio? É. Também é uma curta-metragem. A Nike surpreende nas campanhas em volta do Mundial com um filme publicitário de cinco minutos de animação digital, tempo suficiente para uma narrativa "cheia", contada ao pormenor, com graça e movimento. Grandes futebolistas do mundo vão "trabalhar para as obras" - Ronaldo vai para manequim numa loja de "Sport-U-Gal" - porque a nova e maléfica equipa de clones arrasa as dos melhores jogadores humanos. Reunidos depois numa única equipa, exibem em campo contra os robots o "plus" perfeição do ser humano, a invenção, a confiança e a imaginação. Os humanos ganham com um golo de Ronaldo. A animação digital é um pouco parecida demais com as das consolas, mas muito bem feita na recriação das fintas e movimentos de jogadores que vemos diariamente nos ecrãs.
Depois de se ver este filme-anúncio, que dizer dos anúncios televisivos portugueses em volta do Mundial, caso dos da Coca-Cola e da Galp? Pensaram: como dizer o mesmo de outra maneira? Como reinventar em novas narrativas as mesmas emoções, a "paixão", o "coração"?
A Coca-Cola foi para a ilha do Corvo, que, recorda Pauleta, é o Portugal que está mais longe do Continente mas mais perto do Brasil. No anúncio, pela paixão pelo futebol e pela Selecção, os corvinos vão desmentindo que a ilha é sossegada, etc. E fazem a festa com a bandeira nacional e a americana Coca-cola.
O anúncio da Galp diz que "Portugal é enorme", assim como o célebre cartaz dos anos de Salazar declarava "Portugal não é um país pequeno". A ideia de que "temos adeptos por todo o planeta" é eficazmente mostrada com imagens da bandeira nacional e da Selecção usadas por estrangeiros em vários pontos do globo (pelo menos duas imagens parecem falsificações digitais, mas, pronto, é publicidade). "Portugal somos todos, os milhões de adeptos de sempre e os milhões que a nós se juntaram", "Portugal já não é só Portugal, Portugal é mundial", diz o anúncio, para contrariar a nostalgia do império —que não nos larga —e para terminar com a ligação à marca: "Galp é Portugal no mundo", assim como o é a Selecção, depreende-se.
As duas marcas procuraram novos ângulos para exprimir as ideias e emoções de sempre quando o futebol galvaniza milhões em torno dos símbolos nacionais. São bons reclames, mas, quando comparados com o surpreendente e inovador filme-anúncio da Nike, sobeja o déjà-vu da bandeira nacional, da paixão e do coração.
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