A política do comércio
Os socialistas francófonos do executivo de Namur tinham manifestado em Abril reservas ao CETA, contando com o apoio de partidos centristas e de esquerda que controlam a Região Bruxelas-Capital (1,1 milhões de habitantes).
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Entre as objecções da Valónia (3,6 milhões de residentes), avivadas pela rivalidade política com o governo central da coligação de direita liderada pelo francófono Charles Michel e os partidos da maioria flamenga (cerca de 6 milhões), contavam-se a exigência de garantias excepcionais de protecção à agricultura e pecuária da região.
Subsídios e excepções diversas poderiam ser comportadas pelo CETA, que Ottawa considera fechado após as negociações que se prolongaram de 2009 a 2014 e esperava assinar quinta-feira, mas outra questão levantada pelo chefe do governo da Valónia revela-se intratável.
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Paul Magnette opõe-se ao previsto tribunal arbitral permanente de 15 juízes escolhidos pela UE e Canadá para dirimir questões entre investidores estrangeiros e estados da UE que adoptem medidas tidas por contrárias aos interesses dos primeiros.
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Este é um dos pontos mais polémicos do CETA pois as decisões vinculativas do tribunal não são susceptíveis de apelo e podem sobrepor-se à legislação dos estados em matéria de regulação ou segurança, por exemplo.
Um acordo global tipo CETA além de abolir quotas e taxas alfandegárias abarca competências de regulação sanitária, ambiental, laboral, protecção de privacidade e direitos intelectuais, que ultrapassam os poderes da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu, obrigando à ratificação pelos Parlamentos nacionais e, no caso de estados federados, das assembleias legislativas regionais.
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A relevância política de tratados comerciais, questão de fundo das objecções da Valónia, foi reiterada pelo Tribunal Constitucional de Karlsruhe na semana passada ao reconhecer o direito da Alemanha recusar a ratificação de um acordo como o CETA.
Os termos em que a ratificação da totalidade ou partes de um acordo comercial possa ser efectuada por mera maioria qualificada no Conselho Europeu e aprovação do Parlamento Europeu aguarda, por sua vez, pela decisão do Tribunal Europeu de Justiça sobre o Tratado de Comércio Livre assinado em Outubro de 2014 com Singapura.
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Para evitar votos negativos na fase de ratificação, o primeiro-ministro Justin Trudeau aceitara este mês, ainda antes de a assinatura do CETA ser posta em causa, conceder à Roménia e Bulgária isenção de vistos de entrada para os seus cidadãos, os únicos portadores de passaportes da UE sujeitos a restrições pelo Canadá.
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A assinatura do CETA está, agora, em dúvida e a ratificação do tratado é incerta o que, somado às polémicas sobre as competências da Comissão Europeia e Parlamento Europeu, afecta acordos concluídos (Vietname), em negociação (Estados Unidos) ou de contornos ainda indefinidos, caso da Grã-Bretanha.
A arquitectura institucional e as questões de soberania democrática da UE são de novo contestadas, acentuando a disfuncionalidade, inoperância e ineficácia políticas.
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Jornalista
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